À primeira vista, não há nada particularmente notável nos vermes-cera. Forma larval das mariposas da cera, essas larvas pálidas e contorcidas se alimentam da cera que as abelhas usam para fazer seu favo de mel. Para os apicultores, as pragas são algo para se livrar rapidamente, sem pensar duas vezes.
Por Redação, com BBC – de Londres
Uma determinada espécie de verme dispõe de enzimas capazes de quebrar matéria plástica que, de outra forma, levaria décadas, ou mesmo séculos, até se degradar na natureza.
À primeira vista, não há nada particularmente notável nos vermes da cera. Forma larval das mariposas da cera, essas larvas pálidas e contorcidas se alimentam da cera que as abelhas usam para fazer seu favo de mel. Para os apicultores, as pragas são algo para se livrar rapidamente, sem pensar duas vezes.
Mas em 2017, a bióloga molecular Federica Bertocchini, que na altura investigava o desenvolvimento embrionário de vertebrados no Conselho Nacional de Investigação espanhol, deparou-se com uma descoberta potencialmente revolucionária sobre estas criaturas.
Abelhas
Bertocchini, apicultora amadora, jogou alguns dos vermes em um saco plástico depois de limpar a colmeia e os deixou sozinhos. Pouco tempo depois, ela percebeu que os vermes começaram a produzir pequenos buracos no plástico, que começava a se degradar assim que tocava a boca dos vermes.
— Foi um verdadeiro momento eureca. Foi brilhante. Foi o começo da história. O começo do projeto de pesquisa, de tudo — disse Bertocchini à agência britânica de notícias BBC sobre a descoberta inicial e a compreensão do que ela significava.
Os vermes estavam fazendo algo que nós, como humanos, achamos extremamente difícil de fazer: quebrar o plástico. Não só isso, mas os vermes pareciam estar digerindo o plástico como se fosse comida.
Bertocchini e seus colegas pesquisadores começaram a coletar o líquido excretado da boca dos vermes. Eles descobriram que esta “saliva” continha duas enzimas críticas, Ceres e Demeter – nomeadas em homenagem às deusas romanas e gregas da agricultura, respectivamente – que foram capazes de oxidar o polietileno no plástico, essencialmente quebrando esse material em contato.
Na natureza
Atualmente, 400 milhões de toneladas de resíduos plásticos são produzidos globalmente todos os anos. Desse total, 19 a 23 milhões de toneladas (o equivalente a cerca de 2.000 camiões de lixo) infiltram-se nos ecossistemas aquáticos, onde grande parte é colonizada por microrganismos ou comida por animais.
Os plásticos levam de várias décadas a séculos para se decomporem completamente.
Deixar estes vermes soltos num ambiente poluído por plástico pode ser perigoso para os ecossistemas, especialmente dada a sua capacidade de destruir colmeias de abelhas, como observa Bertocchini. Mas ela tem esperança de que as enzimas que estes vermes produzem possam ajudar a enfrentar a crise mundial de poluição por plásticos.
Bertocchini é agora diretora de tecnologia da startup de biopesquisa Plasticentropy France, trabalhando com uma equipe para estudar a viabilidade de aumentar essas enzimas para uso generalizado na degradação de plástico.
— O objetivo geral é ser capaz de aplicar essas enzimas aos resíduos plásticos. Eu realmente quero que esta descoberta e tecnologia sejam desenvolvidas e transformadas em uma solução que possamos usar globalmente — conclui Bertocchini.
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