Sonhos deixados para trás; interesses românticos abandonados; acostumar-se ao mesmo emprego chato…
Nossos arrependimentos mais fortes são aqueles que resultam da nossa incapacidade de viver de acordo com os nossos próprios ideais – de acordo com os nossos “eus” ideais -, dizem psicólogos da Universidade de Cornell (EUA).
Tom Gilovich e Shai Davidai constataram que as pessoas são mais afetadas por não terem conseguido realizar suas esperanças, objetivos e aspirações, do que por arrependimentos por não cumprir seus deveres, obrigações e responsabilidades.
A conclusão baseia-se na ideia de que três elementos compõem o sentido de self (si mesmo) de uma pessoa: o real, o ideal e o eu desejável. O eu real é constituído pelos atributos que uma pessoa acredita possuir. O eu ideal são os atributos que ela idealmente gostaria de possuir, refletidos em suas esperanças, objetivos, aspirações ou desejos. O eu desejável é a pessoa que se acredita dever ser com base em deveres, obrigações e responsabilidades, ou em como os outros a avaliam.
Do que nos arrependemos
Gilovich e Davidai analisaram centenas de participantes em seis experimentos diferentes, descrevendo as diferenças entre o self ideal e o self desejável, e pedindo-lhes para listar e categorizar seus arrependimentos com base nessas descrições.
Os participantes relataram experimentar arrependimentos sobre seu eu ideal com muito mais frequência (72% versus 28%). Mais da metade mencionou mais arrependimentos quanto ao self ideal do que quanto ao “self das obrigações” – o self que deviam ser – quando lhes foi pedido para listar seus arrependimentos na vida até aquele momento.
E, quando lhes foi pedido para citar seu maior arrependimento na vida, 76% dos participantes mencionaram um arrependimento por não terem sido fiéis ao seu eu ideal.
Por que os fracassos quanto ao eu ideal geram esse arrependimento tão mais duradouro?
As expectativas do si mesmo desejável geralmente são mais concretas e envolvem regras específicas – como se comportar em um funeral, por exemplo – e, portanto, são mais fáceis de cumprir, dizem os psicólogos. Mas os arrependimentos relacionados ao si mesmo ideal tendem a ser mais gerais: “Seja um bom pai, seja um bom professor. Bem, o que isso significa de fato? Não há indicadores claros. E você sempre pode fazer mais,” exemplificou Gilovich.
Parta para a ação
Esses resultados têm implicações práticas, argumentam os psicólogos. Em primeiro lugar, costumamos supor que primeiro precisamos de inspiração antes de podermos nos esforçar para alcançar nossos ideais. Mas uma quantidade significativa de pesquisas psicológicas mostra que isso não é verdade.
“Como diz o slogan da Nike: ‘Apenas faça’,” aconselha Gilovich. “Não espere por inspiração, apenas mergulhe de cabeça. Esperar por inspiração é uma desculpa. A inspiração surge do engajamento na atividade.”
Além disso, as pessoas frequentemente não conseguem atingir seus objetivos ideais porque ficam preocupadas com o que os outros vão pensar ou como irão vê-las. Por exemplo, uma pessoa pode querer aprender a cantar, mas sente que nunca poderia deixar que os outros ouvissem o quanto ela canta mal.
Mais uma vez, diz Gilovich, simplesmente faça.
“As pessoas são mais caridosas do que pensamos e também não nos percebem tanto quanto pensamos,” disse ele. “Se é isso que impede você – o medo do que as outras pessoas vão pensar e perceber – então pense um pouco mais sobre simplesmente fazer [o que você quer].”
A pesquisa foi publicada na revista Emotion.
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