Para a educadora financeira Simone Sgarbi, o maior desafio dos pais é integrar a educação financeira na rotina das crianças sem ceder a “chantagens”
O futuro dos filhos é uma preocupação constante dos pais. Assim que decidem engravidar já começam a conjecturar o que poderão fazer para tornar o mundo um lugar menos complicado para seus rebentos. Neste sentido, adquire elevada importância para elas, ensinar aos filhos sobre finanças. Isto porque, na sociedade atual, em que o dinheiro ocupa papel central nas relações humanas, saber organizar-se do ponto de vista financeiro pode ser essencial para uma vida adulta sem tantas frustrações.
A educadora financeira Simone Sgarbi comenta que pais querem que seus filhos cresçam seguros, saudáveis e felizes. Para isso os ensinam a andar, falar, comer e respeitar o próximo, esforçando-se para proporcionar-lhes uma vida repleta de experiências. “A questão é que no mundo em que vivemos, as coisas têm preço e valor e é preciso que as crianças saibam diferenciar os dois aspectos para se tornarem adultos saudáveis, inclusive em âmbito financeiro. Assim, educá-las financeiramente também se transforma em tarefa básica para os pais”, afirma.
Mas fazer isso não é tarefa fácil. “Quando o assunto é finanças, a maioria dos pais também possui uma série de limitações, pois não passou por um processo de educação financeira, nem na escola, nem em casa. Tudo o que aprenderam foi pela observação de pessoas próximas, ou através de meios de comunicação ou obras de ficção”, explica Simone. Assim, é muito comum que os pais cometam erros na hora de educar seus filhos sobre o objeto em questão.
De acordo com a educadora financeira, os principais equívocos cometidos pelos pais nesse sentido são: achar que é cedo demais para falar sobre dinheiro com os filhos; dar presentes antes de a criança pedir; não explicar como as coisas funcionam; pagar por atividades domésticas cotidianas realizadas pelos filhos; “chantageá-los” com presentes; e não impor limites. “Outro erro costumeiro é não servir de exemplo”, diz.
Simone enfatiza que um dos maiores desafios para os pais é integrar a educação financeira na rotina das crianças, quebrar o tabu e falar sobre dinheiro naturalmente, sem “chantagear” a criança. Conforme a educadora financeira, o primeiro passo para desmistificar o assunto é inseri-lo de forma lúdica no cotidiano do filho. “Crianças são muito curiosas e participativas. Contar a história da criação do dinheiro de modo divertido e interessante, como um conto infantil, será de grande ajuda”, afirma.
Propor gincanas é um outro jeito de introduzir, sem sustos, as crianças no universo financeiro. “Sempre sugiro aos meus clientes que criem provas em família, como: ‘chuva’ de ideias para economizar luz, água etc.; lista de passeios gratuitos para fazer na cidade; jogos novos para brincar em família. Todas essas atividades deixam o tema mais leve e divertido”, afirma.
Quanto mais familiarizada estiver a criança com o tema, melhor saberá lidar com os desafios financeiros que surgirem pela frente. Nesse sentido, Simone sugere algumas dicas que podem ser seguidas pelas mães a fim de facilitar a introdução de conceitos de educação financeira. “Os conceitos são bem simples, os adultos que os tornam complicados. Para as crianças absorverem as noções básicas com eficácia basta mudar o nome das coisas. Tudo passará a ser muito lógico e de fácil entendimento”, diz
Assim, por exemplo, segundo a educadora financeira, o conceito “liberdade financeira” pode ser chamado de “galinhas dos ovos de ouro. “Os pais explicam que ter uma galinha dos ovos de ouro é separar um dinheiro que trabalhará para filho, enquanto ele dorme, brinca ou estuda e que se ele tratar bem este recurso, ou seja, mantiver a galinha viva, terá estes ovos (renda passiva) para sempre”, comenta.
O planejamento de metas pode receber o nome de “potinho de sonhos”, por exemplo. Com isso, explica a educadora financeira, os pais ensinam ao filho a definir seus sonhos e transformá-los em metas claras; mostrará a ele também quanto custo alcançá-los e o fará entender as motivações por trás de seus objetivos, além de educá-lo sobre a necessidade de ter paciência e disciplina para poupar. “Isso ajudará a mãe a transformar o filho em um adulto mais forte emocionalmente”, diz.
Já o conceito controle do orçamento pode ser transformado em “caixinha de diversão”. Por meio dele, ressalta Simone, a criança aprenderá que pode gastar sem culpa e experimentar, desde cedo a sensação de ter à sua disposição um dinheiro para se divertir, se for organizado com suas finanças. “Trata-se de um conceito importante para evitar uma vida adulta infeliz, destinada apenas ao pagamento de contas”, explica.
Educar os filhos sobre finanças passa também pela tarefa de explicar a eles que há uma linha tênue entre a satisfação de seus desejos e necessidades e o consumo com consciência. Para que os pais logrem êxito nesta missão, a educadora financeira recomenda que, assim que surgir o impulso de compras, elas inicialmente “afastem” seus filhos da loja física ou do site de compras, dando tempo para que os hormônios acionados nestas situações voltem à normalidade.
Simone destaca que mimos são necessários, mas é preciso que sejam minimamente planejados para não prejudicar o orçamento familiar. “Pensem com calma se aquela compra é realmente necessária”, orienta. Se mesmo depois de um tempo ainda quiserem comprar, a educadora financeira sugere colocar no papel os seguintes pontos: porque seria positivo adquirir o produto; o que aconteceria se ele não fosse comprado; se é possível consegui-lo emprestado, alugado, obtido de segunda mão ou se há algum lugar em que ele sai por um preço menor. “Tudo isso cria o hábito do consumo saudável”, diz.
Por fim, Simone ressalta a importância da cumplicidade familiar no sentido de fazer com que as crianças recebam a melhor educação sobre dinheiro possível e se tornem adultos financeiramente responsáveis. “Conversar com sinceridade e transparência com os filhos quando o assunto é finanças e sonhos é fundamental”, afirma.
Patrícia Jimenes
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