A foto que ilustra o artigo foi tirada a partir do Morro do Cemitério, provavelmente em 1963. Aparece Odair Schweitzer (dono da foto) e um amigo seu, cujo nome me é ignoto.
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…foi em outros carnavais

Por Juliano Wagner

Neste último carnaval, mais uma vez Alfredo Wagner foi brindada com o desfile, ocorrido na tarde de sábado, dia 18, do bloco “TDB”, sigla para “Tudo de Bom”. Iniciado modestamente em 2007, por iniciativa dos irmãos Fred e Camilo Andersen e seus amigos, o grupo foi se expandindo, e celebrou, neste ano, sua 6ª edição. Passou a formar, consequentemente, o calendário de eventos anuais da cidade.

Existem municípios que cultivam de modo admirável suas tradições, orgulhando-se delas e não permitindo que, sob qualquer pretexto, se esvaiam. Os blumenauenses deram demonstração vívida disso quando, na década de 70, se rebelaram ante a cogitação de que a Ponte Aldo Pereira de Andrade, popularmente conhecida como “Ponte de Ferro”, fosse demolida. Hoje ela é um dos símbolos daquela cidade.

Alfredo Wagner, mesmo desproporcional em tamanho a Blumenau, é também ligada às suas memórias, e conviveu desde os primórdios de sua formação com peculiaridades, costumes. Uma época fértil para a expressão dessas tradições, nos tempos da vila de Barracão, era o carnaval.

Na década de 1930, adultos, jovens e crianças se reuniam no Salão da comunidade (onde hoje é o Bar e Dormitório Zelito Schäffer) e, posteriormente, no Clube União, formando animados blocos de carnaval. Havia já fantasias, e as músicas eram alegremente entoadas e dançadas. Na Lomba Alta, as moças se dirigiam à casa do Seu Gustavo Schüller – o primeiro a adquirir um rádio na região – para aprender as marchinhas de carnaval. O Senhor Schüller não se perturbava com a presença das visitantes, mas impunha a condição de que apenas ele pudesse operar o valioso aparelho.

Outra brincadeira bastante popular era o entrudo, que consistia numa série de travessuras, como as pessoas lançarem-se mutuamente recipientes com água e outros líquidos. Acontecia tanto no velho Barracão quanto em comunidades do interior.

Em meados da década de 1940, num carnaval, se realizava mais um entrudo no Sombrio – assim era conhecida a área que atualmente abrange o centro da cidade. Praticamente todas as casas possuíam sótão, de onde se abriam duas janelas. Lá ficavam pessoas escondidas, despejando água nos pedestres. Outros foliões, mais audaciosos, permaneciam na rua mesmo, à espera de desavisados transeuntes. De repente, passa pela frente da padaria do Seu Joaquim e da Dona Beleza (onde é o Posto do Liço atualmente), o Senhor José de Campos, trajando um terno impecavelmente branco, chapéu, sapatos… Um dos arteiros sussurrou: “Lá vem mais um!”. Só deu tempo de pegar o balde e jogá-lo todo sobre o seu “Zé Campo” – como era chamado. Ficou encharcado! As gargalhadas foram gerais, e só cessaram quando se percebeu que ele, um homem sério, de poucas brincadeiras, ficara furioso. Todo molhado, se dirigiu à sua residência (ao lado de onde hoje é a Casa Iung), prometendo retaliação. Os brincalhões sumiram. As janelas ficaram pipocadas de curiosos, à espera da temida reação do homem. O menino Altair Wagner, que estava nesse dia na venda de seu tio Doia – Rodolpho João Schmidt (onde hoje é o prédio dos Linder), acompanhava de longe situação. Não demorou até que ele voltasse, com revólver em punho, procurando, irado, os autores da sacanagem. Evidentemente não mais os encontrou. Nervoso, foi aconselhado e acalmado pela sempre presente “turma do ‘deixa-disso’”, ou seja, aquelas pessoas de bem, que procuravam apaziguar a situação.

Atualmente, não mais ocorre o entrudo em Alfredo Wagner. Minha mãe, nascida, criada e residente em nossa cidade, relata ter convivido, em sua infância, com tal tradição. Já eu, na verdade, fiquei conhecendo esse termo há relativamente pouco tempo, e sei que minha geração também não o tenha vivenciado.

Brincadeira de bom ou de mau gosto, certo é que o entrudo foi uma forte manifestação cultural e, por isso, compõe a nossa História.


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