O Império do Brasil (1822 a 1889) unificou as fronteiras, deu identidade à nação e iniciou uma fase de grande crescimento e progresso do povo brasileiro.
Bem no centro da atenção imperial em terras catarinenses estava a Colônia Militar Santa Thereza, criada pelo decreto nº 1266 de 8 de Novembro de 1853. Outra colônia militar, também denominada Santa Thereza e cuja criação serviu de modelo para a nossa, hoje é a grande cidade de Imperatriz no Maranhão. A disposição de colônias militares em pontos estratégicos do território brasileiro teve por objetivo proteger moradores, tropas e o livre acesso entre as províncias.
Nem Dom Pedro II e nem mesmo Luís Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias (responsável direto pela criação da Colônia, enquanto Ministro da Guerra) estiveram em Alfredo Wagner, porém, sua atenção e cuidados com este pedacinho do império eram grandes.
Consta que a Imperatriz Dona Tereza Cristina enviou objetos sacros para a Capela dedicada a Santa Tereza, fato que até o momento não consegui identificar sua fonte histórica. Porém, a história oral também é fonte de fatos e informações e tem seu valor.
A história deste período é rica e variada e pode ser pesquisada em documentos oficiais do Império e notícias em jornais. O Império do Brasil tinha uma política muito transparente e todas as suas resoluções eram publicadas em jornais cotidianos da capital federal (o Rio de Janeiro) ou nas capitais das províncias. Através destas publicações pode-se ter um relatório do dia-a-dia da vida oficial do Império.
A Colônia Militar Santa Thereza (hoje Catuira) frequentemente entrava nos noticiários devido a importância de sua posição estratégica entre a Capital do Estado, Nossa Senhora do Desterro, e a cidade mais importante (naquele momento) do interior catarinense, a Villa de Nossa Senhora dos Prazeres, hoje Lages.
Através de noticias publicadas em jornais como “A Regeneração”, “A Verdade”, “O Conservador”, “O Despertador”, etc, é possível acompanhar o desenvolvimento da colônia militar. Pouco a pouco ela vai crescendo em importância e população, forçando mesmo a abertura da futura BR 282, para que sua produção pudesse ser comercializada na capital do Estado.
No período de 1870 a 1879 encontramos 161 ocorrências em 7 jornais e 21.978 páginas para o termo Colônia Militar Santa Thereza. Eis um exemplo interessante:
À directoria geral da fazenda provincial, n. 289 – À Ramires Jose Ferreira, colono da colonia militar de Santa Thereza, mande, vmc. pagar a quantia de 16$000 rs. constante da inclusa guia, devida pela conducção da mala do correio entre esta capital e a cidade de Lages, no corrente mez.
São muitas as informações que podemos obter sobre a Colônia Militar Santa Thereza nos documentos e jornais do período imperial.
O Império caminhava passo-a-passo, e nossa Colônia o acompanhava, em direção ao progresso institucional, econômico e material que o golpe militar de 1889 interrompeu drasticamente.
A Colônia Militar Santa Thereza, por ser instituída oficialmente como um local do Exército Brasileiro, recebia subvenção do Estado, os soldados-colonos recebiam pagamento mensal e terras para cultivar, cuja propriedade eram passadas a seus nomes após um certo período de tempo. Muitas notícias nos informam que o Governo enviava também para as colônias militares (incluindo a futura Catuíra) sementes e mudas para o plantio.
O ponto onde foi fundada era estratégico: quem vinha pelas Demoras (um dos trajetos mais usados) descia cerca de 300 metros até o vale do Rio Itajaí do Sul e quando se dirigia para Lages, seguindo o Barro Branco ou em direção ao Campinho, subindo outros 300 m. A instalação da colônia neste vale, afastou o risco de ataques indígenas para caravanas e tropas.
O sucesso da Colônia Militar Santa Thereza era tanto que foi apresentada em livro publicado especialmente para a participação do Brasil na Exposição Universal de Filadélfia, nos Estados Unidos, com descrição de sua produção, localização, aspectos físicos etc.
Como historiador e pesquisador da história de Alfredo Wagner, após ler centenas de jornais da época, chego a conclusão que a proclamação da República não foi apenas péssima para o Brasil, foi também péssima para o Estado de Santa Catarina e para a futura Capital das Nascentes.
A implantação da República foi traumática em todo país e principalmente aqui em Santa Catarina. A fortaleza de Anhatomirim foi testemunha do fuzilamento de 185 presos-políticos monarquistas, assassinados por ordem do republicano Floriano Peixoto pelo coronel António Moreira Cesar.
O município de São José (a que pertencia a Colônia Militar Santa Thereza) e cuja liderança monarquista fora toda assassinada em Anhatomirim, foi desmembrado e dividido, ficando reduzido a um pequeno pedaço a beira-mar. A Colônia Militar foi extinta poucos anos depois e a localidade renomeada para Catuíra, passando a pertencer ao município de Bom Retiro.
Pouco depois, a estrada Desterro/Lages foi desviada para caminhos “melhores”, levando a antiga colônia ao abandono e marasmo.
Nossos índios também foram muito prejudicados e perseguidos nesse período de implantação da República. Durante o Império havia uma relação de amizade, vigilância e cuidado, nunca de ataque e perseguição, mas de defesa e manutenção da ordem, apesar de muitos fugitivos e desertores se aliarem aos índios e os instigarem contra os colonos.
A República trouxe a perseguição sangrenta contra os índios através de um de seus descendentes diretos: Martinho Bugreiro, ele mesmo bugre e desejando vingar seus familiares mortos pelos índios. Natural da nossa região, Martinho Bugreiro representou, para os índios, o que Floriano Peixoto representou para os monarquistas catarinenses: a morte inexorável.
Apesar do grande fluxo de tropeiros indo e vindo com tropas e mercadorias, a República, transformou a futura Capital das Nascentes em mera passagem, cuja vocação era atender bem os visitantes, e lhe deu um nome dos mais comuns para a região: Barracão. Uma pesquisa em jornais da época aponta a denominação para centenas de localidades na região litorânea e serrana de Santa Catarina.
Fundada e povoada por gente da têmpera dos bandeirantes, os colonizadores que ocuparam Alfredo Wagner, souberam se adaptar mais uma vez e marcar a história desta porção do Estado por sua acolhida e gastronomia.
Pouco a pouco o povo alfredense vai recuperando seu lugar na história, se afirmando enquanto acolhedor e empreendedor e vai definindo sua característica: receber bem os visitantes.
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