Preconceito de gênero ainda é a principal dificuldade
Comum até bem pouco tempo atrás, a crença de que algumas profissões deveriam ser exercidas exclusivamente por homens ou mulheres hoje soa como algo estranho para as novas gerações. Aqueles que quebraram esse tabu enfrentaram dificuldades variadas e ultrapassaram preconceitos para chegarem onde queriam.
O mundo dos negócios, por exemplo, era tido como destinado ao universo masculino, sempre com homens empreendedores ocupando cargos estratégicos e de comando. Mesmo com este cenário sofrendo mudanças significativas ultimamente – somente no Brasil, o número de empresas abertas por mulheres cresceu 30% entre os anos de 2021 e 2022, segundo dados do Sebrae – certos estigmas ainda existem e são um obstáculo a mais para o empreendedorismo feminino.
Kathia Alves, fundadora e CEO da VIP Solutions, empresa especializada em soluções de telefonia em nuvem, passou por situações embaraçosas até se impor como executiva na área de telecom. “Como CEO de uma empresa do setor dominado por homens, enfrentei desafios significativos, incluindo o viés de gênero que dificultava o meu acesso a redes de relacionamentos, grupos de negócios e recursos”, afirma. Segundo ela, a preocupação com a forma de falar e de se comportar era constante para evitar que houvesse margem para alguma interpretação errada.
Já Flavia Mardegan, especialista em vendas e fundadora da Mardegan Transformation and Results, consultoria focada em ajudar empreendedores e gestores a aumentarem os seus resultados comerciais, não titubeia quando questionada sobre ter sofrido algum tipo de preconceito em sua jornada profissional. “Muitos! Eu me formei e comecei a trabalhar muito nova. Sofri preconceitos de várias formas: por ser jovem, o cliente tinha receio de entregar um projeto alto na mão de uma ‘menina’; e por trabalhar numa área comercial majoritariamente composta por homens. Eu era a única mulher de uma equipe de seis pessoas”, conta.
Com as competências sendo postas diariamente em xeque, as empresárias contaram com a resiliência para manterem os seus negócios. Para Kathia, essas experiências fortaleceram a sua empresa e hoje ela prioriza a diversidade e a inclusão. “Faço questão de termos um ambiente acolhedor”, declara. Já para Flavia, que ouviu por diversas vezes que vendia por causa da sua aparência e não porque tinha dois diplomas e ainda cursava administração de empresas, além de ser a primeira a chegar e a última a sair, o caminho que trilhou pode ser definido como árduo.
Estatísticas do Sebrae apontam também alguns elementos que retratam bem o cenário empreendedor no país. Por exemplo, as mulheres abrem negócios na mesma proporção que os homens e, normalmente, são mais escolarizadas. Porém, quando se trata de incentivos no núcleo familiar, 68% dos homens afirmam receber apoio de companheiros contra 61% das mulheres. Quando o assunto é preconceito de gênero, cerca de 25% das empreendedoras já sofreram preconceito em seus negócios por serem mulheres. Além disso, 42% já presenciaram outra mulher passando pelo mesmo problema.
Tanto Kathia Alves quanto Flavia Mardegan seguiram na contramão do que revelam os dados do Sebrae: os segmentos de negócios nos quais existe a predominância de mulheres no comando são os setores de alimentação e bebidas, de beleza e cosméticos, de artesanato e vestuário. Porém, a maior presença de mulheres empreendedoras em setores que mais apresentaram incremento nos últimos tempos, ou seja, serviços, comércio e indústria, já é percebido e celebrado.
Sobre o que diriam às mulheres que desejam empreender em áreas tipicamente masculinas, as empresárias são unânimes e afirmam que o mais importante é acreditar em si mesma e ter confiança nas próprias habilidades e conhecimentos. O conselho que dariam é o de investir constantemente no desenvolvimento pessoal, buscando aprender e evoluir.
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