A educadora financeira Simone Sgarbi ressalta a importância de o endividado ter uma memória do cálculo da dívida para criar um plano de ataque, assim como um orçamento detalhado para entender com o quanto pode se comprometer
Os efeitos da pandemia, a retomada do consumo represado, inovações em métodos de pagamento, como o PIX, a alta inflação e os juros altos são alguns dos fatores que explicam o recorde de endividamento das famílias brasileiras em 2022. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) realizada pela Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 77,9% dos brasileiros declararam ter dívidas no ano passado. Este número, que é sete pontos percentuais a mais do que em 2021 (70,9%), não para de crescer em 2023. Segundo a CNC, em abril deste ano, atingiu a marca de 78,3%.
Ante cenário de tamanha calamidade, as famílias brasileiras necessitam de renda para saírem do “buraco” em que se meteram, mas não apenas isso. Organizar-se financeiramente é fundamental para quitar as dívidas atuais e evitar adquirir novas. Nesse sentido, a educadora financeira Simone Sgarbi relata que o primeiro passo a ser dado por uma pessoa endividada é encarar o problema de frente. “Ela deve entrar em contato com todos os credores e solicitar uma memória do cálculo detalhado da dívida, para então começar a cria um plano de ataque dessa dívida”, diz.
Esse plano de ataque, por sua vez, precisa estar alicerçado em um bom planejamento financeiro. Simone destaca que não há nada pior do que começar a renegociar uma dívida e se atrapalhar durante o processo, falhando em arcar com os pagamentos. A educadora financeira explica que cada vez que uma pessoa opta pela renegociação ela faz uma confissão de dívida e zera os prazos de cobrança. “Por isso, para não ser pego de surpresa, antes de fechar qualquer acordo de pagamento de dívida é essencial ter um orçamento detalhado para entender com o quanto pode se comprometer”, declara.
Em muitas ocasiões, as dívidas têm origens diferentes, o que torna ainda mais complexo a renegociação. Simone ressalta que do ponto de vista matemático, o ideal é pagar primeiro as dívidas que tenham o maior custo efetivo total (maior valor e maior taxa de juros), mas pondera que nem sempre isso é possível, pois existem dívidas que são mais agressivas. “Dívidas na qual a pessoa deu um bem como garantia, por exemplo, são desse tipo. Elas costumam ter juros menores, mas em caso de não pagamento o bem pode ser facilmente reintegrado ao credor”, relata. Assim, para saber quais dívidas priorizar, Simone recomenda fazer uma lista de todas os débitos e analisá-las considerando a relação entre taxa de juros e agressividade.
No que tange à priorização dos pagamentos de diferentes dívidas, a educadora financeira ressalta ainda a importância de o devedor estar ciente da lei 14.871/2021, a chamada lei dos superendividados, que permite renegociar todas as dívidas de consumo ao mesmo tempo no tribunal de justiça do estado, facilitando assim a vida da pessoa endividada. “Para enquadrar-se nessa legislação, é preciso fazer um orçamento detalhado e comprovar que é impossível arcar com todas as dívidas sem comprometer o mínimo para a sobrevivência”, esclarece.
Ciente do tamanho da dívida e realizado um planejamento financeiro para sua renegociação, muitos optam por contrair empréstimos pensando em encurtar caminhos. Antes de tomar essa decisão, Simone aconselha ao devedor tomar alguns cuidados, para saber se está fazendo um bom negócio que vai permitir sanar suas dívidas ou se está apenas piorando sua situação.
Primeiramente, segundo a educadora financeira, o devedor precisa inteirar-se se está trocando uma dívida mais cara por uma mais barata. “Para isso, deve confirmar o quanto paga de Custo Efetivo Total (encargos e despesas cobradas nas operações de crédito) na dívida atual e o quanto pagará no novo empréstimo”, explica. Em segundo lugar, deve fazer um orçamento, com seus recebimentos e suas despesas, para calcular o quanto pode comprometer de sua renda com esse novo empréstimo. “O limite máximo é que a soma de todos as suas dívidas não ultrapasse 30% do seu orçamento, o que comprometeria seu padrão de vida atual”, diz.
A renegociação de dívidas é um processo árduo. Para não esmorecer é necessário muita motivação e disciplina. De acordo com Simone, ter planos claros para o futuro, em outras palavras, descobrir sobre o porquê é importante se livrar das dívidas e quais sonhos poderá realizar quando elas não mais existirem, é uma ótima maneira de manter-se engajado e não desistir no meio do caminho
A fim de facilitar a tarefa, a educadora financeira recomenda colocar os sonhos no papel de maneira bem específica, escrevendo quanto custam, quando e como pretende realizá-los e porque são importantes. Além disso, Simone aconselha a sempre ler sobre seus sonhos, aproveitando para deixar claro que o valor pago pela dívida ajudará a realizá-los. “Isso é essencial para o seu cérebro entender que está ganhando algo com este plano de pagamento da dívida e não perdendo”, diz.
Melhor do que organizar-se financeiramente, mantendo-se motivado para se manter no plano de renegociação de dívidas, é manter sua vida financeira sob controle a fim de não passar por estes apuros. Para isso, conforme Simone, é preciso prestar a atenção a alguns maus hábitos financeiros que costumam levar ao endividamento. “Compras sem planejamento, surpresa ao abrir a fatura do cartão de crédito e falta de uma reserva de emergência são sinais de que suas finanças estão desgovernadas e você pode vir a se endividar a qualquer momento”, ressalta.
A reserva de emergência, por exemplo, segundo a educadora financeira, é uma excelente ferramenta para ajudar a não contrair dívidas. Simone afirma que o maior motivo de endividamento do brasileiro é o uso indevido do crédito e ao ter uma reserva financeira a pessoa evita justamente pegar dinheiro emprestado com juros altos. “Em casos de emergência, ela recorre à própria reserva, como se estivesse emprestando para si mesma”, comenta.
Para fazer seu controle financeiro e assim evitar dívidas futuras, Simone destaca que existem diversas ferramentas ou técnicas simples que podem ajudar, desde caneta e papel, passando por planilhas de Excel até o uso de aplicativos de smartphones e dos próprios bancos. Contudo, segundo a educadora financeira, o mais importante é manter conhecimento profundo da própria rotina financeira, a fim de evitar surpresas desagradáveis.
Patrícia Jimenes
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