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Conheça o Fiagro, o irmão caçula dos fundos imobiliários aplicado ao agronegócio

O agronegócio é muito importante para a economia brasileira, mas seu financiamento ainda depende em grande parte de recursos públicos. Mas um produto financeiro criado neste ano promete dar uma sacudida nesse setor, permitindo que ele passe a receber recursos do mercado de capitais. É o Fiagro (Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais).

A ideia por trás do Fiagro é proporcionar ao agronegócio a mesma injeção de capital que os FIIs (Fundos de Investimento Imobiliário) deram ao setor imobiliário. Não por acaso, boa parte do arcabouço jurídico do Fiagro foi emprestada dos FIIs. A regulamentação por enquanto está sendo feita pela Resolução 39 da CVM (Comissão de Valores Imobiliários), editada no dia 13 de julho em caráter experimental.

Essa norma prevê três tipos de Fiagro. O primeiro é voltado a direitos creditórios, como duplicatas da cadeia do agronegócio, e segue a linha dos FIDCs. O segundo, baseado nos FIPs, é voltado à compra de participações em empresas. Já o terceiro é um fundo de investimento nos moldes dos FIIs.

Antes do surgimento do Fiagro, quem quisesse investir diretamente no setor (e não por meio de um título bancário, a LCA) tinha que se contentar em comprar CRAs (Certificados Recebíveis do Agronegócio).

O CRA é bom, mas é renda fixa, é uma dívida. Você está emprestando dinheiro para alguém do agro e, mesmo se a cotação da soja subir, vai ganhar apenas a taxa combinada de juros“, explica Vitor Duarte, CIO da Suno Asset. “Já no Fiagro você pode comprar um pedaço de uma propriedade, que gera uma ou duas safras por ano. Você passa a ter uma renda proveniente da terra“.

Qual é o público-alvo dos Fiagros?

O Fiagro-FIDC e o Fiagro-FIP são voltados apenas para investidores qualificados, a exemplo dos fundos de investimento que originaram essas duas categorias: FIDC e FIP. Já o Fiagro-FII é aberto ao investidor de varejo e tem tudo para cair no gosto do público que turbinou as captações dos FIIs nos últimos anos.

Ele amplia muito as possibilidades de investimento no agronegócio pelo pequeno investidor, que eram limitadas. A principal delas era a LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), em que o comprador do título empresta dinheiro para um banco, que concede crédito a produtores rurais e cooperativas. O acesso ao CRA também é restrito ao público qualificado.

Algumas securitizadoras emitem CRIs (Certificados Recebíveis Imobiliários) com lastro em ativos da cadeia agroindustrial, pensando nos FIIs de papel que compram esses títulos. Então essa era uma forma de a pessoa física ter acesso a um produto mais estruturado com viés agro. Com o novo Fiagro, ela vai conseguir investir no setor sem tantos malabarismos”, afirma Álvaro Rezende, diretor da Ourinvest Asset.

Nesta reportagem, vamos falar apenas do Fiagro imobiliário (Fiagro-FII), justamente por ser a única categoria acessível ao pequeno investidor.

O que tem na carteira de um Fiagro-FII?

Assim como existem fundos imobiliários de papel e de tijolo, com o “irmão” agrário não é muito diferente. Só que no caso do Fiagro os recebíveis são CRAs, e não CRIs. E as propriedades imobiliárias não são urbanas, mas sim rurais – então o melhor é falar em fundo “de terra” e não “de tijolo”.

O que esperar em termos de dividendos?

Enquanto os dividendos dos FIIs vêm dos aluguéis pagos por inquilinos que ocupam lajes corporativas, galpões logísticos e lojas em shopping centers, a renda do Fiagro vem das safras produzidas nas propriedades agrícolas que fazem parte da carteira.

Duarte calcula que os Fiagros-FII de terra pagarão dividendos de 3% a 4% ao ano. Esse yield pode parecer baixo em comparação com os pagos por alguns FIIs de tijolo, mas o CIO da Suno garante que não é bem assim.

Uma fazenda de R$ 100 milhões vai pagar um arrendamento de R$ 4 milhões por ano, em sacas de soja. Só que as commodities vão se valorizando e o dólar sobe. No ano que vem, aquele mesmo volume de soja vai valer R$ 5 milhões, R$ 6 milhões. Ou seja, você vai ter uma renda dolarizada em real de 4% ao ano“, explica.

Por que investir em Fiagro-FII pode ser interessante?

A principal vantagem é a possibilidade de obter um rendimento que, de um lado, é totalmente descorrelacionado com a Bolsa – e portanto não sofre com as intempéries desse mercado. De outro, se valoriza tanto com a alta das commodities como com a cotação do dólar.

Faz bem para a saúde do investidor ter essa renda dolarizada, vinculada a algo que cresce muito, que é o agronegócio. É diferente dos FIIs, que todo mês pagam a mesma coisa, apenas com reajustes periódicos pela inflação”, compara Duarte.

Outro ponto interessante é a isenção fiscal: a exemplo do que ocorre com os FIIs, as aplicações serão isentas de Imposto de Renda para pessoas físicas. Não há a incidência do come-cotas, que garfa parte dos rendimentos de outros tipos de fundos duas vezes ao ano.

Quais são os riscos?

O raciocínio é o mesmo que se aplica aos FIIs: estamos no terreno da renda variável, com oscilações para cima e para baixo, portanto um ambiente pouco adequado para a reserva de emergência. É importante pulverizar o investimento entre vários fundos, o que ajuda a diluir os riscos.

No caso do Fiagro-FII de papel, é de se esperar que surjam fundos high grade, com CRAs emitidos por empresas de primeira linha, como Raízen, Suzano e BR Foods, que pagam menos, e outros com perfil high yield, que vão financiar produtores e cooperativas com rating mais frágil e taxas maiores. “Nesses últimos, dá para pensar em ganhar o IPCA mais juros de 7% a 9%, em média, mas o risco é maior”, calcula Duarte.

O que é preciso ter no radar?

Enquanto no FII de tijolo, as preocupações giram principalmente em torno da vacância dos imóveis, no Fiagro de terra o que importa é a produtividade das plantações. Assim, tudo o que ajude ou atrapalhe as safras – seja a chuva na época certa, seja uma praga de gafanhotos – deve entrar no radar do investidor.

Nas últimas semanas, uma frente fria intensa afetou as regiões Sul e Sudeste, que tiveram perdas de safra importantes. O gestor do fundo precisa ter expertise para montar estruturas que parem em pé”, afirma Rezende, da Ourinvest. “Ele tem que fazer um monitoramento das plantações, para ver se o plantio foi atrasado, se a colheita já foi iniciada, se houve quebra de safra. É importante que essa gestão seja mais ativa.

Como escolher um Fiagro?

Como em qualquer outro fundo, é preciso se empenhar em conhecer tanto a gestora como o que está na carteira. A diferença é que o investidor do asfalto terá que navegar por parâmetros do universo agro, com os quais pode não estar acostumado.

Veja em que região são as fazendas e qual é a produtividade, quantas sacas estão produzindo. Quais culturas são produzidas, é apenas soja? Mas e se a cotação da soja cair? Quão diversificado é aquele negócio?“, ensina Duarte.

Vale também ter atenção com a regra de arrendamento das fazendas do fundo: ele é pago em reais, em sacas de milho ou soja, em arrobas de boi? Quem é o arrendatário? Ele terá condições financeiras para pagar o arrendamento?

Surgirão alguns Fiagros bons e outros não bons. O investidor terá que escolher bem o seu cavalo”, resume o CIO da Suno.

Teremos um boom de Fiagro? Quais são as perspectivas?

Por enquanto, o mercado ainda está engatinhando. Foram registrados na CVM apenas 7 Fiagros, sendo seis imobiliários (Fiagro-FII) e um de direitos creditórios (Fiagro-FIDC). Outros estão em fase de estruturação.

Duarte diz que há muita movimentação do mercado em torno dos Fiagros e vislumbra uma “corrida do ouro”, com um grande aumento das buscas pelo produto nos próximos meses. Mas acha que alguns investidores pessoa física vão se desapontar ao olhar o dividend yield dos fiagros de terra e, em uma comparação fria com os FIIs, considerar que eles pagam pouco.

Talvez por isso a velocidade de crescimento não seja tão grande. Mas muita gente que tem FIIs já aprendeu que o que importa não é o fundo que paga mais. O investidor mais instruído vai querer diversificar”, diz.

Ele observa que os investidores estrangeiros não podem comprar terras no Brasil, mas terão acesso ao Fiagro, o que ajudará a inflar a demanda por um produto que tem oferta limitada. “Daqui a um ano, os preços terão explodido. Quem comprar antes do boom vai pagar mais barato”, prevê.


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