Não se combate o que não existe. Ideologia de gênero: contra fatos não há argumentos
Desconfigurar a identidade da criança com uma teoria de gênero que não tem respaldo científico é atentar contra a Humanidade. É por em risco a saúde mental das pessoas. Defende-se até a pedofilia
Sandra Lima de Vasconcelos Ramos
Chega de ficar em silêncio. Precisamos bradar aos quatro cantos que há um lindo cavalo de madeira no pátio da escola. Ele é grande, suntuoso e nada se parece com um espantalho produzido para estabelecer pânico social. Muito pelo contrário. Trata-se de um cavalo magnífico, feito para encantar desavisados professores, coordenadores, gestores e reprogramar crianças.
Um cavalo que traz sobre o dorso uma sela cuidadosamente trançada e multicolorida como símbolo das diferentes culturas e da diversidade de gênero. Como um presente de grego, esse Cavalo de Troia chega com nobres intenções: acabar com o preconceito contra os diferentes, construir relações de gênero mais justas e ressignificar as práticas sociais por meio da construção de uma cultura de paz.
Entretanto, estas supostas boas intenções, quando analisadas de perto, não combinam com as aspirações das famílias dos alunos e não as convencem. Também, não são aceitas como válidas por parte considerável dos professores. A natureza impositiva dessa ideologia e seus interesses conhecidos, mas não declarados, acabam gerando uma verdadeira guerra ideológica com as famílias, pela primazia da educação das crianças.
Esse magnífico presente que adentra à escola, símbolo da suposta defesa dos direitos humanos, trouxe em seu interior “a maldita e mal dita” ideologia de gênero — expressão usada por um professor de Goiânia (Thiago Cazarim). Mas como os soldados dentro do Cavalo de Troia, essa ideologia se materializa em militantes armados em suas línguas ferinas prontas para acusar, difamar, desrespeitar e difundir o preconceito contra a família tradicional e os religiosos cristãos. Eles estão prontos para agredir verbalmente, e quiçá, fisicamente, quem não idolatra a estátua de madeira que ameaça confundir as identidades de crianças indefesas e inocentes.
Estamos cansados do mesmo discurso: “Não existe ideologia de gênero”, “Isso é invenção dos fundamentalistas”, “Não existe essa intenção de querer ensinar às crianças que elas não nascem meninos ou meninas. Queremos apenas discutir as relações de gênero”.
Reais intenções
A quem desejam enganar os ideólogos de gênero? E quem eles chamam para defendê-los? Justamente Gramsci, Butler, Marx, Beauvoir? Exatamente os militantes assumidos do ideário de gênero? O que é isso? Confissão ou delação premida? E qual é o prêmio? Destruir a família tradicional ou burguesa, um dos principais alvos marxistas, proclamado no Manifesto Comunista.
Desarmem-se dos subterfúgios. Assumam suas reais intenções.
Temos provas da ideologia de gênero — e agora, as “provas” se revelam num concurso público. Acaso a sociedade aprova essa prova que sumariamente reprova? Que põe no lixo o princípio da isonomia de um concurso público? Por que reprovar os diferentes? Não é contra isso que, inclusive o movimento sindical tem lutado?
Vamos aos fatos. Contra fatos não há argumentos.
Tomaremos para isso somente um livro: o “Guia Escolar” — documento elaborado e publicado pelo MEC (http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=32151-guia-escolar-rede-de-protecao-pdf&Itemid=30192) que se propõe a ajudar no combate à violência sexual contra crianças, numa rede de proteção à infância. Piada de muito mau gosto. Observem atentamente o documento:
Página 51: “Os objetivos do trabalho de educação em sexualidade são: […] estimular a tomada de decisões autônomas e responsáveis, priorizando o direito ao prazer e ao bem-estar sexual”. Priorizando o direito ao prazer, na infância?
Página 52: Eixos básicos de conteúdos para se trabalhar a sexualidade na infância: “[…] o corpo em sua dimensão erótica e reprodutiva e como fonte e matriz da sexualidade e as relações de gênero, que são o conjunto de representações sociais e culturais construídas a partir da diferenciação biológica dos sexos”. (Olha a “teoria queer” — defendendo que a sociedade é quem produz as sexualidades!)
Página 54: Para se discutir sobre sexualidade, “É importante construir com os estudantes, desde o primeiro encontro, uma relação de convivência entre os participantes, de forma a garantir o sigilo e a privacidade”. Sigilo? Privacidade? As famílias brasileiras aceitam essa sugestão? Que seus filhos crianças conversem sobre sexo na escola de forma sigilosa e privativa?
Pedofilia
Página 55: “Aos educadores, cabe acolher as manifestações da sexualidade infantil e sua curiosidade sexual, suprindo as lacunas de informação, muitas vezes decorrentes da falta de orientação e de diálogo na família. Esse trabalho se dá em todos os momentos e espaços de convívio do adulto com a criança, não apenas em horários e locais predeterminados.” Não apenas em horários e locais predeterminados? Falar com a criança sobre a sexualidade dela fora do ambiente e do horário escolar? Não estaremos aqui tornando a criança vulnerável à pedofilia?
Mas veja só! O Guia também trata de pedofilia:
Página 74: “[…] a pedofilia é considerada uma psicopatologia, uma perversão sexual de caráter compulsivo e obsessivo. Contudo, existem posições contrárias a essa visão. Grupos internacionais de pedófilos vêm se organizando em associações e redes que se multiplicam por todo o mundo, principalmente após o advento da Internet. Eles não concordam com as bases morais e legais que proíbem relações sexuais entre adultos e crianças ou adolescentes, defendendo o ponto de vista de que esse tipo de relacionamento é uma opção sexual e um direito.” — Uma verdadeira apologia à pedofilia!
Página 73: Ao falar sobre as bases jurídicas que impedem a prática do incesto, o “Guia Escolar” afirma: “Esse tipo de interdição transformou a prática do incesto em tabu, tornando o tema controverso e impondo obstáculos a uma abordagem isenta de julgamentos morais. De fato, não se sabe precisar a origem ou a causa da proibição do incesto. […] O que sobressai nessa discussão é a força do tabu, conferida pelo seu significado no imaginário social.”
Aqui podemos ver as claras intenções desse grupo de ideólogos: doutrinar as crianças a todas essas práticas sexuais. Não se trata de discutir relações de gênero. Trata-se de erotizar crianças e estimular práticas sexuais das mais diversas ainda na infância.
Do mesmo modo que sabem mencionar a Constituição Federal e evocar o direito dos novos arranjos familiares, esses ideólogos deveriam respeitá-la em seu Art. 229: “Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores […]”. Os pais devem educar, a escola deve instruir.
Deveriam também respeitar a Convenção sobre os Direitos da Criança (Decreto Legislativo n° 28, Art. 3, de 14 de setembro de 1990), “Os Estados Partes se comprometem a assegurar à criança a proteção e o cuidado que sejam necessários para seu bem-estar, levando em consideração os direitos e deveres de seus pais, tutores ou outras pessoas responsáveis por ela perante a lei e, com essa finalidade, tomarão todas as medidas legislativas e administrativas adequadas.”
Tratar de sexualidade na infância da forma como os ideólogos de gênero pretendem configura-se em crime contra a infância.
Observemos também o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): Art. 17. “O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.”
Desconfigurar a identidade da criança com uma teoria de gênero que não tem respaldo científico é atentar contra a Humanidade. É por em risco a saúde mental das pessoas.
O ECA, Art. 79 diz também que: “As revistas e publicações destinadas ao público infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco, armas e munições, e deverão respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família.” Portanto, usar livros didáticos, literatura suplementar ou cartilhas financiadas e produzidas por ministérios e secretarias estaduais e municipais contendo ideologia de gênero é um desrespeito aos valores morais e éticos da pessoa e da família.
É bom deixar claro, para os leigos no assunto, que pressupostos teóricos como os da “teoria queer” de subversão das identidades e das culturas que alimentam a Ideologia de Gênero e aparecem na prova elaborada pela UFG para o concurso da Prefeitura de Goiânia, não combinam com a necessária defesa do respeito humano às pessoas LGBTTT e às mulheres.
Quando aqui me posicionei indignada com a doutrinação ideológica contida nas provas do concurso de Goiânia, não me senti uma alienígena nessa questão. Mesmo porque a educação é um bem que pertence a todos nós, sejamos professores em Goiânia, Teresina ou qualquer lugarejo do mundo. Nós, professores, profissionais de uma mesma classe, precisamos nos unir em prol de uma educação que se esforce pela isenção doutrinária.
Essa é a nossa bandeira — a bandeira do Brasil. Ela não é vermelha e nem tem as cores do arco íris, mas é a única que representa os anseios da maioria dos brasileiros.
Sandra Lima de Vasconcelos Ramos é professora e pesquisadora da Universidade Federal do Piauí, psicopedagoga, mestre e doutoranda em educação.
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