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Ex-diretor estranha falta de resposta de Ratinho a estudo de viabilidade para s venda de 12 hidrelétricas da COPEL em véspera de apagão.

“Parece que a ideia é entregar patrimônio público a particulares quando os preços de energia ameaçam subir. Isso não tem apoio na realidade do mercado, na lei da oferta e da procura”, diz Ivo Pugnaloni.

O engenheiro eletricista Ivo Pugnaloni, ex-Diretor de Planejamento da COPEL e da COPEL DISTRIBUIÇÃO, requereu em maio deste ano ao governador Ratinho a publicação dos estudos que pudessem ter embasado a decisão do conselho de administração da companhia a vender a particulares, doze das dezoito hidrelétricas da empresa.

Na solicitação, Pugnaloni, que há 23 anos é empresário de consultoria em energias renováveis, afirmou na época ao governador em sua correspondência que operar essas usinas valorizaria a COPEL.

“Segundo a Bloomberg, os investimentos em empreendimentos que obedeçam a princípios ESG (Environmental, Social and Governance) será de US$ 53 trilhões até 2025″ . Isso significa juros mais baratos para o financiamento da expansão e melhoria da qualidade”, afirmou.

“Em todo o mundo, as hidrelétricas são a mais limpa, mais barata forma de gerar energia elétrica, mas de forma permanente, durante 24 horas por dia, sem necessitar gastos com baterias que hoje ainda nem são disponíveis no mercado”

Pugnaloni hoje afirma que a previsão da Empresa de Pesquisa Energética é de necessidade de contratar energia adicional já a partir de 2025, segundo o Relatório “Requisitos de Geração para Atendimento aos Critérios de Suprimento”

Onde estão as Atas e os Estudos?

“Só alguém que não pense nem no futuro próximo pode, em época de carência de um insumo, vender empreendimentos que produzem esse insumo. Ou se a intenção for favorecer eventuais compradores. Ficamos sem entender o que pretende o senhor governador e o conselho de administração. E como ele não nos responde a uma correspondência que solicita explicações, torna-se impossível compreender o que pretende o dirigente estadual, nos forçando a tomar outras providências.”

“Na época afirmamos ainda ao governador que as hidrelétricas também ajudam na contenção de enchentes, como fizemos no Rio Iguaçu onde graças às seis usinas da COPEL, conseguimos acabar com as enchentes, nos trechos médio e baixo do nosso grande rio. No trecho alto, por não termos construído qualquer forma de contenção e controle do nível, ainda temos enchentes na região de União da Vitoria. Infelizmente no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, o exemplo do Paraná não vingou, pois enquanto construímos dezenas de hidrelétricas como base de nossa industrialização, eles preferiram usar o carvão. E deu no que deu”.

“As hidrelétricas salvam vidas e patrimônio todos os dias quando reduzem a velocidade de escoamento e permitem regular o encontro das águas na foz dos rios. Quando não existem hidrelétricas em um rio, não existe nenhum controle. E é como se o semáforo de um cruzamento estivesse apagado e o engarrafamento torna-se inevitável. E a água sai do leito do rio e invade tudo que está à volta.”

Em seu ofício, datado de 13.05.24, Ivo Pugnaloni lembrou ao governador Ratinho que as hidrelétricas servem ao abastecimento de água potável a centenas de cidades brasileiras tais como Salvador, mitigando efeitos de longas estiagens.

“Hidrelétricas são a única forma de geração que é obrigada por lei a manter áreas de preservação permanente em seu entorno. E essas áreas evitam a ocupação e uso irregular do solo das margens, bem como a deposição de lixo nos rios. Elas viabilizam a piscicultura, o turismo, a educação ambiental, o lazer e a fruticultura irrigada por gotejamento”, disse Pugnaloni, que é o CEO da ENERCONS, empresa de consultoria paranaense que em 23 anos, teve 32 projetos de pequenas hidrelétricas aprovadas pela ANEEL, várias em operação.

“Todas essas vantagens dessas hidrelétricas que hoje a COPEL ostenta no seu portfólio, fazendo dela uma empresa ESG, ela poderá perder, e com isso, perder pontos no “ranking” ESG (Ambiental, Social e Governança) que regula muito os financiamentos bancários para infraestrutura”.

Pugnaloni ressaltou que o Estado do Paraná, que ainda é o maior acionista da COPEL não pode ignorar os compromissos assinados com as populações indígenas do entorno de empreendimentos, pois não se tem certeza que serão cumpridos pelos particulares que ficarem com elas.

“Por exemplo da Terra Indígena Apucarana, no município de Tamarana, com a Hidrelétrica de Apucaraninha de 10 MW”.

“Em termos de financiamentos para expansão e melhoria, seria um problema se os novos donos da Usina Apucaraninha, em busca do lucro fácil, quebrassem o relacionamento de hoje. Por exemplo se forem pessoas contrárias aos direitos dos indígenas e da população ribeirinha, seus acionistas perderão muitos pontos e no valor venal das ações.”

Ivo Pugnaloni reconhece que o governador em diversas oportunidades demonstrou seu interesse em estimular o desenvolvimento de pequenas hidrelétricas por particulares. E que isso é muito bom, mas quando se trata de expandir a produção de energia. “Mas só mudar de mão as usinas não gera energia nova. E existem meios muito mais eficientes para ajudar o setor, do que vender usinas que, hoje melhoram o “ranking” da COPEL para receber novos financiamentos. exatamente por serem geridos dentro de princípios ESG”.

Formado engenheiro eletricista pela UFPR em 1976, e ainda em franca atividade, consultor de mais de 110 empresas privadas, Pugnaloni recebeu em 2016 do CTEA PR o Diploma e Medalha de Mérito da Engenharia Elétrica por relevantes serviços prestados ao Estado do Paraná e Menção Honrosa pelo Conselho Federal de Engenharia e Agronomia.

Do ex-governador José Richa, Ivo Pugnaloni recebeu agradecimento especial por sua atuação na simplificação de padrões construtivos das redes rurais de distribuição da COPEL que reduziram em 42% os custos das ligações de energia aos pequenos proprietários. Tal fato, segundo José Richa, contribuiu para o sucesso do programa CLIC RURAL ampliando de 88.000 para 122.000 as famílias atendidas, com efeitos notáveis para a indústria, a agricultura, a avicultura, a suinocultura e bovinocultura do Estado do Paraná.

Pugnaloni criticou o fato da diretoria da COPEL ter chamado de “desinvestimento” o fato de vender a particulares suas usinas já amortizadas, que podem gerar ainda por muitas décadas, com tarifas muito melhores do que as que recebem hoje, graças ao preço da geração distribuída.

“Parece que na hora da COPEL lucrar com o que já está pago, querem entregar a única fonte renovável que opera permanentemente após as 18 horas, quando a energia solar deixa de existir”.

“Não podemos esquecer que a palavra “Paraná”, significa “rio semelhante ao mar” em tupi. E que nós, paranaenses, não” demonizamos” as hidrelétricas, que prestaram, prestam e prestarão enormes serviços à economia, ao meio ambienta e à sociedade paranaense, reduzindo os efeitos das grandes secas e enchentes que, a cada 11 anos, segundo a hidrologia, afetam nosso estado”.

“Água doce será um bem estratégico na próxima década. Os senhores conselheiros da COPEL precisam rever sua decisão. Não será nenhuma vergonha eles revisarem uma decisão que por muitos anos ficará registrada. Ainda mais se como sempre acontece, nova ameaça de apagão leve a novas elevações tarifárias e restrições ao consumo. Ao contrário seria uma demonstração de maturidade, de respeito à ciência econômica. Uma vez que o governador tenha preferido até o momento não nos responder, faremos na semana que vem um requerimento ao presidente do Conselho de Administração da COPEL para recolocar na pauta essa decisão, frente ao iminente risco de novo apagão e disparada nos preços ao consumidor, como sempre acontece nesses casos”, concluiu.

*Ivo Augusto de Abreu Pugnaloni é engenheiro eletricista é foi diretor de planejamento da COPEL e diretor presidente da COPEL DISTRIBUIÇÃO, do Instituto Estratégico do Setor Elétrico (ILUMINA), fundador e primeiro presidente da ABRAPCH, associação brasileira de pequenas hidrelétricas, secretário adjunto de transportes de Curitiba, membro do Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia do Paraná. professor do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná. Hoje Ivo é o presidente da ENERCONS Consultoria em Energias Renováveis. www.enercons.com.br


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