A exploração do carvão em Alfredo Wagner -Faxinal Preto: Uma história de promessas, trabalho e despedidas
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A exploração do carvão em Alfredo Wagner – Faxinal Preto: Uma história de promessas, trabalho e despedidas

A história do Faxinal Preto, em Alfredo Wagner, nunca foi amplamente contada ou pesquisada. Embora não tenha se consolidado como uma comunidade, o local foi palco de eventos que marcaram épocas de promessas, trabalho intenso e um encerramento abrupto. Neste artigo, reconstruímos essa narrativa através das notícias publicadas em jornais da época, desde a venda de terras até o fim da exploração de carvão, passando pelo auge das atividades e as festas que simbolizaram esperanças de desenvolvimento.

A geologia de Faxinal Preto

Um aspecto geológico relevante para compreender a formação e o contexto de Faxinal Preto é descrito no trabalho de Reinhard Maack no Brazilian Archives of Biology and Technology. Segundo Maack, a meseta de Faxinal Preto, localizada a oeste da Chapada da Boa Vista (com altitudes entre 1100 e 1240 metros), representa uma escada de falha (Staffeln) composta por camadas gonduânicas, elevadas em forma de pilar (horst) e inclinadas para sudoeste. Este relevo é isolado da escarpa principal por vales alinhados a linhas de falha. As falhas longitudinais, embora difíceis de verificar, apresentam uma direção N50-60ºE, enquanto as falhas transversais predominantes, mais evidentes, cruzam-se em direções N290ºW e N320-340ºW, formando blocos em forma de cunha. As diferenças de nível dessas falhas variam de alguns metros a até 300 metros, destacando a complexidade tectônica que moldou o terreno de Faxinal Preto e seus arredores. Essa peculiaridade geológica contribuiu para o ambiente singular da região, onde se desenvolveram atividades como a exploração do carvão.

O início: a venda de terras e a concessão federal para a exploração

As primeiras referências ao Faxinal Preto aparecem nas notícias relacionadas ao pedido de Raulino Julio Adolpho Horn por terras devolutas na região.1 O local fazia parte de uma área maior colocada à venda com a expectativa de atrair compradores interessados no potencial econômico do solo, rico em recursos minerais. Essas terras eram vistas como promissoras para a exploração de carvão, um recurso valorizado na época devido à demanda crescente por energia e combustível.2

Através do Decreto nº 11.005, de 3 de Dezembro de 1942, Getúlio Vargas, então Presidente da República, autorizava Alvaro Miranda a pesquisar carvão mineral no Faxinal Preto que na época pertencia ao município de Bom Retiro, como outras comunidades de Alfredo Wagner.3

As manchetes da época transpareciam otimismo. A venda representava a possibilidade de desenvolvimento, atraição de investidores e o surgimento de uma nova comunidade. No entanto, os anos seguintes mostrariam que essa esperança seria mais uma promessa do que uma realidade concreta.4

O auge: exploração do carvão e a festa

Com o início da exploração de carvão, o Faxinal Preto ganhou destaque como um local de trabalho e movimentação. Já não era apenas um ponto geográfico, mas um centro de atividades que mobilizava trabalhadores e gerava expectativa de progresso. A inauguração de um caminho ligando o local à estrada que liga Florianópolis a Lages, foi comemorada como um marco, simbolizando a integração e o avanço.5

A festa de inauguração, amplamente divulgada na imprensa, reforçava o clima de esperança. Era uma celebração não apenas da infraestrutura, mas do futuro promissor que parecia estar ao alcance. Trabalhadores e famílias participaram com entusiasmo, acreditando que estavam construindo algo duradouro.6

No entanto, as condições de trabalho nas minas nem sempre eram fáceis, e as promessas de desenvolvimento pleno nunca se concretizaram. A falta de uma organização comunitária estruturada e de investimentos sustentáveis limitou as possibilidades de transformação do local em uma verdadeira comunidade.

O declínio: o fim da exploração

Com o tempo, a exploração de carvão no Faxinal Preto começou a declinar. As razões para isso variaram, desde a exaustão dos recursos até mudanças no mercado que tornaram a atividade menos viável economicamente. As notícias que antes celebravam o potencial da região agora traziam relatos do fechamento das minas e do impacto para os trabalhadores.7

O encerramento das atividades marcou o fim de uma era para o Faxinal Preto. Sem o carvão, o local perdeu a principal razão para atrair pessoas e investimentos. A estrada que um dia simbolizou progresso tornou-se apenas uma rota para um lugar que nunca alcançou o desenvolvimento esperado.

Reflexão: a história não realizada de Faxinal Preto

A história do Faxinal Preto, reconstruída por meio das notícias, é um retrato de como expectativas e realidade podem divergir. O local não se tornou uma comunidade, mas deixou um legado de memórias e histórias que ainda podem ser exploradas por pesquisadores e moradores interessados em entender melhor o passado de Alfredo Wagner.

Ao contar essa história pela primeira vez, esperamos despertar a curiosidade de outros pesquisadores para aprofundar-se nos eventos que moldaram o Faxinal Preto. Afinal, mesmo os lugares que não se consolidam têm suas próprias narrativas para contar, e o Faxinal Preto é um exemplo claro disso. Que essa história seja o ponto de partida para novos olhares e descobertas sobre a região.

Algumas notícias publicadas e páginas em destaque:

  1. https://memoria.bn.gov.br/DocReader/887374/243 [↩]
  2. https://memoria.bn.gov.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=711497x&pesq=%22Faxinal%20Preto%22&hf=memoria.bn.gov.br&pagfis=26091 [↩]
  3. https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1940-1949/decreto-11005-3-dezembro-1942-467161-publicacaooriginal-1-pe.html [↩]
  4. https://memoria.bn.gov.br/DocReader/883123/14857 [↩]
  5. https://memoria.bn.gov.br/DocReader/883123/16220 [↩]
  6. https://memoria.bn.gov.br/DocReader/883123/16755 [↩]
  7. https://memoria.bn.gov.br/DocReader/883123/16330 [↩]