Escrito por Alisson Ficher
Com investimento bilionário, empresa aposta no “ouro branco” para transformar estado com nova usina de cana. A empresa promete gerar até 1.000 empregos e impulsionar a economia local, além de investir em tecnologia para aumentar a produção agrícola.
Enquanto os olhos do mundo se voltam para grandes metrópoles e inovações tecnológicas, uma revolução está em curso no extremo sul da Bahia.
Sem muito alarde, a Contegran, uma empresa relativamente jovem no mercado de commodities agrícolas, tomou uma decisão ousada que pode transformar o futuro de uma região historicamente marcada por desafios econômicos.
Com um investimento bilionário e uma promessa de transformação socioeconômica, a empresa está apostando alto no cultivo e produção do “ouro branco” — a cana-de-açúcar.
Essa transformação, que promete criar novos empregos e mudar a dinâmica econômica local, não surgiu da noite para o dia. Porém, a ambição por trás dela aponta para algo muito maior do que apenas uma nova usina de cana-de-açúcar.
É uma aposta no potencial agrícola do Brasil, na sustentabilidade da produção de açúcar e etanol, e na criação de uma nova era de oportunidades para os moradores locais. E é essa aposta que, agora, desperta a curiosidade e a expectativa de todos.
Aposta bilionária no futuro no ouro branco
A Contegran anunciou, segundo informações divulgadas pela Exame, um investimento que oscila entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão na construção de uma mega usina de cana-de-açúcar no extremo sul da Bahia.
O projeto, que deverá ser concluído até 2026, promete causar uma verdadeira revolução na região, gerando inicialmente 500 empregos, com o potencial de chegar a até 1.000 postos de trabalho. Embora a empresa não tenha revelado a cidade exata onde a usina será erguida, a expectativa em torno dessa iniciativa já movimenta debates e esperança na comunidade local.
Renan Lippaus, fundador e CEO da Contegran, destacou que o projeto vai muito além da simples construção de uma usina.
“Essa é uma aposta no futuro socioeconômico da região”, afirmou Lippaus em entrevista ao site Exame. A região, que enfrenta altos índices de desemprego, verá uma injeção significativa de capital e novas oportunidades de emprego e treinamento, um passo crucial para o desenvolvimento local.
Impacto econômico e social
A promessa de criação de até 1.000 empregos não passa despercebida em uma área onde as taxas de desemprego são alarmantes.
Esse investimento bilionário tem o potencial de desencadear um ciclo virtuoso de crescimento econômico, gerando mais renda, movimentando o comércio local e elevando a qualidade de vida dos moradores.
Para além dos empregos diretos, muitos setores da economia, como o transporte e a indústria de insumos agrícolas, também deverão se beneficiar dessa nova demanda.
O impacto vai além do financeiro. O treinamento e capacitação que a Contegran planeja oferecer aos trabalhadores locais significam que a população da região poderá desenvolver novas habilidades, ganhando expertise em um setor de alta tecnologia e inovação.
A construção da usina, portanto, não é apenas um avanço industrial, mas também um marco para o desenvolvimento humano e social da região.
Ascensão meteórica da Contegran
Fundada em 2019, a Contegran rapidamente se destacou no setor agrícola. Inicialmente focada no comércio atacadista de café robusta, comprando grãos de pequenos e médios produtores da Bahia e Espírito Santo, a empresa não demorou para expandir suas operações e começar a trilhar um caminho de sucesso. Em 2022, a Contegran já havia alcançado uma receita líquida de R$ 40 milhões.
Esse crescimento se acelerou em 2023, quando a empresa decidiu expandir sua atuação para o mercado internacional, exportando café para Europa, Ásia e Oriente Médio. Com um impressionante crescimento de 67,98% em sua receita líquida, a empresa alcançou mais de R$ 73 milhões em 2023, o que a colocou na vigésima sexta posição no ranking “Negócios em Expansão” da Exame.
Diversificação estratégica
A Contegran não parou no café. A empresa rapidamente diversificou sua atuação e, em 2023, passou a exportar também açúcar, além de planejar a comercialização de pimenta e cacau. O objetivo da empresa é se tornar uma referência no setor de commodities agrícolas, apostando tanto na exportação quanto no mercado interno.
“O açúcar será 100% para exportação. Vamos aproveitar que a Índia está enfrentando restrições para exportar o produto”, destacou Lippaus. O CEO da Contegran prevê um faturamento de R$ 500 milhões até o final de 2024, com o açúcar como o principal produto. A diversificação de produtos e mercados é uma das estratégias da empresa para garantir sua competitividade e liderança no setor.
Tecnologia a serviço da agricultura
Um dos pilares do crescimento da Contegran é seu compromisso com a inovação e a tecnologia. Em parceria com uma multinacional, a empresa está investindo R$ 3 milhões na construção de um laboratório em Itamaraju, na Bahia, que fornecerá análise de solo e plantas gratuitamente aos produtores locais.
“O laboratório é uma forma de trazer a tecnologia para o campo”, explicou Lippaus, evidenciando que a empresa está comprometida em ajudar os produtores a melhorarem suas técnicas agrícolas e, assim, aumentar a produtividade.
Esse foco em tecnologia e inovação está alinhado com a visão da Contegran de liderar a transformação agrícola no Brasil, não apenas pela produção em larga escala, mas também pelo uso de métodos avançados que respeitam o meio ambiente e otimizam a produção.
Um futuro promissor para a usina
A construção da usina de cana-de-açúcar é um dos muitos passos que a Contegran está tomando em direção a um futuro de expansão e sucesso. A empresa, que começou com o comércio de café, hoje já exporta para diversos países e está preparada para se tornar uma gigante do setor agrícola.
A aposta bilionária no “ouro branco” e na diversificação de produtos mostra que a Contegran está comprometida com o desenvolvimento da região sul da Bahia e com o futuro do agronegócio brasileiro. A usina de cana-de-açúcar promete ser um marco para a região e um símbolo do potencial transformador do setor agrícola no Brasil.
Comentário do Engenheiro e CEO da ENERCONS Ivo Pugnaloni
Para o CEO da ENERCONS, engenheiro eletricista Ivo Pugnaloni, a carga no sistema elétrico que essa nova unidade industrial vai acrescentar não poderá ser sustentada por geração solar, altamente influenciada por dias nublados, chuvosos e pelo inexorável horário depois das 16 horas, quando o sol vai se pondo. “Só fontes hidrelétricas ou termelétricas podem suprir cargas como essa, pois são permanentes. Resta saber se o Ministério de Minas e Energia vai preferir gerar energia elétrica com água nacional, ou com derivados de petróleo importados, caríssimos e poluentes” comentou.
Pugnaloni lamentou estar ainda paralisada nas assessorias do MME , há três anos, a precificação das externalidades ( benefícios e prejuízos adicionais ao meio ambiente) de cada fonte. “Talvez seja a ação dos poderosos “lobbies” aos quais se referiu o próprio ministro Silveira na sua excelente entrevista à CNN, semana passada”, disse o executivo que foi diretor de planejamento da COPEL , concessionária do Paraná.
“Não há como negar que as assessorias do MME estarão fazendo o governo incorrer em grave risco de judicialização caso o Leilão de Reserva de Capacidade não venha a atender ao artigo 26, parágrafo 1-G que determina que todos os benefícios ambientais e de garantia de fornecimento sejam considerados, nos certames como esse, que envolvem centenas de bilhões de reais em energia elétrica, disse ele.
“Vejam leitores o que diz a Lei 9784/99 Art. 26 § 1º-G. “O Poder Executivo federal definirá diretrizes para a implementação, no setor elétrico, de mecanismos para a consideração dos benefícios ambientais, em consonância com mecanismos para a garantia da segurança do suprimento e da competitividade, no prazo de 12 (doze) meses, contado a partir da data de publicação deste parágrafo. Se isso não aconteceu, o MME corre o risco de um mandado de segurança interromper todo esse processo de compra enorme, pois a data de publicação deste parágrafo foi 01.03.21. E quem aviusa, geralmente, amigo é”, adendou.
“O atual governo brasileiro precisa entender, de uma vez por todas, que não basta geração solar e eólica para fazer a transição energética, pois elas são fontes intermitentes. Param de uma hora para a outra de produzir. Essas duas fontes são muito boas, mas tem esse grave defeito. Sem novas hidrelétricas para completar a geração faltante da solar e eólica a cada momento, a nossa matriz vai ter que usar cada vez mais termelétricas que já são, graças às manobras desses lobbies, mais de 37% da capacidade instalada do Brasil”, concluiu preocupado Ivo Pugnaloni.
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