Vivemos uma revolução que impacta todos os setores da sociedade: a revolução da longevidade. O envelhecimento da população brasileira e seus desdobramentos foram tema da apresentação que o médico Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-Brasil), fez, nesta terça-feira (16), no auditório do Museu do Amanhã.
Interagindo com o público, Kalache ressaltou que “o envelhecimento veio para ficar” e que só há “uma alternativa para a sociedade brasileira: envelhecer com qualidade”.
– Fechem os olhos e imaginem a idade que vocês vão morrer. Agora, pensem a forma como vocês acham que vão morrer, e o local – surpreendeu o médico, ao abrir o bate-papo do projeto “A ciência nos bastidores do Museu do Amanhã”.
Diante da maioria das respostas – “vida longa, até os 90 anos”, “morte natural” e “em casa” – Kalache retrucou: a realidade do futuro de uma cidade como o Rio tende a ser bem distinta. – Todo mundo pensa que vai morrer de “velhice”, de doença cardiovascular, o pá-pum, morreu. Mas só 10% das mortes hoje no Brasil se inserem nesse contexto. A imensa maioria das mortes é precedida de doenças crônicas. E a maioria das pessoas não vai morrer em casa, e sim em hospitais. Nada menos do que 14% das mortes no Brasil são violentas, incluindo os acidentes de trânsito – detalhou Kalache.
Formação dos médicos é falha
O aumento da população da terceira idade já é uma realidade no Brasil, mostrou o médico em sua apresentação. Em 2015, a população com mais de 60 anos no país somava 24 milhões de pessoas (11,9%). Daqui a 50 anos, chegará a 78 milhões, o que representará 22,9%. No entanto, o envelhecimento não tem sido acompanhado de uma especialização maior da sociedade para lidar com este segmento da população.
– Em 1975 o Brasil tinha 78 milhões de habitantes. Vamos ter 78 milhões apenas de idosos em 2065. Vamos viver 30 anos a mais que nossos avós. Mas falta capacitação da sociedade para lidar com isso. Você pega um estudante de medicina, hoje, e provavelmente ele não sabe nada de geriatria. Mas ele vai lidar com pessoas idosas. Vamos ver triplicar o número de idosos em hospitais. Envelhecer é bom. Morrer cedo é que não presta – disse Kalache, que durante 14 anos foi diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS) no Departamento de Envelhecimento e Curso de Vida.
O especialista em gerontologia mostrou-se preocupado com a qualidade do envelhecimento no Brasil (“Estamos envelhecendo com pobreza e imensos contrastes”) e cobrou um papel mais ativo dos homens nos cuidados aos mais velhos:
– É preciso uma revolução dentro da revolução: os homens participando dos cuidados dos idosos. Não discutimos morte no Brasil, não aprendemos a discutir morte no Brasil. O resultado é uma ênfase no curar quando você deveria ter uma ênfase no cuidar. Temos que lutar pelos direitos de participação do idoso. Ele pode ser participativo. Em todos os níveis temos que fazer um esforço muito grande para que o envelhecer seja algo muito bom.
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