Santa Tereza Dávila, religiosa espanhola nascida em 1515, e cuja vida de ação e união com Deus fez Paulo VI a declará-la Doutora da Igreja, foi a primeira padroeira da Capital Catarinense das Nascentes em seus primórdios, quando ainda era a Colônia Militar. A imagem de Santa Tereza, segundo bela tradição oral, foi doada pela Imperatriz Dona Tereza Cristina. Entretanto, pesquisas recentemente publicadas na “Alfredo Wagner em Revista – Jubileu de Diamante”, comprovam que a primeira imagem foi comprada pelo Diretor da Colônia Militar e entronizada com grande festa no dia de Santa Tereza.
A reforma conduzida pela freira nos conventos da Ordem Carmelita, produziu uma renovação na Igreja Católica, anulando o paganismo criado pela revolução renascentista nos meios eclesiásticos. A América espanhola e portuguesa identificou-se com a Santa, incluindo seu nome em centenas de localidades.
Vamos conhecer sua vida e apostolado? O Texto abaixo vem da Wikipedia
Teresa de Cepeda y Ahumada nasceu em 1515 em Gotarrendura, um cidade na província de Ávila, no Reino de Castela. Seu avô paterno, Juan Sánchez, era um marrano (um converso) e foi condenado pela Inquisição espanhola por ter supostamente retornado à fé judaica. Seu pai, Alonso Sánchez de Cepeda, comprou um título cavaleiro e conseguiu com sucesso ser assimilado pela sociedade católica. A mãe de Teresa, Beatriz de Ahumada y Cuevas, era especialmente dedicada à missão de criar a filha como uma piedosa cristã. Teresa era fascinada por relatos sobre vidas de santos e fugiu aos sete anos com seu irmão mais novo Rodrigo para tentar conseguir seu martírio entre os mouros. Seu tio conseguiu impedi-los por sorte ao vê-los já fora das muralhas quando voltava de outra cidade.
A morte de Beatriz quando Teresa tinha apenas quatorze anos provocou-lhe uma tremenda tristeza que estimulou-a abraçar ainda mais a devoção à Virgem Maria como sua mãe espiritual. Porém, ela adquiriu também um interesse exagerado na leitura de ficções populares, principalmente novelas de cavalaria, e um renovado interesse em sua própria aparência. Na mesma época, foi enviada como interna para uma escola de freiras agostinianas em Ávila, o Convento de Nossa Senhora da Graça.
Pouco depois, piorou de uma enfermidade que começara a molestá-la antes de professar seus votos e seu pai a retirou do convento. A irmã Joana Suárez acompanhou Teresa para ajudá-la. Os médicos, apesar de todos os tratamentos, deram-se por vencidos e a enfermidade, provavelmente malária, se agravou. Teresa conseguiu suportar o sofrimento, graças a um livro devocional que lhe fora dado de presente por seu tio Pedro, “O Terceiro Alfabeto Espiritual”, do Padre Francisco de Osuna. Esta obra, seguindo o exemplo diversas outras de místicos medievais, consistia de instruções para exames de consciência, para auto-concentração espiritual e contemplação interior (técnicas conhecidas no jargão místico como oratio recollectionis ou oratio mentalis). Teresa também fazia uso de outras obras ascetas como o Tractatus de oratione et meditatione de São Pedro de Alcântara, talvez muitas das obras nas quais Santo Inácio de Loyola baseou seus “Exercícios Espirituais” e possivelmente os próprios “Exercícios”. Teresa seguiu as instruções da obra e começou a praticar a oração mental. Finalmente, após três anos, ela recuperou a saúde e retornou diretamente para tomar o hábito no Carmelo.
Teresa conta que durante sua enfermidade, ascendia do estágio mais baixo, da “oração mental”, ao de “oração do silêncio” ou mesmo ao de “devoções de êxtase”, que era um de união perfeita com Deus (veja abaixo). Durante este estágio final, Teresa conta que experimentava com frequência uma rica “benção de lágrimas”. Conforme a distinção católica entre pecado mortal e venial foi se tornando clara para ela, passou também a compreender o terror profundo do pecado e a natureza do pecado original. Em paralelo, conscientizou-se de sua própria impotência em confrontar o pecado e certificou-se da necessidade da sujeição absoluta a Deus.
Por volta de 1556, vários amigos sugeriram que este conhecimento recém-revelado a Teresa era de origem diabólica e não divina e, como resultado, Teresa passou a infligir a si própria diversas torturas e outras formas de mortificação. Mas seu confessor, o padre jesuíta Francisco de Borja, reassegurou-a da divina inspiração de seus pensamentos. No dia de São Pedro de 1559, Teresa se convenceu firmemente que Jesus Cristo teria aparecido para ela de corpo presente, só que invisível. Estas visões continuaram por mais de dois anos ininterruptos e, numa delas, um serafim[a] trespassou repetidamente seu coração com a ponta inflamada de uma lança dourada provocando nela uma inefável dor espiritual e corporal:
“ | Eu vi em sua mão uma longa lança de ouro e, na ponta, o que parecia ser uma pequena chama. Ele parecia para mim estar lançando-a por vezes no meu coração e perfurando minhas entranhas; quando ele a puxava de volta, parecia levá-las junto também, deixando-me inflamada com um grande amor de Deus. A dor era tão grande que me fazia gemer; e, apesar de ser tão avassaladora a doçura desta dor excessiva, não conseguia desejar que ela acabasse… | ” |
— Santa Teresa de Ávila.
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Esta visão foi a inspiração de uma das mais famosas obras de Bernini, a escultura “O Êxtase de Santa Teresa“, que está na Igreja de Santa Maria della Vittoria, em Roma. A memória deste episódio serviu de inspiração pelo resto da vida de Teresa e motivou sua perene disposição de imitar a vida e os sofrimentos de Jesus, epitomizada no motto geralmente associado com ela: “Senhor, ou me deixe sofrer ou me deixe morrer”.
Reformadora
Teresa entrou para o Convento Carmelita da Encarnação em Ávila em 2 de novembro de 1535 e logo se viu cada vez mais em desarmonia com os males que assolavam o mosteiro. Entre as 150 freiras que viviam ali, a observância do enclausuramento – projetado para reforçar o espírito e a prática da oração – tornou-se tão relaxada que já não mais cumpria seu objetivo. A invasão diária de visitantes, muitos de alto status social e político, viciaram a atmosfera do local com preocupações frívolas e conversas tolas. Cada vez mais convencida de sua indignidade, Teresa invocava com frequência os grandes santos penitentes, Santo Agostinho e Santa Maria Madalena, aos quais estão associados dois fatos que foram decisivos na vida da santa. O primeiro foi a leitura das “Confissões” de Santo Agostinho. O segundo foi um chamamento à penitência que ela experimentou diante de um quadro da Paixão de Cristo: “Senti que Santa Maria Madalena vinha em meu socorro… e desde então muito progredi na vida espiritual”. Sentia-se muito atraída pelas imagens de Cristo ensanguentado em agonia. Certa ocasião, ao deter-se sob um crucifixo muito ensanguentado, perguntou: “Senhor, quem vos colocou aí?” Pareceu-lhe ouvir uma voz: “Foram tuas conversas no parlatório que me puseram aqui, Teresa”. Ela chorou muito e a partir de então não voltou a perder tempo com conversas inúteis e nas amizades que não a levavam à santidade. Teresa que começou a planejar alguma ação para reverter a situação.
O incentivo para expressar publicamente suas motivações interiores foi incentivado em Teresa pelo padre franciscano São Pedro de Alcântara, que a conheceu por volta de 1560 e tornar-se-ia depois seu diretor espiritual e mentor. Teresa decidiu fundar um carmelo reformado, corrigindo o relaxamento que encontrou no claustrodo Carmelo da Encarnação e em outros. Guimara de Ulloa, uma amiga muito rica financiou a empreitada.
A pobreza extrema do novo carmelo, fundado em 1562 e batizado de Convento de São José, a princípio escandalizou os habitantes e as autoridades de Ávila, o que colocou o pequeno carmelo e sua capela sob o risco de ser suprimido. Contudo, poderosos patrocinadores, incluindo São Luís Beltrán e o próprio bispo de Ávila, e a impressão de uma subsistência assegurada e prosperidade potencial logo transformaram animosidade em aplausos.
Em março de 1563, quando Teresa se mudou para o novo claustro, recebeu sanção papal ao seu princípio primal de pobreza absoluta através da renúncia à propriedade, logo consolidado numa “Constituição”. Seu plano era reavivar regras antigas e mais estritas, suplementando-as com novos regulamentos, como as três disciplinas de flagelação cerimonial prescritas para o Ofício Divino todas as semanas e também o abandono do uso de calçados. Teresa estabeleceu em seu convento a mais estrita clausura e o silêncio quase perpétuo. As religiosas vestiam hábitos toscos, usavam sandálias em vez de sapatos (por isso foram chamadas “descalças”) e eram obrigadas a abstinência perpétua de carne. A fundadora, a princípio, não aceitou comunidades com mais de treze religiosas. Mais tarde, nos conventos que possuiam alguma renda, aceitou que residissem vinte monjas.
Nos cinco primeiros anos no novo convento, Teresa permaneceu reclusa e dedicou-se a escrever.
Em 1567, ela recebeu uma carta patente de um prior geral carmelita, Rubeo de Ravena, para fundar novas casas de sua ordem e, com este objetivo, Teresa passou a realizar longas viagens por todas as províncias da Espanha, relatadas em seu “Libro de las Fundaciones”. Entre 1567 e 1571, conventos reformados foram fundados em Medina del Campo, Malagón, Valladolid, Toledo, Pastrana, Salamanca e Alba de Tormes.
Como parte de sua patente original, Teresa recebeu permissão para criar duas novas casas para homens que desejassem adotar suas reformas e, para ajudá-la, convenceu São João da Cruz e Santo Antônio de Jesus. Eles fundaram o primeiro convento de irmãos carmelitas descalços em novembro de 1568 em Duruello. Outro amigo, Jerónimo Gracián, um visitator dos carmelitas da antiga observância da Andaluzia, comissário apostólico e, depois, prior provincial das reformas teresianas, colocou toda a força de seu apoio para permitir a fundação de conventos em Segóvia (1571), Beas de Segura (1574), Sevilha (1575) e Caravaca de la Cruz (Múrcia, 1576), enquanto que o profundamente místico João da Cruz, através de sua poderosa pregação, promovia a conversão de novos membros para o movimento.
Em 1576, uma série de perseguições começou por parte dos carmelitas da antiga observância contra Teresa, seus amigos e suas reformas. Em acordo com um conjunto de resoluções adotadas no capítulo geral em Placência, os definitors da ordem proibiram a fundação de novos conventos e condenaram Teresa a uma reclusão voluntária em uma de suas instituições. Ela obedeceu e escolheu ficar no Carmelo de São José em Ávila, a primeira. Seus amigos e subordinados foram alvo de grandes provações.
Finalmente, depois de diversos anos, suas súplicas por escrito ao rei Filipe II da Espanha conseguiram aliviar a situação. Em 1579, os processos contra ela e Graciano na Inquisição foram engavetados, o que permitiu que suas reformas continuassem. Um memorando do papa Gregório XIII permitiu a criação de um provincial especial para o novo ramo das freiras carmelitas descalças.
Nos três anos finais de sua vida, Teresa fundou conventos em Villanueva de la Jara, no norte da Andalusia(1580), Palencia (1580), Soria (1581), Burgos e Granada (1582). No total, dezessete conventos, todos menos um fundados pessoalmente por ela. Uma mesma quantidade de mosteiros para homens foram também estabelecidos durante os vinte anos de sua atividade reformadora.
A aflição final acometeu Teresa em uma de suas inúmeras viagens, desta vez no trecho entre Burgos e Alba de Tormes. Ela morreu em 1582, justamente no dia que as nações católicas do mundo estavam fazendo a troca do calendário juliano para o gregoriano, o que requereu a eliminação de todas as datas entre 5 e 14 de outubro do calendário. Assim, ou Teresa morreu antes da meia-noite de 4 de outubro ou nas primeiras horas de 15 de outubro, dia escolhido para celebrar sua festa. Suas últimas palavras foram: “Meu Senhor, é hora de seguir adiante. Pois bem, que seja feita Tua vontade. Ó meu Senhor e meu Esposo, a hora que tanto esperei chegou. É hora de nos encontrarmos!”. Foi sepultada em Alba de Tormes, onde repousam suas relíquias.
Em 1622, quarenta anos depois de sua morte, Teresa foi canonizada por Gregório XV. Cinco anos antes, as Cortes Generales já haviam escolhido Teresa como padroeira da Espanha ao mesmo tempo que a Universidade de Salamanca conferiu-lhe o diploma de Doctor ecclesiae. Este título, que significa “doutor da Igreja”, é diferente da honraria papal de “Doutor da Igreja“, que é sempre conferido postumamente e que foi finalmente agraciado a Teresa pelo papa Paulo VI em 27 de dezembro de 1970, a mesma data que Santa Catarina de Siena recebeu o título que fez das duas as primeiras doutoras da história da Igreja Católica.
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