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A História da construção bela Matriz de Bom Jesus em Alfredo Wagner

Conhecer a história de um monumento é o primeiro passo para preservá-lo! Nos monumentos se encontram a história dos povos. Sendo assim, publicamos este relato, escrito pelo jovem Historiador, Professor e Regente Juliano Norberto Wagner, sobre a construção da atual Matriz Bom Jesus de Alfredo Wagner que passa por uma ampla restauração. O texto foi publicado no Facebook como comentário as fotos colocadas pelo Sr. Pedro Jayme dos Santos, responsável pela Comissão de restauração do telhado.

Aqui publico sem a devida autorização do seu autor, Juliano Norberto Wagner, pois considero que um relato como esse, que poderia se perder nas postagens da rede social, deva ser amplamente divulgado. Qualquer correção que o autor julgue necessária será logo atualizada.
Mauro Demarchi

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Com a palavra Juliano Norberto Wagner:

O Sr. Balcino Matias Wagner, com quem tive o privilégio de ter desfrutado de sólida e intensa amizade, contou-me sobre a saga que culminou na ereção da Igreja Matriz.

A história é mais ou menos esta: era o ano de 1960; a Paróquia Bom Jesus, fundada um ano antes, tinha como matriz uma pequena ermida, construída em 1927, com porte físico de capela (cabiam pouco mais de 100 pessoas dentro dela). A comunidade se espremia nas missas oficiadas pelo primeiro pároco, Frei Agatângelo, oriundo de Curitiba-PR. Decidiu-se que um novo templo devesse ser construído, no qual coubesse a emergente assembleia. O sacerdote designou uma comissão com o intento de edificar um templo condizente com o elevado número de fiéis. A comissão era liderada pelo benfeitor Izidoro Cechetto. Frei Agatângelo, paranaense, soube que o povo de Irati – município situado a 150 km de Curitiba, declinou de um projeto para construção da Matriz local: seria muito grande e, por conseguinte, demasiado onerosa para o parco orçamento disponível na paróquia. O frade teve uma ideia, e provocou Cechetto: “Izidoro, Irati abandonou a planta de uma grande igreja por não acreditar que conseguisse fundos para a construir. Que achas de nós nos valermos dela para erguer a nossa matriz? Será uma igreja magnânima, aludindo à magnanimidade da fé do povo deste distrito de Barracão!”. Frei Agatângelo conhecia a obstinação do velho italiano, e era cônscio de que ele não se prostrava ante desafios. E deu certo! Izidoro Cechetto, em consonância com seus dois parceiros de comissão, Paulo Bunn e Paulo Schwinden, aquiesceu à proposta, replicando prontamente: “- Frei Agatângelo, a fé de nosso povo suporta uma igreja desse tamanho. Custe o que custar, nós concretizaremos o projeto. Vamos movimentar famílias, homens, mulheres, crianças, e a poremos de pé em pouco tempo!”.

Ao contemplar a adesão da comissão (nome para o hoje CPC), Frei Agatângelo tratou de marcar uma incursão à cidade de Irati, com o intento de apanhar a planta. Foram de jeep o religioso, Izidoro, Balcino Wagner e, se não me engano, Dido Cechetto – na época, um menino. Seu Balcino, homem comunicativo por essência, travou diversos diálogos com a comunidade local, que declarou-se desencorajada a realizar um empreendimento de tamanha grandeza. Em visita à igreja de Irati, ele percebeu uma imensidade de garrafões de vinho armazenados na sacristia. Inquiriu um membro da comunidade: – Tanto vinho aqui guardado… Para quê?

O beato respondeu: – Isto aqui é para uso exclusivo no ofício divino. Temos uma vinha, cuja colheita se destina somente para o sacrifício da missa!

Com a planta na mão, os aguerridos e desprendidos homens retornaram a Santa Catarina. Balcino, oleiro, se comprometeu a, a partir daquele dia, fabricar tijolos suficientes para servirem à construção. Eram tijolos maciços (tenho anotado em meus arquivos quantos foram usados). Em cinco anos (12/06/1960-06/08/1965), a Matriz era inaugurada. Conforme vaticinou Cechetto, a cooperação da comunidade eclesial foi maciça: homens trabalhavam com pás, enxadas e carrinhos de mão; crianças recolhiam pedrinhas no rio, para o fundamento (eram recompensadas com santinhos em papel doados por Frei Agatângelo e, posteriormente, Pe. Cristóvão Freire Arnaud).

A igreja, com pé direito de quase 25 metros, apresentava, na época, um desafio à engenharia e aos construtores. A planta, que fora desenhada por um padre alemão (esta informação carece de confirmação), teve como engenheiro responsável o Dr. Antônio Carlos Werner. A família Zilli, afamada pela perfeição na arte da construção em alvenaria, foi requisitada para levantar a imponente obra, chefiada pelo exímio mestre de obras José (Bépi) Zilli.

As famílias locais, como os Kretzer, os Almeida, os Schweitzer, José de Campos, Nena Frutuoso, entre muitas outras, doaram desde as chaves até vidros para as janelas. Com muito custo, em 1965 a Matriz era declarada apta para a realização do ofício divino. A planta previa uma altíssima torre, na parte de trás esquerda (onde hoje se encontra o Salão Paroquial). Izidoro e seus companheiros contabilizaram que o valor a ser gasto nessa torre quase se equipararia ao da igreja na totalidade. Decidiu-se omiti-la provisoriamente e, quando sobrassem recursos, a ergueriam.

Quem sabe agora, passados 50 anos da inauguração, a comunidade católica de Alfredo Wagner se dê as mãos novamente, tal qual fez entre 1960 e 1965 e, guiada pelo espírito obstinado do Sr. Pedro Jayme Dos Santos e equipe, se encoraje para edificar a alta torre. Será, esteticamente falando, a cereja do bolo da nossa igreja. Avante, Alfredo Wagner!