Um projeto de lei, que tramita no parlamento alemão, permite, entre outras medidas, a retirada da obrigatoriedade do domínio do idioma alemão
Enquanto a taxa de desemprego no Brasil, segundo o IBGE, ultrapassa os 8,6%, com quase dez milhões de desocupados, em 2023, a Alemanha vive situação oposta. Por lá, há mais de um milhão de vagas de trabalho não preenchidas, segundo a Agência Alemã de Emprego. É por isso que o país busca maneiras de atrair trabalhadores de fora. O governo encaminhou aos sindicatos patronais e também ao parlamento um projeto de lei para acelerar a naturalização de estrangeiros e desburocratizar o processo de dupla cidadania. “Há uma preocupação muito grande do atual governo alemão, que tem se mostrado mais flexível com a concessão de vistos de trabalho e de proporcionar boas condições de vida a imigrantes de fora da União Europeia, inclusive os brasileiros. Isso é uma prioridade para o governo, com boas chances de aprovação, apesar de não ter ampla maioria no parlamento. Mas a Oposição entende a urgência”, destaca Fábio Werlang, da Hannover Cidadania Alemã, empresa associada à AHK Paraná (Câmara Brasil-Alemanha).
A maior economia da Europa passa pelo processo de escassez de mão de obra em razão do envelhecimento da população e da queda na taxa de natalidade. Tanto que 44% das empresas se dizem afetadas pela crise. A maior parte na área de siderurgia. Porém, outros setores, como a saúde e a área de tecnologia da informação sofrem com a queda. “O país precisa minimizar essa situação para continuar a crescer. É importante que se diga que os imigrantes não receberão a cidadania alemã, mas um visto de trabalho, que vai permitir a este trabalhador levar a família para morar na Alemanha, o que não impede que, futuramente, ele possa obter o visto definitivo”, pontua Werlang. “A exigência do idioma alemão também deve cair para um nível básico, o que o brasileiro, por exemplo, pode obter com um curso de seis meses a um ano. Claro que muitas das empresas, especialmente as de TI, acabam adotando o inglês, o que facilita também”, complementa.
A ideia é, por exemplo, autorizar a adoção de múltipla cidadania e simplificar o processo de naturalização. Atualmente, ao obter a cidadania alemã, o estrangeiro deve desistir da cidadania anterior. Como o Brasil não permite essa revogação, a Alemanha respeita. “Outra simplificação prevista na proposta do governo de Olaf Scholz, é que um estrangeiro poderá se naturalizar alemão depois de cinco anos de residência no país ou em três anos em algumas situações”, acrescenta.
Benefícios sociais
A escassez de mão de obra já ocorre de forma gradual na Alemanha há pelo menos dez anos. A partir da guerra da Síria, que iniciou em 2011, o país passou a receber um número considerável de refugiados, que se integraram ao país. Para além da questão humanitária, a Alemanha enxerga potenciais trabalhadores nessa população. “O governo alemão tem um estudo publicado demonstrando que essa população (de mais de um milhão de pessoas) passou de refugiada a consumidora, e trabalhadora, que paga impostos, o que gerou um benefício à economia como um todo”, ressalta Fábio Werlang.
Assim como os refugiados sírios, os demais estrangeiros que se instalarem no país legalmente terão acesso a benefícios sociais, como saúde, educação e previdência, entre outros.
Sobre a AHK Paraná – Estimular a economia de mercado por meio da promoção do intercâmbio de investimentos, comércio e serviços entre a Alemanha e o Brasil, além de promover a cooperação regional e global entre os blocos econômicos. Esta é a missão da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK Paraná), entidade atualmente dirigida pelo Conselheiro de Administração e Cônsul Honorário da Alemanha em Curitiba, Andreas F. H. Hoffrichter.
Maíra Gioia
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