PEDRO NOVAES (Itapetininga/SP) |
Artigo: ‘A ELITE DA COPA‘
Para se comunicar com o colunista: pedroinovaes - A ELITE DA COPA Pedro Israel Novaes de Almeida Meu relacionamento com o futebol nunca foi íntimo. Nas escolas por onde passei, era praxe os capitães das equipes tirarem, no par-ou-impar, minha escalação. Quem perdia era sentenciado a ter-me na equipe. Jamais consegui torcer por algum time, e passei a vida toda fingindo ser corintiano, pois é inadmissível que algum brasileiro deixe de figurar em alguma torcida. Sempre gostei do espetáculo das partidas, dos bons lances e da maestria dos bons jogadores. Aprendi a admirar Pelé, Garrincha, Tostão, Rivelino, Ademir da Guia e tantos outros, até chegar a Neymar e Messi, dentre tantos. Cheguei à idade adulta entendendo que o futebol é um esporte popular, praticado nos quintais, ruas, várzeas e terrenos baldios, por gente descalça ou mal calçada. Aos poucos, cartolas e suas entidades foram transformando o esporte em modalidade com compartimentos milionários, repleta de ídolos internacionais e cifras gigantescas. Enquanto isso, os pés descalços e os fins de tarde prosseguiram, em seu espetáculo de salutar esporte.A Copa do Mundo foi transformada em evento grandioso, e sediá-la passou a ser o objeto de desejo de quase todos os países. Povos, pobres ou ricos, tentam aproveitar o evento para incrementar o turismo e outros investimentos, e governantes tentam tirar proveito do evento, fazendo-o parecer um favor pessoal, quase messiânico. Para as Copas, países ricos demonstram suas pujanças, e países pobres tratam de ocultar as próprias e conhecidas mazelas sociais, como a insegurança, a pouca educação, a saúde desassistida e a infraestrutura faltante. Países pobres ou emergentes, como o Brasil, chegam ao absurdo de abolir garantias e normas, para submetimento a exigências da FIFA, concedendo-lhe imperial poder. Durante a Copa, foi permitido o acesso de bebidas alcoólicas nos estádios, prática que, a duras custas, havíamos abolido. As redondezas dos estádios não garantiam o constitucional direito de ir, vir e manifestar. De popular, o futebol acabou diminuído a esporte das elites, pois houve diminuição da capacidade dos estádios e brutal aumento dos preços dos ingressos. Refrigerantes e alimentos vendidos nos espetáculos foram tabelados como se presentes em aeroportos e shoppings. Em país de tantas carências, foram montadas pomposas e milionárias estruturas, algumas em locais impróprios, e os recursos, que faltavam a setores essenciais, verteram com generosidade, e dispêndios milionários acautelaram a segurança que nunca tivemos. A imprensa, quase em uníssono, comentou que tal generosidade, que falta aos nacionais, chegou à isenção fiscal do lucro a ser obtido pela FIFA. A chamada “Copa das Copas” não está sendo realizada no Brasil, mas no oneroso cenário montado para olhos estrangeiros. Passada a Copa, voltaremos ao cenário em preto e branco e ao rude cotidiano, com nossas misérias, carências e desgovernos. pedroinovaes O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado. |