João de Barro

No IV Encontro Catarinense de Escritores em 24 de novembro de 2012 recebemos aqui em Alfredo Wagner escritores da Associação Lageana de Escritores. Ficou na memória de todos a bela declamação por Sebastião Araújo Godoi de seu poema João de Barro. Na ocasião, inédito ainda naquela data. Hoje, publicado, damos aos nossos leitores os versos tão rimados e cheios de inteligência.

Sebastião Araújo Godoi

Jo%C3%A3o+de+Barro_Blog.JPGJoão de Barro é o construtor
De seu próprio apartamento.
Ali não vai pedra brita,
Nem areia nem cimento,
Faz piso parede e teto
Sem desenho de arquiteto,
Mas com padrão de acabamento.

O lote não tem divisa
Nem contrato ou escritura,
Não depende de licença
Do IBAMA ou da Prefeitura.
Nessa rude construção
Não tem fiscalização
Que desaprove a estrutura.

Na fundação não tem cepo
Não tem viga, nem barrote.
Não usa enchó, nem machado,
Nem martelo, nem serrote
Na construção da morada
Pra viver com sua amada,
E cuidar dos seus filhotes.

A casa do João de barro
Tem somente uma abertura,
Sem prego, sem dobradiça,
Sem trinco, sem fechadura,
Mas nem portão monitorado
Nem condomínio fechado
Tem morada mais segura.

João de barro faz o rancho
Com rigoroso capricho,
Lá não tem conta de luz
E nem coleta de lixo.
Ao longo desse Brasil,
Nunca a defesa civil
Condenou a casa do bicho.

Ali não tem desavença,
Nem discórdia ou arrelia,
Tudo é feito com amor
Na mais perfeita harmonia.
Não tem traição, nem segredo,
Por isso de manhã cedo
Ele canta de alegria.

Não tem conta pra pagar
Nem título a receber,
Não tem bronca com vizinho
Nem processo a responder.
Toda família faz festa
E o construtor da floresta
Se desmancha de prazer.


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