Cultura Memória

Um conto de natal

Madalena é uma pequena menina que vivia nas ruas com seu irmão João por não ter onde ir, passando frio e fome na grande Zurique no dezembro mais gelado que a cidade enfrentou.
Algumas pessoas passavam a sua volta, olhavam, davam algumas moedas, mas nenhuma se atrevia a conversar com elas por causa dos trajes sujos e esfarrapados das crianças.
– O Natal está chegando, João e nós aqui nessa rua gelada. Sem família, sem presentes, sem amor. Sem ninguém a se importar com a gente.
– Eu me importo com você – dizia o irmãozinho, tentando ser forte também. – Vamos fazer assim, você é meu presente e eu sou o teu, que tal?
Apesar da profunda tristeza ela sorriu.
Naquele ano o mês de dezembro estava sendo muito frio. A previsão era de grande nevasca para a noite de Natal. Após caminhar pelo centro da cidade, pararam num recanto para se proteger do vento gelado ao lado das escadas que davam acesso a um prédio. Pelas janelas viam um casal de meia idade preparando a casa para a grande noite. A festa do nascimento de Jesus Cristo.
– Vamos ficar por aqui. A parede vai proteger a gente e o meu casaco cabe nós dois embaixo.
Triste, amargurada, disse quase murmurando para seu irmãozinho:
– Vou pedir ao Papai do Céu para que nos ajude…
Logo dormiram, Madalena e João.
Dormindo, sonhou Madalena com um lugar lindo, cheio de coisas deliciosas para comer, muitos brinquedos e sobretudo o amor de um anjo que ela apenas via o contorno pois ele estava contra a luz.
– Oi menina… Oiii… acorda!
Assustada, Madalena acorda e vê aquela silhueta iluminada pela luz da rua e pergunta:
-Você é o anjo da guarda que Deus mandou para nos salvar?
-Não, querida… ou melhor, sim… Sou a dona dessa casa e vim convidar vocês para comemorar o Natal com minha família. Está tão frio aqui fora! Vem, vocês vão tomar um banho quentinho e colocar roupas novas. Vocês vão adorar brincar com meus netinhos que estão para chegar.
As crianças entraram, tomaram um banho quente e trocaram os farrapos por roupinhas novas e limpas e fizeram um lanche. Coisas que há muito tempo não faziam. O casal e seus empregados ficaram encantados com a inocência e educação das crianças.
– Depois que nossos pais morreram, é o primeiro Natal que não passamos sozinhos.
Naquele Natal os netos e os filhos de Vera e Matheus (o casal que acolheu as crianças) não vieram pois a nevasca surpreendeu a todos impedindo a viajem com segurança.
Madalena e seu irmão João foram adotados pelo Casal e passaram a morar com eles naquela casa e quando chegava o Natal relembravam com gratidão o anjo protetor que os tirou do frio e da solidão.

Bertolina Maffei
bertolina.maffei@jornalaw.com.br


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