Foie gras e irracionalidade

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02-09-2015
Foie gras e irracionalidade
Gregorio Vivanco Lopes

Os gregos antigos ficaram conhecidos como os pioneiros da filosofia; os romanos pelo seu corpo de leis; os medievais pelo seu cristianismo autêntico, que inspirou a filosofia escolástica e a arte gótica. Os séculos futuros poderão classificar nossa época como a da irracionalidade total.

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A cada dia se nos impõe uma nova insensatez. Seja nas modas, no plano intelectual, nos costumes, nas leis que vão sendo aprovadas.

Evidências de furar os olhos e sobre as quais se assentaram durante milênios todas as civilizações, mesmo as mais diferentes e até opostas, são agora alegremente (ou imbecilmente) contestadas, apesar de decorrerem da própria natureza das coisas

Não, caro leitor, não vamos falar aqui da teoria de gênero. Poderíamos nos referir a ela, mas não é o nosso tema de hoje.

Vamos tratar de um assunto culinário, pois até lá chega a irracionalidade. Trata-se da proibição do foie gras (fígado gordo), uma iguaria muito apreciada.

O que é o foie gras? É um patê gorduroso feito com o fígado dilatado de patos, gansos ou marrecos. Essa dilatação pode ser o resultado orgânico de uma ave que se alimentou a seu bel-prazer e engordou muito, como pode também ser induzida, fazendo com que as aves sejam submetidas a uma vida confinada com alimentação forçada.

Quem não gosta de uma camada de foie gras no pão, seja no café da manhã ou como antepasto? Seria um erro achar que é uma iguaria apenas dos ricos. Quantos camponeses por esse mundo afora, e não só na França, criadores de aves, se beneficiam de vez em quando do foie gras extraído de um de seus animais mais gordos!

Pois bem, agora a Prefeitura Municipal de São Paulo aprovou uma lei proibindo o consumo de foie gras! Ele decorreria de uma crueldade para com as aves!

Poder-se-ia argumentar que alguns métodos de alimentação de animais são tão artificiais que, pelo que têm de exagerado, atentam contra a própria racionalidade humana. A admitir-se essa possibilidade, seria o caso então de proibir esses métodos, mas não de proibir toda e qualquer comercialização do foie gras.

Não vamos nos deter no aspecto legal, pois uma lei desse tipo só teria sentido se promulgada no âmbito federal. É ridículo obrigar o paulistano a deslocar-se até um município vizinho, como Guarulhos ou São Caetano, por exemplo, para servir-se de foie gras.

Segundo historiadores, os primeiros foie gras datariam de três mil anos antes de Cristo e teriam sido detectados pelos egípcios em gansos selvagens, imigrados às margens do rio Nilo. Os egípcios concluíram que algumas espécies de aves migratórias poderiam se superalimentar naturalmente, para conseguir sobreviver durante o inverno, ou para enfrentar longos trajetos migratórios. Eles começaram então a desenvolver a prática da engorda dos gansos, de maneira a obter o foie gras.

O foie gras também é citado na época romana. Horácio descreve um magnífico banquete, no qual o fígado de um ganso branco engordado com figos estaria no menu.

O chefe de cozinha Gabriel Matteuzzi, formado na Escola Hofmann, em Barcelona, explica que a engorda ou confinamento de animais não se aplica apenas aos patos e gansos, mas também aos bovinos, galinhas e perus, para que deem mais carne. “Vamos proibir tudo isso? Vamos proibir a pesca de arrastão, porque prejudica nossa fauna marinha? […] Essa lei abrirá precedente para futuras leis? Ou simplesmente estamos perdendo nosso poder de livre-arbítrio?” questiona ele. (“Folha de S. Paulo”, 23-5-15)

A proibição do foie gras é mais um exemplo da influência deletéria exercida por certa corrente ecologista radical que nega o preceito bíblico de que os animais devem estar submetidos ao homem e servi-lo. Para essa corrente, haveria uma igualdade de direitos entre homens e animais, o que é frontalmente contrário à ordem da Criação e ofende o Criador.

Relata a Sagrada Escritura: “Então Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastem sobre a terra’" (Gen. 1,26).

(*) Gregorio Vivanco Lopes é advogado e colaborador da ABIM