A conectividade no meio rural tem se tornado um dos principais desafios para o avanço da agricultura brasileira. Apesar do avanço na digitalização da economia e da modernização das práticas agrícolas, a falta de infraestrutura para o acesso à internet ainda limita o potencial produtivo do país. De acordo com um indicador criado pela ConectarAgro, apenas 23,8% da área disponível para produção agrícola no Brasil conta com cobertura de internet. Esse dado revela uma lacuna preocupante e reforça a necessidade urgente de investimentos em infraestrutura tecnológica para garantir que o setor agropecuário possa usufruir plenamente dos avanços da chamada agricultura 4.0.
O impacto da conectividade no campo vai muito além da melhoria da comunicação entre produtores. O acesso à internet é essencial para a implementação de tecnologias como sensores inteligentes, drones, inteligência artificial e big data, que tornam os processos produtivos mais eficientes, reduzem desperdícios e aumentam a previsibilidade das safras. Além disso, máquinas e equipamentos agrícolas podem ser automatizados, resultando em maior precisão operacional e menor consumo de recursos naturais.
A digitalização no campo já oferece inúmeras vantagens para os produtores. Tecnologias baseadas na Internet das Coisas (IoT) possibilitam a automação de práticas fundamentais, como irrigação, fertilização, semeadura e controle de pragas, otimizando o uso de insumos e reduzindo desperdícios. Além disso, a conectividade permite que os dados gerados por sensores e dispositivos sejam analisados em tempo real, ajudando na tomada de decisões estratégicas e aumentando a produtividade sem a necessidade de expandir a área cultivada.
Um exemplo do impacto positivo da conectividade pode ser visto na adoção de semeadeiras e colheitadeiras equipadas com inteligência artificial, que ajustam automaticamente seus parâmetros de operação com base nas condições específicas do solo e do clima. No entanto, para que essas inovações funcionem de maneira eficiente, é indispensável que a conexão seja estável e de qualidade. Da mesma forma, drones utilizados para o monitoramento da lavoura e sensores de solo que avaliam a umidade e a composição do terreno só podem entregar seu máximo potencial quando estão integrados a sistemas conectados à internet.
Além da modernização das operações agrícolas, a conectividade transforma a comunicação no meio rural, aproximando produtores de clientes e fornecedores. Ferramentas amplamente utilizadas em centros urbanos, como o WhatsApp, tornam-se valiosas aliadas na negociação de insumos e na comercialização da produção, trazendo agilidade e eficiência às transações. O acesso facilitado a serviços básicos também é um dos grandes ganhos da digitalização no campo, viabilizando atendimentos remotos de fornecedores, consultas médicas por telemedicina e até educação a distância, permitindo que trabalhadores rurais tenham oportunidades de qualificação sem precisar se deslocar para grandes centros urbanos.
Apesar dos benefícios evidentes, os desafios para expandir a cobertura de internet no campo ainda são significativos. A falta de infraestrutura de telecomunicações, o alto custo de implementação e as barreiras geográficas dificultam a expansão das redes para áreas mais remotas. No entanto, soluções inovadoras estão surgindo para superar esses obstáculos, como a implementação de redes móveis de baixa frequência, a popularização da internet via satélite e a ampliação da cobertura do 5G, que promete levar conexão de alta velocidade a locais antes inacessíveis.
A transformação digital no agronegócio brasileiro depende de um esforço conjunto entre governo, empresas de tecnologia e o setor agropecuário. Parcerias público-privadas, incentivos fiscais para investimentos em conectividade e o desenvolvimento de políticas públicas voltadas à inclusão digital no campo são medidas fundamentais para acelerar esse processo. Somente com uma infraestrutura robusta e acessível será possível garantir que o Brasil continue se destacando como potência agrícola global, aliando produtividade, inovação e sustentabilidade em um modelo de desenvolvimento equilibrado e competitivo.
*Por Severino Sanches, CEO da Agora Distribuidora.
Mariana Fonseca Guerra
midiaria.com