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Succession é aqui: 67% das empresas familiares têm problemas em passar bastão para herdeiros

Não é preciso estar nos estúdios de gravação da série Succession, da HBO, para entender o drama familiar que é um processo de passagem de gestão para herdeiros. Um dia nos corredores de uma empresa familiar brasileira resolveria essa curiosidade. Por aqui, a trama pode ser ainda mais difícil.

Empresas familiares representam a maioria no Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 90% das organizações registradas seguem o modelo familiar. Isso não seria um problema se as pesquisas globais não apontassem que apenas 33% desses negócios conseguem passar o comando para a segunda geração e, destas, 15% alcancem a terceira geração.

A complexidade da sucessão de uma empresa familiar — ou seja, de qual herdeiro terá o poder de mando e desmando — tem sido acompanhada na série Succession, da HBO. Lançada em junho de 2018, está na quarta e última temporada e segue preparando terreno para o episódio final. A trama é tema de conversas em mesas de bares e até congressos empresariais. Transita pelo luxo, por desafios de governança, por crimes contra o sistema financeiro, por ausência paterna e conflitos geracionais, e acaba sendo uma aula sobre como não se conduzir o processo sucessório em empresas.

De acordo com Ricardo Chamon, sócio fundador do CSA Advogados, especialista que há mais de 25 anos lida com consultoria, planejamento, gestão, negociações complexas, estruturação de investimentos e reestruturação de empresas, muito do que é visto no dia a dia das empresas familiares é retratado na série.

O desaparecimento repentino do patriarca da família e líder do conglomerado empresarial, sem uma definição prévia, clara e segura sobre a sua sucessão, tanto em termos patrimoniais quanto políticos, é uma representação do maior risco e temor. É deixar um grupo de empresas acéfalo, exposto a conchavos entre executivos, guerra de egos e conflitos de interesses entre herdeiros, ataques especulativos e predatórios de investidores e concorrentes, especialmente no mundo atual, em que tudo acontece com muita velocidade e num ambiente econômico global extremamente complexo”, afirma Chamon.

Embora tudo pareça muito exagerado na forma em que assistimos os personagens agindo e interagindo, são inúmeros os casos de grandes grupos de empresas, controlados por famílias, de diversas partes do mundo, inclusive do Brasil, que passaram por crises terríveis, originadas por disputas familiares tremendamente agressivas e destrutivas, que muitas vezes, ao longo de muitos e muitos anos de disputas judiciais, acabaram por modificar radicalmente os seus rumos, culminando, algumas vezes, em venda, outras vezes na divisão ou esfacelamento e, não raramente, deterioração, quebra e desaparecimento do negócio”, explica o advogado.

O problema na prática, em um caso brasileiro.

Maksoud Plaza – ícone paulistano, o hotel fechou as suas portas em 2021, após 42 anos de festas, glamour e muitos hóspedes ilustres. Localizado próximo à Avenida Paulista, foi construído por Henry Maksoud, empresário que morreu em abril de 2014, aos 85 anos. Henry tinha investimentos em empresas de engenharia e projetos, hotéis e informática. Como todo empresário, enfrentava diariamente o risco dos negócios, as crises por más decisões e a instabilidade econômica. Como resultado, algumas de suas empresas acumularam dívidas significativas que contaminaram o Maksoud Plaza. Ao morrer, o empresário deixou o hotel para sua segunda esposa e seu neto Henry Maksoud Neto, por meio de testamento. Seus filhos, então, questionaram a divisão dos bens judicialmente.

Os custos do processo e advogados agravaram ainda mais as já acumuladas dívidas do Maksoud Plaza, prejudicando todos os bens que compunham o patrimônio de Henry Maksoud. O hotel chegou a entrar com pedido de recuperação judicial para pagar as suas dívidas e o valor era mais de R$ 81 milhões, sem contar as dívidas trabalhistas.

Mesmo que cada ser humano, como indivíduo, seja único, o processo de sucessão evidencia demais a previsibilidade das atitudes e a tendência de se reproduzir erros óbvios. Daí, inclusive, a importância de agir preventivamente e não pagar para ver o que não queremos que aconteça”, finaliza o advogado Ricardo Chamon.


ELA Comunica

Priscyla Costa
Sócia


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