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‘Fator China’ aprofunda queda dos preços do boi gordo

Ministério da Agricultura reforçou orientação que os frigoríficos suspendam qualquer produção de carne destinada ao país

A determinação do Ministério da Agricultura para que os frigoríficos suspendam quaisquer novas produções de carne bovina destinadas à China e a autorização para que empresas com vendas habilitadas àquele mercado possam estocar os cortes produzidos antes do embargo nas exportações tiveram reflexos no mercado pecuário brasileiro.

Após a divulgação da notícia, na noite de terça-feira, o contrato do boi gordo para novembro na B3 recuou 0,56% ontem, a R$ 267,50 por arroba. Já o vencimento com entrega para novembro cedeu 1,77%, para R$ 274 a arroba.

Embora o Ministério da Agricultura garanta que não está emitindo a certificação para exportação desde 4 de setembro, quando suspendeu as vendas para a China voluntariamente após identificar casos atípicos do mal da “vaca louca”, as indústrias não paralisaram totalmente a produção, confiando na retomada rápida dos negócios com os chineses, segundo fontes do segmento.

Conforme Lygia Pimentel, CEO da consultoria Agrifatto, os frigoríficos seguiram com a produção para a China com a ideia de manter “a roda girando”. Ela lembrou que o histórico de 2019, quando a suspensão durou apenas 13 dias, e a dificuldade de se encontrar contêineres podem ter pesado na decisão.

As empresas continuaram produzindo para não perder a oportunidade de venda e o booking do navio. Justamente por essa dificuldade [de contêineres], essas empresas embarcaram cerca de US$ 600 milhões para a China [após a suspensão] sem ter certeza de que as cargas seriam recebidas”, disse.

Em nota, o Ministério da Agricultura disse que não houve nenhuma nova orientação aos frigoríficos e que o ofício – revelado pelo Valor – apenas atendeu ao pedido formalizado pelo setor produtivo para estocar os cortes produzidos antes de 4 de setembro.

Mas uma fonte da Pasta admitiu que o documento não seria necessário se as empresas tivessem sido mais cautelosas. “A exportação foi suspensa por causa da ‘vaca louca’ e as empresas continuaram produzindo sem saber quando retornariam a exportar. E ainda correndo o risco de a retomada da exportação poder ser com produtos produzidos apenas a partir da data de reabertura da exportação”, disse a fonte.

Hoje as empresas estão abarrotadas de cortes produzidos para a China e não há onde estocar, querem armazenar em condições precárias. Se tivessem feito um planejamento melhor, teriam parado a produção e retomado somente quando voltassem as importações”, reforçou.

Lygia Pimentel acredita que a medida ainda poderá ser benéfica para as margens dos frigoríficos enquanto a suspensão continuar. “O preço do boi caiu mais do que o da carne no atacado Com isso, a margem doméstica melhorou para a indústria. Agora [com a decisão do governo], o frigorífico consegue tirar o ‘prêmio China’ das negociações e consegue pagar menos pelo animal”.

No longo prazo, a analista alerta que a forte interrupção chinesa poderá atrapalhar o planejamento de pecuaristas e frigoríficos. Isso porque os números de confinamento estão caindo desde o embargo. Caso a suspensão demore mais, o fornecimento de carne tenderá a cair e os preços poderão disparar no começo de 2022.

Essa queda assustou muito o pecuarista, que não mandou o animal para confinamento e o deixou apenas no pasto. Só que as chuvas só voltaram agora e, em janeiro, não haverá tempo para ter animal de pasto para abate. Existe o risco de uma queda dramática de oferta e isso pode firmar novamente os preços do boi”, acrescentou.

Fonte: Valor Econômico
Autor: Rafael Walendorff e Rikardy Tooge


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