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A Democracia no Brasil encontra-se em uma encruzilhada

Por Luciane da Luz | Socióloga, Mestre em Desenvolvimento Regional e Coordenadora do curso de Ciência Política na UNIASSELVI

O Brasil é uma das maiores democracias do mundo, tanto em termos populacionais quanto pela complexidade de seu sistema político. Após um longo período autoritário, o país consolidou avanços na governança democrática, mas ainda enfrenta desafios estruturais que ameaçam o pleno funcionamento das instituições e a confiança popular.

Um dos principais desafios é a polarização política, que se intensificou desde as eleições de 2014, atingindo seu ápice em 2018 e persistindo até hoje. A divisão entre grupos políticos cria um ambiente hostil ao diálogo e transforma o debate democrático em uma arena de ataques pessoais e desinformação. Isso dificulta a construção de diálogos, fundamental para a governabilidade e para políticas públicas inclusivas em uma sociedade diversa como a brasileira.

Outro problema crítico é a crescente desconfiança nas instituições. Pesquisas mostram uma queda na confiança da população no Congresso, no Executivo e até mesmo no Judiciário. A sucessão de escândalos de corrupção, somada à percepção de impunidade, mina a legitimidade dos representantes e reforça a ideia de que as instituições estão desacreditadas e desconectadas dos interesses do povo. A falta de transparência e responsabilidade aumenta o descontentamento social e corrói as bases do regime democrático.

Nesse contexto, a disseminação de notícias falsas e teorias conspiratórias se torna um problema significativo. O impacto das fake news nas eleições e no cotidiano político contribui para distorcer percepções, alimentar preconceitos e fomentar um ambiente de incerteza, que favorece discursos autoritários. O problema não está apenas na criação de conteúdos falsos, mas também na dificuldade das instituições e plataformas digitais em regularem eficazmente esse fenômeno, que compromete a integridade dos processos democráticos.

Apesar desses desafios, a democracia brasileira tem mostrado resiliência. A alternância de poder e o funcionamento das instituições permanecem como pilares essenciais. Movimentos da sociedade civil, imprensa livre e setores acadêmicos desempenham papéis fundamentais na vigilância e na denúncia de abusos. Contudo, essa capacidade de resistência não deve ser confundida com estabilidade; ela ressalta a necessidade de reformas contínuas no sistema político.

Para o futuro, três aspectos merecem atenção. O primeiro é a educação política. Uma população bem-informada é crucial para uma democracia saudável. O segundo é a reforma eleitoral para reduzir a influência do poder econômico e aumentar a representatividade. O terceiro é o fortalecimento de políticas públicas que diminuam a desigualdade social, pois a democracia não se sustenta em um contexto de disparidade.

Em conclusão, a democracia brasileira está em uma encruzilhada. O caminho a ser trilhado nos próximos anos determinará se conseguiremos superar os desafios atuais e consolidar uma sociedade mais justa e democrática, ou se cederemos a retrocessos que ameaçam os valores construídos com tanto esforço. A responsabilidade é de todos: cidadãos, representantes e instituições. Que saibamos escolher com sabedoria.


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