Qual o papel da tecnologia na integração estratégica de cadeias logísticas?

Por Eduardo Leonel, CEO da Mundial Logistics Group*

Setembro/2024 – Nos últimos anos, a democratização da internet e a redução dos custos das telecomunicações impulsionaram o surgimento de diversas tecnologias para conectar pessoas, empresas e objetos. Avanços em e-commerce, redes sociais, inteligência artificial e Internet das Coisas (IoT) estão elevando a integração das cadeias logísticas a novos patamares, com grandes volumes de informações. É essencial que a digitalização da Supply Chain torne-a mais ágil, adaptável e alinhada, beneficiando não só o fluxo de produtos, mas também a experiência do cliente.

O conceito de integração estratégica das cadeias de suprimento, introduzido em 2004 no artigo “The Triple-A Supply Chain” do professor Hau Lee, continua relevante hoje. Naquele tempo, as empresas buscavam cadeias logísticas rápidas e baratas para reduzir custos, mas Lee mostrou que essas qualidades sozinhas não garantem competitividade.

Lee identificou três fatores fundamentais para o sucesso: Agilidade, Adaptabilidade e Alinhamento. Agilidade refere-se à capacidade de tomar decisões rápidas; Adaptabilidade, à capacidade de ajustar-se às mudanças; e Alinhamento, ao comprometimento dos parceiros da cadeia com os objetivos empresariais. Desses fatores, o Alinhamento — relacionado às tecnologias da informação — é o mais desafiador, mas essencial para garantir fidelização e uma experiência de cliente superior, especialmente à medida que as empresas precisam se adaptar rapidamente.

Excelência em todas as etapas da cadeia de suprimentos

Costumo explicar logística e supply chain como o controle de produtos e materiais em duas situações: parados ou em movimento. Parados em locais como armazéns ou centros de distribuição, e em movimento em meios como trens, navios ou drones. A chave é garantir que os itens certos estejam no local certo na hora certa. A integração das cadeias logísticas é fundamental para gerenciar informações e tomar decisões que garantam a excelência em cada etapa, seja no armazenamento ou no transporte.

Com a visibilidade proporcionada por informações precisas, as organizações podem ajustar expectativas e melhorar a experiência do cliente. Se um produto promete chegar hoje, ele deve cumprir essa promessa. A agilidade, adaptabilidade e alinhamento da cadeia são cada vez mais importantes, especialmente considerando a ênfase na experiência do cliente no last mile e a abundância de opções disponíveis.

Conceitos como customer experience, customer centricity e customer success são agora cruciais, não só em relação ao produto, mas também à satisfação com as soluções e ao alinhamento de valores pessoais. A integração eficaz das cadeias de suprimento é essencial para encantar o consumidor e competir em ecossistemas de negócios, onde a conexão com outros parceiros pode definir a competitividade da empresa.

A utilização das tecnologias certas

Variáveis externas são inevitáveis na gestão da supply chain, mas o que diferencia as operações é a capacidade de recuperar o nível de serviço diante de problemas. As empresas só alcançam eficiência e assertividade ao usar as tecnologias e controles corretos.

No Brasil, a gestão da cadeia de impostos pode ser mais importante do que a supply chain em si, pois benefícios fiscais podem reduzir significativamente os custos, enquanto gastos logísticos variam entre 1% e 10% das vendas. Portanto, estabelecer redes adaptáveis é essencial. Conectar-se a uma rede que monitore tendências e mudanças de mercado permite à empresa ajustar sua cadeia conforme necessário, usando ferramentas como big data e analytics.

Embora a estratégia inicial da cadeia logística deva vir da indústria e dos principais embarcadores, prestadores de serviços, como operadores logísticos e transportadoras, estão cada vez mais envolvidos na sua elaboração. Esses prestadores aplicam boas práticas em diversos mercados e segmentos, e as grandes empresas estão apostando em ecossistemas de supply chain para obter vantagens competitivas além do produto oferecido.

Pessoas, processos e tecnologias

O ponto-chave da integração das cadeias de suprimento é orquestrar pessoas, processos e tecnologias. Com esses três elementos bem estabelecidos, a chance de crescimento sustentável aumenta consideravelmente.

Em minha trajetória, vivi experiências que exemplificam a importância desses fatores. Em uma implantação de operação para e-commerce, tivemos que realizar o trabalho de três meses em cinquenta dias devido à agilidade, adaptabilidade e alinhamento do supply chain. Em outra situação, minha equipe viajou a Nova Iorque para entregar um produto, e no início da minha carreira, eu mesmo precisei fazer entregas para cumprir prazos.

Esses exemplos mostram a necessidade de flexibilidade e agilidade no atendimento ao cliente. Além da tecnologia, a integração estratégica das cadeias logísticas depende de colaboração, troca de experiências e aprendizado contínuo. Para o crescimento da empresa, é fundamental construir relacionamentos baseados em confiança e transparência, mesmo que o caminho seja desafiador.

Sobre Eduardo Leonel*

Leonel se define como um engenheiro apaixonado por serviços para Supply Chain. É formado em Engenharia Mecânica pela UFRJ, com pós-graduação em Administração de Empresas pela FGV e especialização em Strategic Thinking pela Cambridge Judge Business School. Construiu uma sólida carreira em Supply Chain com iniciativas como empreendedor e como executivo. Foi sócio fundador da Volo Logística e ocupou posições de liderança em empresas nacionais e multinacionais como TNT (atual Ceva), Michelin, Saint Gobain, Katoen Natie, Libra e TPC/Simpar. Ao longo de sua trajetória liderou projetos de transformação digital e crescimento empresarial, participando ativamente de agendas de inovação para o desenvolvimento de estratégias e soluções em logística para os setores de saúde, varejo e bens de consumo.

Bruno Vinicius Pereira Neves