Especialista relembra fatos históricos que colocaram esse segmento aeroportuário em segundo plano, e aponta mudanças recentes na legislação para correção de rumo
A aviação comercial brasileira, em seus primórdios, operava apenas voos regionais, ou seja, dentro dos territórios dos estados. Para se ter uma ideia, as primeiras companhias aéreas no país nasceram em 1927, com a Viação Aérea Rio-Grandense (Varig) e o Sindicato Condor, que viria a se tornar a Cruzeiro do Sul. A Varig, por exemplo, operou por anos como uma empresa regional, atuando unicamente no Rio Grande do Sul.
Mas foi na década de 1940 que a aviação comercial brasileira deu seu maior salto expansionista, tanto em relação à sua frota, quanto à sua malha aérea, com voos de estados para estados. A consolidação de grandes empresas aéreas no Brasil teve início entre 1943 e 1945, devido à facilidade na compra de aviões, antes usados na Segunda Guerra Mundial para transporte de tropas militares. O investimento para a aquisição das aeronaves era relativamente baixo e, comumente, os aviões exigiam apenas um único piloto, o que baixava os custos operacionais.
Com o passar do tempo, a atual aviação comercial brasileira ganhou as dimensões que tem hoje, transportando mais de 110 milhões de pessoas ao ano, para os grandes centros populacionais e econômicos do país e do mundo. Por outro lado, a aviação regional, que antes era forte, passou a ficar desassistida, especialmente com o fim do Sistema Integrado de Transporte Aéreo Regional (Sitar) e a desregulamentação do setor da aviação no Brasil, durante os anos 1990.
“Ainda há uma carência grande de infraestrutura, ou seja, aeroportos regionais preparados para receber voos regulares. Outra questão é a falta de empresas operando nesse segmento, ou seja, falta de concorrência. Você até tem algumas empresas que operam no Norte e Nordeste, mas ainda são poucas. No Centro-Oeste, é quase inexistente. No Sul e Sudeste são duas empresas, e mesmo assim são poucas rotas regulares”, explica João Marcos Coelho, gestor Operacional e de Segurança do Antares Polo Aeronáutico, em Aparecida de Goiânia (GO).
Ex-funcionário de carreira da Infraero – Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária – , e gestor de aeroportos, com mais de 36 anos de experiência, João Marcos ressalta que a fomentação da aviação regional incrementaria outro segmento da aviação civil, a logística aérea. De acordo com dados da Anac, o maior índice de transporte de carga no Brasil ocorre em voos regulares, ou seja, compartilhamento de porão de aeronaves com carga, o que corresponde a 72% do transporte, enquanto 28% da carga é transportada em aeronaves cargueiras exclusivamente.
João Marcos explica que o transporte aéreo de carga por compartilhamento de porão opera com aeronaves tipo B737 – 300 e 400, que têm restrição para aeroportos de menor porte. Mas já as empresas atuam exclusivamente com transporte de carga, operam com aeronaves cargueiras, como a CESSNA 208, de menor porte e, portanto, adequada para operar em aeroportos regionais.
Um estudo divulgado recentemente pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) registra que o Brasil tem o 5º maior espaço aéreo do mundo, mas a aviação representa somente 18% das operações em seus modais de transporte, que inclui as modalidades rodoviária, ferroviária e hidroviária. De igual forma, dos 5.500 municípios brasileiros, apenas cerca de 130 são cobertos por rotas da aviação comercial. “Temos ainda um número baixo de viagens per capita em comparação com outros países, porém temos um potencial extraordinário de crescimento em razão de suas dimensões continentais e populacionais”, afirma João Marcos .
Novo cenário
De acordo com João Marcos Coelho, um primeiro e importante passo para o avanço do segmento da aviação regional já foi dado, que é a concessão para a iniciativa privada dos grandes aeroportos brasileiros, que na prática deverão focar nos grandes voos comerciais domésticos e internacionais. “Em razão dessas concessões, surgiram novas oportunidades de melhoria da infraestrutura dos aeroportos regionais e oportunidade de desenvolvimento especialmente da aviação regional”, diz.
O especialista destaca ainda iniciativas do poder público e do setor privado para fortalecimento da aviação regional. “No Brasil existem muitos aeródromos públicos, porém, sem infraestrutura necessária para atender a aviação regional. Podemos citar como exemplo no Estado de Goiás, a Goinfra [Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes | Goinfra] que vem adotando ações para, além de descentralizar a gestão de seus aeroportos, também dotá-los de infraestrutura adequada para atender a aviação regional especialmente”, cita.
Neste contexto, está também o Antares Polo Aeronáutico, novo aeroporto executivo privado, que está sendo construído na cidade de Aparecida de Goiânia pelas empresas goianas Tropical Urbanismo, Innovar Construtora, CMC Engenharia, BCI Empreendimentos e Participações e RC Bastos Participações, o polo Antares oferece terrenos para abrigar empresas ligadas ao setor aeronáutico, indústrias e operadoras de logísticas. Sua pista de pouso terá extensão de 1.980 metros e a largura passará de 45m, o que possibilitará a operação de aeronaves de maior porte.
Na sua primeira fase de construção, também serão entregues a área de embarque e desembarque e 72 lotes entregues de 1.000m² a 1.500 m², já com toda a infraestrutura necessária para a instalação de hangares e serviços ligados à aviação, o que inclui cabeamento em fibra ótica, pavimentação asfáltica, redes de água, esgoto e elétrica.
Raquel Pinho e equipe
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