PARA SABOREAR
O alimento na literatura: uma questão cultural
Será lançado no fim de setembro o livro “O alimento na literatura: uma questão cultural”, de Daniela Bunn. O livro é parte de uma pesquisa de Doutorado, portanto tem seu vigor teórico, mas ao mesmo tempo tenta ser lúdico na medida em que apresenta excertos de outros livros nas laterais, trata de metáforas alimentares, discute a ilustração no livro infantil. A publicação é mediada pela Fundação Catarinense de Cultura, pois o livro foi selecionado para receber o Prêmio Elisabete Anderle de Literatura, em 2014.
O texto traz uma pesquisa de como o alimento aparece na literatura infantil atual (se de forma estética ou pedagógica) e faz um retrocesso até os contos de fadas: o alimento como algo simbólico nas histórias (a maçã em Branca de Neve, a cesta, em Chapeuzinho Vermelho, o comer e o devorar em várias das histórias clássicas). A pesquisa entende esta presença do alimento como algo cultural, adaptado em muitas traduções e modernizado nas histórias atuais: a Chapeuzinho de hoje, em muitas histórias, traz Maionese Helmans, Danone, pão de queijo, cápsulas de legumes em sua cesta, dependendo do tempo e do espaço da narrativa, bem diferente da primeira compilação francesa na qual a menina levava vinho e croissant para sua avó. Afinal, levar uma garrafa de vinho para a vovó doente não é mais tão comum. Ou será que é?
A pesquisa também avalia a estilização das ilustrações do Lobo Mau e da Chapeuzinho, é a história mais comentada ao longo do livro, sempre num paralelo das compilações e ilustrações clássicas às mais atuais. Devemos ver as ilustrações de livros infantis com olhar atento, pois revelam coisas que não estão no texto.
O sumário do livro é um cardápio, como se o leitor pudesse degustar cada capítulo. Cada capítulo apresenta uma música-tema, como se o livro tivesse sua própria trilha sonora. A alma do livro é um banquete farto de histórias, discussões teóricas, referências, possibilidades metodológicas, excertos, de uma grande insaciedade, de gula, de excesso no qual se trabalha muito com o olhar do leitor, com o estranhamento das palavras, das imagens e das imagens mentais geradas pelas palavras.
Na Idade Média, entendia-se que a gula teria uma natureza contaminadora e que desviaria a atenção do indivíduo, tornando-se substituta das coisas sagradas, por isso comer em excesso era pecado. Ao se tratar de devorar livros, a gula nunca é excesso. Do privilégio de comer em excesso à escassez de alimento temos um longo percurso. Desde os contos clássicos da tradição oral, compilados por Charles Perrault, Irmãos Grimm ou escritos por Hans Christian Andersen, o alimento e o ato da devoração estão presentes em muitas histórias. Toma-se, nesta pesquisa, o ato de comer em uma dimensão estética e histórico-cultural, nas mais variadas versões das histórias clássicas.
O estudo transita por metáforas alimentares que pensam o alimento na literatura e a literatura como alimento, em discussões teóricas que tomam o livro literário como atrativo e nutritivo num percurso histórico da fome e do desejo de comer, do estranhamento, da comensalidade, da devoração cultural e de uma educação alimentar e literária. O livro destina-se a professores, alunos de Letras, Pedagogia, Nutrição, Filosofia, Sociologia, bibliotecários e comunidade em geral interessados nessa fascinante temática: o alimento como uma questão cultural. Coma em excesso e divirta-se com a trilha sonora enquanto degusta cada capítulo.
Lançamentos
Dia 26 de setembro às 18h30min
Hall do 1º Andar do Centro de Cultura e Eventos (UFSC), em Florianópolis, no 7º. Seminário de Literatura Infantil e Juvenil
Dia 29 de setembro das 18h30min às 20h Sur Livraria, Centro Cultural São Jorge (https://www.facebook.com/saojorgeorganicos/) Rua Brejaúna, 43 Itacorubi, Florianópolis
No dia 26, a autora lançará também outro livro, do qual contribuiu com um capítulo, intitulado “Texto e imagem: a intertextualidade, o estranhamento e os gêneros textuais no cotidiano escolar”. O livro Literatura Infantil e Juvenil: do literário a outras manifestações estéticas, foi organizado por Eliane Debus, Dilma Juliano e Nelita Bortolotto.
Aguardem: em outubro, lançamento em Alfredo Wagner!
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