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Campo dos Padres: mítico e deslumbrante

Juliano Norberto Wagner, em artigo para a edição do Jornal Alfredo Wagner de abril de 2012 descreve os mistérios e as maravilhas do Campo dos Padres.

Na edição anterior, meu irmão, George Wagner, trouxe aos leitores deste Jornal uma narrativa da expedição que ele e seus amigos empreenderam, há alguns meses, à Serra do Campo dos Padres.

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Conhecedor da região que sou, já tendo lá estado por 23 vezes – 20 a pé e três a cavalo, tendo subido já por sete trilhas diferentes – interessei-me profundamente pela reportagem e pelas fotos, e resolvi compartilhar, nesta edição, um pouco do que sei sobre o Campo dos Padres.

A região – que compõe a Serra Geral e possui a terceira maior altitude do estado (1.791 metros no cume do Monte Lajeado) – caracteriza-se geograficamente por superlativos. É envolta em mistérios que, aliados à beleza cênica dos picos e despenhadeiros, permeiam gerações de alfredenses, tornando o Campo dos Padres área de interesse singular.

Em meados dos anos 1940, o jovem Arno Jung foi visitar parentes em Lomba Alta, donde se pode visualizar exuberante panorama da Serra Geral. Relatou ao seu tio Olíbio Leandro Wagner (Lili) uma série de histórias interessantes relacionadas àquelas montanhas. Essas histórias eram contadas pelos fregueses da loja de seu pai, Evaldo Jung (atual Casa Iung), e o deixavam deveras curioso: aparições, tesouros supostamente deixados pelos padres, abismos colossais… Descreveu entusiasmado ao tio Lili três estruturas com formato humano, compostas por quatro pedras cada uma e medindo cerca de cinco metros, situadas entre dois altíssimos peraus. Eram as legendárias “Três Bonecas”, das quais hoje restam apenas duas, e cuja localização difícil e perigosa só permite trânsito aos mais dispostos e corajosos.

As Bonecas realmente impressionam. Assentadas sobre um estreitíssimo platô ladeado por escarpas donde caem abismos de mais de 300 metros, elas proporcionam visão panorâmica espetacular. Realmente lembram figuras humanas (duas pernas, tronco e cabeça), sugerindo terem sido edificadas por civilizações que nos precederam. Certamente, muito em breve serão material de pesquisa para cientistas e estudiosos.

Podem, contudo, simplesmente ser obra da natureza, resultado de milhões de anos de erosão, vento, intempéries…

No rigoroso inverno de 1955, o menino Jayme Cunha, que passava uns dias na casa de seus tios Evaldo Jung e Alvina Wagner Jung, notou que as pessoas, na Rua do Comércio (na época, Estrada Geral de Barracão), olhavam admiradas para o sul.

Dirigiu-se ele à estrada, onde teve uma extraordinária visão: a Serra amanhecera coberta pela neve! Passou-se uma semana, e nada dela derreter, mantendo brancas as montanhas no horizonte. Caminhões vindos de Urubici traziam, sobre suas cargas, grandes blocos de gelo que seus motoristas apanhavam no Pericó ou no Panelão. Estacionados aqui no Barracão, chamavam a atenção da comunidade. Tamanho era o frio que esses pedaços de gelo eram mostrados incorruptos, embora significativamente menores, em Florianópolis (lembrando que na época a estrada era de chão, o que acarretava em horas de viagem).

A origem do nome Campo dos Padres é sugestiva. Quem teriam sido os tais sacerdotes, quando lá estiveram e o que fizeram num lugar tão inóspito? Pesquisei sobre o assunto desde os doze anos, e só há pouco tempo, com o advento da internet, pude obter respostas plausíveis.

Falarei na próxima edição sobre os padres do Campo dos Padres, bem como da “descoberta” da Serra pelos colonizadores. Quando e por quem foi aberto o primeiro carreiro de acesso? Quem construiu as seculares taipas de pedra, até hoje zelosamente mantidas pelo proprietário Saulo Iung? Quem derrubou a terceira Boneca e por quê?

Quais eram as visagens que o primeiro dono do terreno enxergava? Na revolução de 1964, é verdade que comunistas se esconderam lá em cima? Sobre essas e outras questões discorrerei no mês seguinte. Até lá!

Colaboraram nas informações: Jayme Arthur Cunha e Altair Wagner.