Jornal é coisa do futuro
Da redação
Sentar com uma xícara de café numa mão e o jornal do dia na outra, enquanto observa o movimento da rua é uma cena que não pertence ao passado e o motivo disso é a credibilidade dos jornais impressos. É o que diz a pesquisa divulgada pelo Ibope no início do ano, que aponta que os jornais impressos estão na liderança de confiança dos brasileiros como meio de comunicação. O percentual dos entrevistados que disseram que confiam sempre ou muitas vezes nas notícias publicadas em jornais é de 59%.
Para o presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Marcelo Rech, essa confiança se deve à seriedade dos veículos e à qualidade dos profissionais. “Temos nos inovado e nos transformado constantemente. Há um claro consenso nas redações de que, fora da credibilidade, não há caminho possível”, destaca Rech. A presidente da Federação dos Jornalistas (FENAJ) complementa: “a mídia impressa tem valor de documento histórico ou mesmo prova documental”.
Os jornais há muito deixaram de ser apenas veículos impressos e hoje, são plataformas multimídia de difusão de informações e opiniões. No ano passado, mais de 80 milhões de brasileiros acessaram jornais em seus formatos digitais, de acordo com o Instituto Verificador de Comunicação (IVC). “Nosso foco é conteúdo de qualidade, e ser reconhecido por esse conteúdo também no meio digital mostra que estamos cumprindo nossa missão”, reforça Rech.
O crescimento da participação digital na circulação dos principais jornais brasileiros é a tendência atual. A Folha de S. Paulo foi o primeiro jornal a ter circulação digital maior que a impressa. Em agosto do ano passado, a edição digital alcançou mais da metade do total. Dos 316,5 mil exemplares de média diária no mês, 161,8 mil ou 51% foram relativos à edição digital do jornal, contra 154,7 mil (49%) da impressa.
O impresso, no entanto, continua tendo espaço, já que existe um público que não abre mão. Rech destaca que o jornalismo impresso continuará sendo necessário, em primeiro lugar como certificador das informações e fatos, especialmente sobre aquilo que circula no meio digital. Em segundo lugar, como ‘aprofundador’ da informação, com reportagens, investigação e diferentes visões sobre um mesmo fato. “Por último, mas não menos importante, com opiniões variadas e pluralidade de vozes. Devemos estar à disposição do público em todas as plataformas, da forma e na hora que for mais conveniente para ele”, comenta.
Crédito de arte: Edson Egerland
O diretor geral do Jornal Imagem da Ilha, Hermann Byron acredita que o jornal impresso, assim como o jornal digital, tendo fontes de informações confiáveis, feito com a seriedade de uma equipe de jornalistas profissionais só tem a acrescentar ao leitor. “Para nós, do Imagem da Ilha, é gratificante o reconhecimento que recebemos no dia a dia, seja por email, por um simples comentário em uma rede social ou até mesmo em uma conversa informal. Para os nossos leitores, o jornal é tido como referência de conteúdo para a cidade”, comemora.
Modelo de negócio
O jornalismo impresso e a produção de mídia como um todo têm sido sustentados no Brasil pela publicidade. Com a pluralidade de mídias, o bolo publicitário tem de ser mais dividido e isso está gerando a crise no modelo de negócios. “O que fazer? Os jornalistas e toda a sociedade precisam pensar outras formas de financiar a produção jornalística, como associações que não visam lucros; financiamento público e outras alternativas”, discute Maria José Braga.
Murilo Bussab, diretor de circulação e marketing da Folha de S. Paulo, acredita que o maior desafio no momento é transformar uma parcela maior, do total de 20 milhões de leitores digitais do jornal, em leitores pagantes. Até a adoção do “paywall”, sistema de assinatura usado por jornais e outros veículos de comunicação digitais que permite ao internauta o acesso a conteúdos restritos, ninguém pagava para ler digitalmente.
O avanço é resultado natural da resposta dos jornais à mudança do consumidor de notícias para outras plataformas. O presidente da ANJ, Marcelo Rech, acredita que o modelo mais sustentável no longo prazo é o de assinaturas, ou de associação a uma marca jornalística, em troca de uma série de benefícios e serviços prestados pelo veículo.
Notícias falsas
As redes sociais são uma fonte permanente de notícias falsas. De acordo com o Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas de Acesso à Informação da USP, três em cada cinco matérias compartilhadas no Facebook na última semana do impeachment de Dilma Rousseff eram falsas. Outro levantamento realizado pelo portal de notícias BuzzFeed, apontou que nas semanas anteriores à eleição americana, o número de informações falsas superou o de notícias verdadeiras. Os links mentirosos com mais compartilhamentos demonstravam apoio ao republicano Donald Trump.
Acusado de favorecer indiretamente a eleição de Trump à presidência dos Estados Unidos ao não filtrar notícias falsas que circulavam na rede, o Facebook, por meio de seu fundador, Mark Zuckerberg, prometeu fiscalizar boatos e falsificações na rede social através de um algoritmo específico para bloquear informações enganosas e também impedir que as publicações se beneficiem de seus serviços de publicidade.
No início deste mês, a News Media Association (NMA, entidade que representa 1.100 títulos de veículos de comunicação do Reino Unido) pediu ao Comitê de Cultura, Mídia e Esporte britânico que investigue formalmente o impacto de Google, Facebook e do modelo de anúncios digitais sobre a proliferação de notícias falsas.
O comitê, que é um órgão do Parlamento britânico que fiscaliza as políticas do governo no setor, já está conduzindo uma análise sobre as notícias falsas. A NMA, em seu pleito, argumenta que o atual modelo de publicidade digital eleva a remuneração de Google e Facebook em detrimento dos produtores de conteúdo, criando assim condições para uma “indústria de notícias falsas” prosperar. Martin Sorrell, executivo-chefe do maior grupo de serviços de marketing do mundo, WPP, reforçou: “Nós sempre dissemos que o Google, o Facebook e outros são empresas de mídia e têm as mesmas responsabilidades que qualquer outra empresa de mídia. Eles não podem se disfarçar como empresas de tecnologia, especialmente quando colocam anúncio”, disse.
Para o presidente da ANJ, é necessário tornar mais clara para o público a função social do jornalismo como certificador da realidade. “Muitas vezes o público não sabe de onde veio uma informação e, mesmo absurda, a compartilha. Temos um trabalho de ensinar a distinguir fontes confiáveis ou não e de denunciar as notícias falsas ao mesmo tempo”, conta Marcelo Rech.
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