Toni Jochem – Historiador
“Houve indícios de violação, mas ela (Maria Amida)
morreu virgem. Mártir da virgindade? Deus o sabe”.
Pe. Frei Fidêncio Feldmann-OFM
Maria Amida Kammers viveu a sua época. De família tradicionalmente católica, de beleza física que chamava a atenção, elegante e de sorriso discreto, participava assiduamente da associação de moças denominada “Pia União das Filhas de Maria”, na Igreja Matriz dedicada a Santo Amaro, em Santo Amaro da Imperatriz-SC. Nesta mesma cidade ela foi tragicamente assassinada em 25 de novembro de 1961 por não ceder aos desejos sexuais de seu(s) agressor(es) e, sobretudo, porque teria optado por defender com a vida, se preciso fosse, sua pureza virginal. E assim foi… Uma história manchada com sangue e marcada pela fidelidade a Deus. Tinha vinte anos e dez meses de idade…
Considerada desde então “Mártir da Castidade”, décadas mais tarde, são muitas as pessoas que afirmam ter recebido graças e favores por intercessão de Maria Amida e que reconhecem a autenticidade de seu martírio. Desde aquele fatídico dia, sua memória permanece viva no coração de seus devotos. Está sepultada no cemitério da Igreja Católica em Taquaras, Rancho Queimado-SC.
Maria Amida teve sólida formação religiosa familiar e, sobretudo, sua formação se consolidou na condição de associada às Filhas de Maria, da Igreja Matriz de Santo Amaro. As padroeiras desta irmandade católica eram a Virgem Maria, modelo de pureza, obediência e caridade, e Santa Inês, virgem e mártir, que em vida sofreu inúmeras perseguições. A Pia União das Filhas de Maria em Santo Amaro da Imperatriz foi solenemente instalada no dia 21 de janeiro de 1906, dia consagrado a Santa Inês, “sendo agregada à Primária de Roma, no dia 13 de junho de 1908” (História da Pia União das Filhas de Maria em Santo Amaro do Cubatão, s/p). Ser agregada à Primária de Roma significa estava subordinada a ela. Para se agregar era necessário enviar o pedido a Roma e, uma vez aprovado, a nova associação se tornava oficialmente uma irmandade reconhecida pela Primária de Roma e, conseqüentemente, pela Igreja Católica Romana. E por seis décadas as Filhas de Maria marcaram presença na Igreja Matriz de Santo Amaro. E a história registra que, na década de sessenta, depois do Concilio Vaticano II houve uma fase de incertezas, devido ás profundas mudanças da atuação da mulher na família e na sociedade e desta forma a Pia União das Filhas de Maria, da Igreja Matriz de Santo Amaro da Imperatriz, deixou de existir.
À época de Maria Amida esta entidade religiosa era bastante atuante, moldou comportamentos e normatizou condutas. Tinha como principal função auxiliar as jovens na observância da Lei de Deus, no fiel cumprimento dos deveres cristãos e perseverança na pureza virginal. As moças iniciavam como aspirante a partir dos 16 anos e progrediam com o passar do tempo. As Filhas de Maria ao participar das missas faziam uso de vestidos e véus brancos e no pescoço usavam uma fita verde com a medalha de Nossa Senhora das Graças. Cumprida a fase de aspirante e após a confirmação de sua participação na associação, recebiam o diploma oficial de Filha de Maria, ocasião em que passavam a ser membros efetivos e a usar a fita azul.
E Maria Amida assimilou o conteúdo ensinado pelas Filhas de Maria e foi uma de suas fieis associadas. Conteúdo este que, aliado à sua sólida formação familiar, norteou sua vida, consolidou disciplina, solidificou princípios e delineou ações chegando, inclusive, a dar a própria vida em nome da pureza virginal. O Pe. Frei Fidêncio Feldmann-OFM, então pároco de Santo Amaro, além do Delegado de Polícia, foi um dos primeiros a ser chamados a testemunhar a triste ocorrência no dia do assassinato. Sobre o que viu/entendeu o citado pároco, literalmente escreveu ao retornar à Casa Paroquial onde residia: “Houve indícios de violação, mas ela morreu virgem. Mártir da virgindade? Deus o sabe” (Livro de Crônicas do Convento Franciscano de Santo Amaro da Imperatriz 1900-1969, p.157). A cronista do convento Santa Rosa de Lima, em Santo Amaro da Imperatriz, das Irmãs da Divina Providência, assim escreveu sobre o caso que abalou profundamente a cidade inteira: “O dia 25, festa de Santa Catarina, foi um dia triste para Santo Amaro, pela morte de uma moça assassinada por um desconhecido. A cidade toda ficou abalada. A moça era boa Filha de Maria e queria naquele domingo ainda ir à Comunhão, quando o criminoso pôs fim em sua vida” (Livro de Crônicas do Convento Santa Rosa de Lima 1910-1968, s/p).
Vimos que a situação que envolveu o assassinato de Maria Amida foi descrita textualmente “ela morreu virgem” apesar de que “houve indícios de violação”. Seria ela uma “Mártir da virgindade?”. O então pároco conclui: “Deus o sabe”. Seu comportamento exemplar a fez querida por todos. As Irmãs da Divina Providência, por sua vez, a descrevem como “boa Filha de Maria”. Muitos depoimentos vão ao encontro desta afirmação no sentido de que ela fez por merecer esta deferência. Além do entendimento do Pe. Frei Fidêncio Feldmann, inúmeros também são os testemunhos de que Maria Amida foi morta por não ter correspondido os intentos de seu(s) agressor(es), que agiram em nome de seus desenfreados instintos. E desta forma, ao dar a vida para assegurar a perseverança na pureza dos costumes e na prática das virtudes cristãs, tão propaladas entre as Filhas de Maria, Maria Amida é considerada Mártir da Virgindade pelos seus devotos e, assim sendo, ganhamos todos uma intercessora junto a Deus. Para mais informações: causa.amida@gmail.com e/ou facebook: Devotos de Maria Amida Kammers.
Descubra mais sobre Jornal Alfredo Wagner Online
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.