A elaboração de um currículo escolar voltado à inclusão foi o ponto central da palestra do professor e doutor em Educação Eugênio Cunha, na tarde desta segunda-feira (18), no Seminário Autismo e Inclusão: Novos Desafios, realizado pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina, no auditório da escola Martinho de Haro, em São Joaquim. A apresentação de Cunha, que é autor de vários livros sobre educação e autismo, encerrou as atividades do seminário.
Para o professor, a inclusão dos estudantes autistas passa por três pontos: formação humana, capacitação profissional e compreensão da realidade dos educadores. O número de autistas matriculados nas escolas regulares, conforme o palestrante, aumentou expressivamente nos últimos anos. Isso ocorre com o aumento no registro de casos no Brasil, o que está relacionado com os diagnósticos cada vez mais prematuros e precisos, com o aumento e a disseminação do conhecimento sobre o transtorno e questões ambientais.
“É uma demanda grande, que tem crescido e que os professores não dão conta porque quase não há tempo para se preparar”, disse.
O trabalho do professor na inclusão tem se tornado cada dia mais importante. Cunha lembra que esse processo não pode ser construído sem a parceria escola-família. Por isso, apesar das dificuldades, é importante que todos estejam engajados. “Não existe uma receita única, como uma receita de bolo. Existem sim caminhos que podem ser apontados.”
Cunha afirmou que o afeto é um aspecto importante no processo de inclusão. Da mesma forma, o professor precisa ser reconhecido como tal pelo autista. “Para isso, é preciso que o professor ir aonde o aluno está, ficar na mesma estatura dele para que ele possa te enxergar”, comentou.
Currículo inclusivo
O palestrante tratou da construção de um currículo inclusivo para alunos autistas. O planejamento é essencial para um trabalho bem-sucedido. Questões relacionadas ao bullying, à discriminação, de atividades que permitem a autorregulação do aluno devem estar presentes, sempre permeadas pelo afeto e pelo interesse, conforme Cunha. Estratégias para lidar com comportamentos inadequados também devem constar nesse planejamento.
“O foco do ensino deve estar nas habilidades, nas potencialidades de cada aluno especial”, afirmou. “O foco deve ser naquilo que o estudante tem de melhor e que vai servir de ponte para o aprenzidado de outras coisas.”
Duas ferramentas são consideradas importantes nesse processo: a neurociência e a tecnologia digital. Os mecanismos convencionais podem ser incorporados, desde que não excluam, ao invés de incluir. “Um livro pode excluir o autista. Mas a história que eu conto e que está escrita nesse livro pode ser uma excelente atividade.”
Já o currículo funcional pode incluir atividades como higiene pessoal, domínio do uso de utensílios e materiais cotidianos, autonomia durante as refeições, entre outras. Tanto o currículo funcional como o inclusivo podem ser aplicados conjuntamente.
Nutrição
Cunha alertou para os cuidados com a alimentação do autista. Há leis federais e estaduais que garantem o direito à nutrição adequada e à terapia nutricional.
O palestrante citou estudos que apontem a influência da nutrição no aumento de casos de autismo. A exposição a elementos químicos industriais como os conservantes, corantes, transgênicos, entre outros, modifica as condições biológicas e vai impactar, na visão de especialistas, em mais casos de autismo. Os agrotóxicos tembém influenciam negativamente nesse cenário.
“É importante estimular a boa alimentação desde o começo. Crianças têm erros inatos de metabolismo, mas desordens metabólicas são tratáveis”, explicou.
O Seminário Autismo e Inclusão: Novos Desafios foi promovido pela Alesc, por meio da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência e da Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira, com apoio da Prefeitura de São Joaquim, Apae de São Joaquim, Federação das Apaes de Santa Catarina, Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE) e Associação Catarinense dos Autistas (Asca).
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