Memória Sociedade

História: dinossauros, índios e imigrantes

mesosaurusQuando os continentes ainda eram unidos e a natureza inóspita e primitiva, nossa região foi percorrida por bandos de mesossauros, um tipo de réptil que apareceu no período carbonífero e sobreviveu até o período triássico, ou seja, há 200 milhões de anos.
Um fóssil do mesosaurus brasiliensis foi encontrado no município de Alfredo Wagner em 1990 por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina.
Os mesosaurus, quando adultos, alcançavam um metro de comprimento, tinham patas com membranas interligadas e longa calda. Cataclismos naturais ocorridos no fim do período triássico fizeram com que espécies desaparecessem, soterrados em lama e lava vulcânica.
fossil-pangeaNaquela época havia apenas um continente chamado Pangeia.
Separados os continentes por novos e contínuos cataclismos, outras espécies foram surgindo e o ser humano por aqui começou a circular, seguindo os animais que fugiam de suas caçadas.
Peças de artefatos descobertas em sítios arqueológicos em Alfredo Wagner são indícios de que em épocas distintas várias nações indígenas ocuparam estas terras.
Altair Wagner no livro “Alfredo Wagner: Terra, Água e Índios” relata que por aqui passaram indígenas das tradições Taquara, Umbu, Guarani, Xokleng, Kaigang (parentes dos Xokleng, mas seus ferrenhos inimigos). Também por aqui passaram índios da tradição Humaitá, cuja característica é a produção de artefatos em forma de bumerangue e da tradição Alto-paranaense com características semelhantes a tradição Humaitá na fabricação de peças de pedra.

Homens Xokleng em foto posadaFalemos dos Xoklengs, últimos conquistadores e senhores absolutos destas terras antes da chegada dos imigrantes.
Pesquisas arqueológicas mostram que Xoklengs foi uma das últimas grandes nações da primitiva América.
Acostumados a vencer e expulsar seus inimigos, não contavam com a persistência e as armas dos imigrantes.
Os índios Xoklengs viviam em pequenos grupos ao longo dos campos da serra, vales litorâneos e bordas do planalto sul do Brasil.
Estes grupos tinham grande mobilidade, indo e vindo pelas matas e perais.
Os diversos grupos se reuniam apenas uma vez por ano para uma grande cerimônia.
Os Xoklengs não cultivavam a terra. Viviam da caça e da exploração de frutos dos lugares por onde passavam. Não possuíam sistema de escrita e como outras tribos suas tradições eram transmitidas oralmente.
Sua arte se resumia a poucos sinais e trançados em esteiras e poucos adereços.
Segundo pesquisas recentes descobriu-se que os índios Xoklengs dominaram esta região por mais de 3 mil anos.
“Dominaram” não é eufemismo… esta etnia soube manter-se contra invasores, sem utilizar-se da guerra, mas de uma arte de guerrilha que confundia e assustava aos invasores.
Muito inteligentes, os Xoklengs utilizavam-se de técnicas de combate específicas para aterrorizar e espantar as tribos nativas ou invasoras.
Era a mulher, entre os Xoklengs, quem decidia onde parar e quanto tempo ficar numa certa região. Por isso, os índios procuravam aterrorizar principalmente as mulheres de outras tribos, evitando o combate frente a frente com os homens.
Esta técnica surtiu efeito com todas as tribos indígenas, onde a mulher é quem decidia, mas não com a mulher do imigrante branco.
As mulheres que chegaram com suas famílias para colonizar estas terras, eram tão guerreiras quanto seus maridos, pais e irmãos, sabendo manejar as armas do mesmo modo que sabiam usar machados e enxadas ou a linha e agulha.
Quando os índios Xoklengs perceberam que a guerrilha usada para espantar as mulheres não surtiu efeito, mas provocou uma reação de defesa, passando a ser de perseguição e guerra, procuraram fazer as pazes com os imigrantes e a partir de 1910 as relações começaram a melhorar entre índios e brancos.
A partir daí, começaram as miscigenações entre as etnias.
Um exemplo deste bom relacionamento entre índios e colonizadores pode ser visto em Bom Retiro, município ao qual Alfredo Wagner pertencia até a sua emancipação. O governo destinou nos anos 30 do século passado uma grande área para ocupação dos Xoklengs.
image007Quando os índios terminaram a derrubada da mata e a venda da madeira, foi destinada duas outras áreas que também, em poucos anos, foram desmatadas.
Não restando mais nenhum dos antigos Xoklengs naquelas terras, apenas seus descendentes, foi destinado a cada uma das famílias remanescentes, uma casa no centro de Bom Retiro com o respectivo terreno. Ainda hoje vivem algumas destas famílias.
Um fato muito curioso e que merece registro: um carpinteiro, neto de alemães, foi contratado para ensinar aos índios a construção de casas de madeira e ajudá-los naquela tarefa.
O carpinteiro havia recém enviuvado ficando com filhos pequenos, ele se encantou por uma índia Xokleng que lhe correspondeu e ambos passaram a viver juntos. O filho deste carpinteiro contou que era costume na época (para proteger os índios) fazer um contrato de união por um ano. Findo o prazo os dois formalizavam a união. E foi o que aconteceu, se casaram. Os filhos primeiros de ambos se davam muito bem, o mesmo se dando com os filhos que o casal teve depois.
Atualmente a pesquisa sobre as diversas etnias que se fixaram ou apenas passaram por Santa Catarina está muito desenvolvida e a bibliografia é abundante, razão pela qual neste texto deixamos de citar as referências que sustentam nossas afirmações. Em próxima edição faremos um resgate de fatos contados por antigos alfredenses e recortes de revistas e jornais da época.
Até lá!

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