Dois artigos na Imprensa Européia enfatizam a derrota brasileira

Um deles afirma:

Num país onde o futebol é uma religião, a goleada é mais do que uma catástrofe. Não se sabe o alcance das suas consequências, mas provavelmente terá consideráveis efeitos políticos e sociais.”

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e outro conclue:

A Alemanha parecia o Brasil (nos melhores tempos), joga com alegria, transmite magia. (…) O Brasil fez uma cirurgia plástica, foi diferente de todos os outros “Brasis” que eu me habituei a ver e a admirar.

Leiam os artigos na íntegra:

Maracanazo foi o adjetivo superlativo que definiu a derrota do Brasil na final do Mundial de 1950. Foi trasladado para a memória coletiva do futebol para representar a surpresa, a dor e a larga ferida de um resultado imprevisto. Parece impossível, no entanto, encontrar uma palavra, um adjetivo, por mais superlativo que seja, que transmita a magnitude da derrota que sofreu ontem o Brasil em Belo Horizonte.

Não há um momento parecido na história do futebol. Sofreu sete golos da Alemanha, cinco na primeira parte, três deles no intervalo de três minutos. Afundou-se diante da sua torcida , minutos depois de jogadores e adeptos terem entoado fervorosamente o hino brasileiro. Rapidamente chegaram os golos, o espanto e finalmente as vaias. Num país onde o futebol é uma religião, a goleada é mais do que uma catástrofe. Não se sabe o alcance das suas consequências, mas provavelmente terá consideráveis efeitos políticos e sociais.

Como sucedeu na goleada que a Espanha sofreu diante da Holanda, o resultado convida mais ao choque do que à análise. O Brasil não jogou bem neste Mundial. Não o podia fazer. Não lhe restava nem um grama da sua velha identidade. Contra a Alemanha faltaram Thiago Silva e Neymar, os seus dois melhores futebolistas. Em 1962, o Brasil perdeu Pelé e ganhou o Mundial. No país mais fértil do futebol não deveria haver lugar para Fred ou para Jo. Não é possível um bom Brasil com Luiz Gustavo, Dante, Paulinho ou o atual Maicon.

A equipa traiu a identidade mais marcada do planeta. E a bofetada foi monumental. No seu campo e no seu Mundial, foi esmagado como uma formiga por um rival que passava a bola e controlava o tempo e os espaços com sabedoria. Essa equipa era a Alemanha, a única que respeitou a herança do velho Brasil.

 

ANÁLISE

Brasil-Alemanha, a história de um naufrágio no Mundial

por RUI COSTA

O jogo da vergonha brasileira passará a ser este da goleada sofrida contra a Alemanha, a maior derrota de sempre da canarinha

Não é de estranhar que ontem os brasileiros, ainda durante a primeira parte, tenham começado a cantar a música de Elis Regina “Alô, alô, marciano, você não imagina a loucura”. E foi mesmo.

Até ontem, o jogo mais traumático para o orgulho brasileiro tinha sido a final do Mundial de 1950, perdido em pleno Maracanã perante o Uruguai. A partir de ontem, o jogo da “vergonha” brasileira passará a ser o da meia-final da Copa 2014, no Mineirão. A maior derrota de sempre da seleção brasileira. Inédito o facto de o realizador televisivo ter de fazer scroll para mostrar os marcadores.

Quando o árbitro apitou para o início do jogo, ninguém poderia imaginar o desastre que aí vinha. Não me lembro de um resultado destes num Mundial, quanto mais numa meia-final. O Brasil foi atropelado por uma Alemanha que apresentou credenciais – como se ainda fosse necessário – para vencer este Mundial.

Jogou como o seu treinador pediu, organizada, comprometida com o seu modelo, compacta e dinâmica. Sabe o que está a fazer, e os seus jogadores completam-se. A Alemanha parecia o Brasil, joga com alegria, transmite magia. Tem o talento dos melhores e o atrevimento que a juventude permite. Jogam como se não houvesse amanhã.

Miroslav Klose foi consagrado como o melhor goleador de sempre em Mundiais, Manuel Neuer apareceu quando tinha de o fazer, o resto foi uma sinfonia de Kross, Müller, Schurrle e Khedira. Escrevi na minha primeira crónica deste Mundial que a equipa alemã nos ganhou (a Portugal) com um futebol moderno e assente em seis campeões da Europa de sub-21, em 2009. Os resultados dessa renovação estão à vista, trouxe outro toque a uma equipa já de si muito fiável.

O Brasil fez uma cirurgia plástica, foi diferente de todos os outros “Brasis” que eu me habituei a ver e a admirar. É como se o fator casa tenha funcionado como inibidor da sua exuberância, a equipa nunca dançou com a bola. Nos Mundiais anteriores não havia manual de instruções, os jogadores estavam entregues ao seu génio e à sua criatividade. Desta vez foi diferente, havia manual de instruções e os jogadores estiveram sempre demasiado presos, nunca arriscaram, nem nunca se exibiram ao seu nível.