Affonso Ghizzo Neto,
Promotor de Justiça e idealizador do Projeto “O que você tem a ver com a corrupção?”
O fenômeno da corrupção manifesta-se em nossos dias de forma tão intensa e diversificada que não há como negar sua generalização, ainda que indevida, na sociedade brasileira. Os desvios de verbas previdenciárias, as fraudes eleitorais, as apropriações de verbas públicas, o nepotismo, os cabides de emprego, os funcionários fantasmas, a sonegação fiscal, a profusão entre o público e o privado, o jeitinho brasileiro, “mensalinhos” e “mensalões”, enfim, a corrupção materializada em hábitos cotidianos tão comezinhos comprova a massificação de um processo antieducacional baseado no individualismo, na ignorância e na manipulação. Na macrocriminalidade, a engenharia da corrupção desenvolveu novas e modernas tecnologias com o objetivo de melhor se apropriar de bens e direitos alheios.
A corrupção só poderá ser efetivamente combatida e atenuada a partir da criação de um ambiente com condições propícias para informação isenta e transparente. Sem a formação de uma consciência universal, estruturada através de estímulos à reflexão crítica (seres pensantes) e definida consensualmente num processo educativo plural, tudo permanecerá como outrora.
Assim, a partir da compreensão histórica do fenômeno da corrupção, de suas origens patrimoniais – com a edificação de valores antimorais, da compulsão orçamentária, do consumo desmedido, da repulsa ao trabalho produtivo, da dependência e bajulação ao poder – poderemos identificar o caminho da reconstrução cívica, através da educação das novas gerações como instrumento de conscientização para a democracia e o exercício independente e livre da imprensa nacional, comprometida unicamente com a verdade e a isenção.
Por certo, longe de qualquer discurso fantasioso, hipócrita ou ingênuo, a formação de seres pensantes passa necessariamente pelo exercício democrático de uma imprensa livre e independente. Como se vê, essencial se torna uma informação voltada para a educação. Como diz o mote da Campanha “O que você tem a ver com a corrupção?”: Uma sociedade só se modifica quando os indivíduos que a compõem se modificam. A educação das novas gerações é o único instrumento possível capaz de deter o fenômeno da corrupção. O que somente se poderá realizar através da informação crítica e libertária, do diálogo franco e horizontal, do julgamento consciente e compreendido, da ação responsável e comprometida, da convivência harmônica e tolerante, da escolha de bons exemplos, da nova ética humana e da visão complexa universal, atos esses proporcionados e disseminados por uma educação instrumental de conscientização para a democracia. Urge, portanto, reeducar cada indivíduo para a convivência consciente e harmônica, baseada na informação livre, em busca de seres pensantes, responsáveis e sujeitos de suas próprias histórias. Eis a utopia!
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