A ocupação dos leitos acontecerá de forma gradual e totalmente controlada pelo sistema estadual de regulação de vagas
Em continuidade às ações de enfrentamento à pandemia do novo coronavírus, a Fundação Oswaldo Cruz construiu em menos de dois meses uma unidade hospitalar destinada a pacientes graves contaminados pela doença. Localizado em Manguinhos, sede da Fundação no Rio de Janeiro, o Centro Hospitalar para a Pandemia de Covid-19 – Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) começará a receber hoje (19/5) os primeiros pacientes transferidos pela central estadual de regulação de vagas. Os leitos serão ocupados gradualmente, a partir da avaliação diária e conjunta da direção com as secretarias municipal e estadual de saúde. A medida garante as condições de segurança necessárias tanto para pacientes quanto para os profissionais de saúde.
Construído em regime emergencial para unir esforços no fortalecimento da rede de saúde, o hospital possui características específicas que o difere das unidades de campanha que estão sendo erguidas pelo país e que terão funcionamento temporário. Todos os leitos, por exemplo, contam com um sistema de isolamento com pressão negativa do ar, específico para infecções por aerossóis. No interior dos quartos, que são individuais, uma tubulação é responsável por sugar o ar contaminado que passa por um sistema de filtragem antes de ser eliminado por chaminés instaladas na parte externa da construção. Há, ainda, uma central de tratamento de esgoto própria, concebida para tratar resíduos com o novo coronavírus e garantir destino seguro do efluente gerado.
Operando em condição de assistência de alta complexidade e sistema de apoio diagnóstico próprio, a área de diagnóstico inclui aparelhos de raio X, ultrassonografia, ecocardiografia e tomografia computadorizada. Também estão disponíveis os serviços de broncoscopia e endoscopia. A unidade é autossuficiente – tem fornecimento de energia, geradores e reservatórios de água e toda a infraestrutura exigida para um hospital desse porte independente das demais áreas da Fiocruz no campus. O complexo, que ocupa uma área total de 9,8 mil metros quadrados, também conta com entrada exclusiva para ambulâncias e heliponto. Em seu pleno funcionamento, serão 195 leitos destinados ao tratamento intensivo e semi-intensivo.
“Neste momento, em que acompanhamos com tanta preocupação o aumento de casos e de mortes em nosso país, e em particular no Rio de Janeiro, é com grande emoção que entregamos esse hospital dedicado exclusivamente à Covid-19 e que permanecerá como um legado para o Sistema Único de Saúde. A Fiocruz continuará trabalhando incessantemente para fortalecer as ações do SUS em meio a esta crise humanitária que tem tido impacto tão grande na vida da população e que traz tantos desafios para um país continental e desigual como o Brasil”, ressaltou a presidente da Fundação Nísia Trindade durante visita de reconhecimento ao local.
Por se tratar de uma unidade hospitalar fechada, ou seja, sem atendimento de emergência, os pacientes chegam ao hospital transferidos de outras unidades de saúde. O sistema informatizado da Secretaria de Estado de Saúde permite um mapeamento dos leitos existentes
de forma a operacionalizar a oferta disponível às necessidades de acesso da população. Inicialmente, o paciente deve ser atendido em uma emergência ou unidade de pronto atendimento. Após constatada a necessidade de assistência especializada e de maior complexidade, o pedido é encaminhado para o sistema de regulação, que é responsável pela verificação da disponibilidade dos leitos e pela transferência dos pacientes.
Seguindo protocolos de segurança, não são permitidas visitas aos pacientes internados. Como uma forma de acolher as famílias, um ambiente foi especialmente montado para recebê-las no bloco anexo. Uma equipe multiprofissional se reveza 24h por dia para prestar o atendimento presencial, quando necessário. No local também funcionará uma estrutura de call center com operadores treinados para atualizar os familiares a respeito do boletim médico de cada paciente. Com o objetivo de diminuir a distância com os entes queridos durante o período de internação, também serão realizadas ligações por vídeo com os pacientes cuja condição clínica permita a interação.
Um fluxo de vigilância e monitoramento dos profissionais envolvidos na rotina de funcionamento do Centro Hospitalar, envolve, entre outros aspectos, a verificação diária da temperatura de todos os funcionários na admissão do plantão, testagem e busca ativa de pessoas sintomáticas. 26 profissionais entre médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem, psicólogos, assistentes sociais e nutricionistas se encarregam de prestar a assistência direta aos trabalhadores, atuando desde a vigilância, passando pela promoção, até a abordagem da saúde mental.
O novo hospital passa a integrar o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), unidade de referência da Fundação na atenção especializada em doenças infecciosas, e que já atua também como referência para o atendimento a pacientes graves de Covid-19. A experiência no tratamento dos pacientes do recém-inaugurado hospital será um importante subsídio para diversas frentes de pesquisas sobre a doença. “O novo centro será fundamental para acelerar as pesquisas conduzidas pelo INI e toda a rede de colaboração da Fiocruz no Brasil e internacionalmente. Um exemplo é o ensaio clínico Solidarity, da Organização Mundial da Saúde (OMS), que estuda a eficácia de medicamentos para tratamento da Covid-19”, explicou a diretora do INI, Valdilea Veloso. Coordenado no Brasil pela Fiocruz, o Solidarity é um ensaio clínico randomizado e adaptativo, permitindo que, com o surgimento de novas evidências científicas ao longo do estudo, haja alteração das propostas terapêuticas.
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