notícia

Seminário em São Joaquim trata dos novos desafios na inclusão do autista

No Dia do Orgulho Autista, o município de São Joaquim, na Serra catarinense, recebeu a oitava edição do Seminário Autismo e Inclusão: Novos Desafios, realizado pela Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Assembleia Legislativa de Santa Catarina e pela Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira. Aproximadamente 400 pessoas de toda a região acompanharam o evento que acontece nesta segunda-feira (18), no auditório da escola Martinho de Haro.

A abertura do evento, pela manhã, foi marcada pela palestra do radialista, palestrante e escritor Marcos Petry, 25 anos, que tem transtorno do espectro autista. Tal condição, no entanto, não o impediu de se formar em comunicação, com pós-graduação em design gráfico e produção publicitária, e aprender cinco idiomas diferentes. Essa, aliás, foi justamente a principal mensagem passada por Marcos, que abriu o seminário interpretando, em voz e violão, o Hino do Orgulho Autista.

“O autismo não é motivo para limitar o desenvolvimento da pessoa com o espectro autista. É preciso entender que o autista, dentro do tempo dele, dá a resposta aos estímulos que ele recebe. A demora para essa resposta não quer dizer que ele não vai responder. Ele vai ter o tempo dele”, disse.

O palestrante fez um retrospecto de como esse transtorno foi diagnosticado ao longo do tempo, bem como sobre alguns mitos criados sobre essa condição. Destacou que o autista tem como característica o hiperfoco em algum estímulo, o que faz com que muitos sejam considerados gênios.

Marcos dividiu com o público sua experiência no convívio com o autismo. Lembrou de como lidava, na infância e na adolescência, com o transtorno. Contou passagens, como quando desmontou um rádio ou quebrou uma maçaneta, diante da incompressão do funcionamento de ambos. Comentou que algumas situações do dia a dia ainda lhe causam incômodo, como locais com iluminação em excesso.

“Eu preciso separar todas as informações. Essa é a dificuldade do autista, ele precisa organizar todos os sons, os cheiros, as cores num ambiente. Enquanto para as pessoas isso é relativamente tranquilo, para o autista é um desafio, que pode desencadear aquelas reações que já conhecemos, como a dificuldade de interação, a birra, o choro ou riso fora de hora”, explicou.

A musicalização teve um papel importante no desenvolvimento de Marcos. Além de interpretar o hino do autista, ele cantou e tocou violão por três vezes durante a palestra. A mãe dele, a professora Angela Boing Petry, comentou que o filho foi estimulado desde pequeno com  música. Ela também relatou as dificuldades quando o filho apresentou lesões cerebrais logo ao nascer.

“Nós fomos comunicados por um neurologista que as lesões no cérebro levaria o Marcos à morte. De que ele seria cego e surdo e nunca andaria”, disse. O apoio da Escola Charlote, em Brusque, e a determinação da família permitiram que o filho superasse esse diagnóstico.

“Apanhamos bastante, erramos bastante, pecamos bastante como pais tentando acertar,não tinhamos conhecimento. Mas com o que fizemos, Marcos fez a diferença e ele mesmo resolveu buscar com sua experiência o que é autismo e a compartilhar isso com todos”, comentou a mãe.

Presenças
Autoridades da Serra catarinense participaram da abertura do evento. O presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Alesc, deputado Ricardo Guidi (PSD), afirmou que a realização do seminário em São Joaquim foi um pedido da comunidade local.

“A informação é algo que faz uma grande diferença e a proporciona a real inclusão que a gente tanto fala e procura. Esse seminário vem para trazer conhecimento a todas as pessoas envolvidas com o autismo, como professores e familiares”, afirmou o parlamentar.

Guidi informou que os eventos organizados pela comissão neste ano em todo o estado já reuniram mais de 11 mil pessoas. “São eventos que buscam melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiência e, por consequência, a vida de seus familiares e de todos aqules que convivem com eles”, disse Guidi.

A comunidade apeana participou do seminário. A diretora da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de São Joaquim, Luciane dos Santos Velhos, e o diretor social da Federação das Apaes de Santa Catarina, Julio Cesar de Aguiar, destacaram o trabalho desenvolvido pela entidade.

O prefeito de São Joaquim, Giovane Nunes, e o secretário de Educação do município, Fabiano Padilha, também estiveram na abertura do seminário. O prefeito destacou a importância do trabalho desenvolvido pela Apae na cidade e sobre a necessidade do conhecimento para a inclusão da pessoa com deficiência.

Já o secretário reconheceu que a rede de ensino ainda tem muitas dificuldades para lidar com alunos especiais. “As crianças especiais, assim como as avems, são diferentes em seus voos. Mas todas são iguais em seu direito de voar”, afirmou Padilha.

O Seminário Autismo e Inclusão: Novos Desafios prossegue na tarde desta segunda-feira. O evento é promovido em conjunto com vários parceiros, como a Federação das Apaes, a Apae de São Joaquim e a Associação Catarinense de Autismo (Asca).


Descubra mais sobre Jornal Alfredo Wagner Online

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.