A agricultura brasileira é, na maioria de seus produtos, uma atividade relativamente recente. Até os anos 60 do século passado, havia basicamente uma agricultura de subsistência no interior, com poucos produtos destinados ao mercado externo, como o açúcar – um dos nossos primeiros itens de exportação – e o café – em que o Brasil é o principal supridor do mercado mundial há dois séculos.
Além desses nichos, até os anos 70 do mesmo século, não havia tecnologia desenvolvida para produzir os principais elementos da cadeia mundial nos trópicos. A Revolução Verde trouxe novas tecnologias, que levaram agricultores de regiões tradicionais, principalmente do Sul, para as áreas mais tropicais, onde aprenderam a trabalhar num bioma inédito para a produção de grãos e oleaginosas: o Cerrado.
Essas regiões foram abertas a partir de uma política de ocupação do território, iniciada pelo Marechal Rondon em sua Marcha para o Oeste, estratégica para trazer colonos de outras regiões e atrair investidores dedicados ao valor imobiliário da terra, sem foco na produção. Isso levou à abertura da maioria dessas áreas à pecuária extensiva e de alguns polos de produção de alimentos nas melhores terras.
Tudo isso gerou, porém, uma visão hoje defasada no meio urbano de que nossa agropecuária é ultrapassada e ambientalmente incorreta. O agronegócio atual é dinâmico, resultado da boa gestão e da intensificação da produção com busca de alta eficiência nas operações, elementos que tornaram o Brasil o maior exportador líquido de alimentos e um importante supridor do mercado mundial.
O bom produtor garantirá acesso aos melhores mercados sendo ambiental e socialmente responsável. Nosso Código Florestal é uma das legislações ambientais mais completas do mundo, fruto de amplo debate na sociedade, tendo envolvido diversos setores, incluindo produtores rurais e ambientalistas. A legislação trabalhista no campo é abrangente e uma das mais socialmente responsáveis do Planeta. O agronegócio brasileiro emprega 19 milhões de pessoas – 20% da mão de obra do País – entre o campo e empresas ligadas ao agronegócio.
Apesar do histórico de desmatamento no passado, temos a maior área preservada entre os grandes produtores de alimentos, 61% do território. Parte disso compõe-se de Unidades de Conservação (UCs) – 113 milhões de hectares (13% do País) –, parte em Terras Indígenas (TIs) – 112 milhões de hectares (13%) – e parcela em propriedades rurais – que mantêm 97 milhões de hectares (11%) entre Reserva Legal (RL), Áreas de Preservação Permanente (APPs) e vegetação nativa. Essa área preservada em fazendas é superior à usada para a agricultura (cerca de 70 milhões de hectares). A área total ocupada pela agropecuária é de 250 milhões de hectares, com predominância de pastagens.
O agronegócio é a peça-chave para o desenvolvimento no País de uma economia de baixo carbono. Nas Conferências do Clima, o Brasil comprometeu-se a restaurar 12 milhões de hectares de florestas, recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e disseminar 5 milhões de hectares de integração LavouraPecuária-Floresta (iLPF), além de ampliar o uso de bioenergia para 18% da matriz energética do País.
Precisamos mostrar essa realidade aos consumidores brasileiros e à comunidade internacional, para que tenhamos crescente acesso ao mercado mundial, gerando renda ao País, levando segurança alimentar ao Planeta e obtendo uma valoriza- ção adequada da nossa produção.
Texto de Marcelo Vieira, presidente da Sociedade Rural Brasileira.
Descubra mais sobre Jornal Alfredo Wagner Online
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.