Um estudo divulgado nesta quinta-feira, 24, pela Fundação Getulio Vargas (FGV) serve de alerta para quem costuma acompanhar debates políticos pelas redes sociais: no Brasil, as discussões que ocorrem pelo Twitter são parcialmente conduzidas por robôs extremistas.
De acordo com o levantamento, que foi realizado pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas (DAPP) da fundação, há indícios de que os chamados bots tenham gerado parcelas consideráveis das conversas na rede em momentos importantes da nossa história política recente. Essa constatação corrobora um estudo da Universidade de Oxford, que, há poucos meses, fez uma afirmação semelhante sobre o Brasil.
Em abril de 2017, por exemplo, a FGV descobriu que mais de 20% das interações entre usuários favoráveis à greve geral foram provocadas por contas automatizadas. Na campanha presidencial de 2014, eles representavam mais de 10% dos perfis envolvidos nas discussões.
E esses bots não circulam pelo campo mais conciliador, sendo geralmente usados pelas parcelas mais radicais dos debates — seja qual for o tema. “A análise (…) sugere que grupos com diferentes interesses, especialmente os localizados nos extremos do espectro político, se inflam e se atacam mutuamente com esta prática”, explica a fundação.
A FGV estudou seis casos para tentar entender o comportamento e o uso que se faz dessas ferramentas: os debates na Globo no primeiro e no segundo turno das eleições presidenciais de 2014, as manifestações pró-impeachment de março de 2016, o debate das eleições municipais em São Paulo em setembro de 2016, a greve geral deste ano e a votação da Reforma Trabalhista no Senado, em julho.
“O surgimento de contas automatizadas permitiu que estratégias de manipulação, disseminação de boatos e difamação, comumente usadas em disputas políticas, ganhassem uma dimensão ainda maior nas redes sociais”, alerta a FGV. “A participação ostensiva de robôs no ambiente virtual tornou urgente a necessidade de identificar suas atividades e, consequentemente, diferenciar quais debates são legítimos e quais são forjados. Esse discernimento é essencial para que os processos sociais originados nas redes sejam efetivamente compreendidos.”
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