Plínio Correa de Oliveira
Definamos primeiramente, com clareza, o que entendemos por “sensacionalismo”. É um vício da imprensa contemporânea apresentar aos leitores todos os fatos sob um aspecto sensacional, a fim de atrair sua atenção e despertar seu interesse pelo jornal. De um modo geral, este processo pode aplicar-se a todos os assuntos. Há, pois, o sensacionalismo político, que visa entreter as massas em estado de constante agitação e superexcitação à vista dos acontecimentos políticos. Há o sensacionalismo econômico, que exagera a gravidade das crises econômicas, dos “cracks” de bolsas, etc. Há o sensacionalismo dos desastres, que acentua a nota trágica de todos os acidentes noticiados pela reportagem. E há, finalmente, o pior dos sensacionalismos, que é o dos crimes, o qual consiste em noticiar de tal maneira os crimes que empolgue a opinião pública pela divulgação dos episódios particularmente trágicos ou imorais.
Em uma época em que a vida intensa das grandes cidades exerce sobre os nervos uma pressão intensa e nefasta, em uma época em que os acontecimentos dramáticos se multiplicam indefinidamente, quer no terreno político, quer no econômico, quer no doméstico em virtude da total desorganização desse mundo que se afastou de Deus, motivos não faltam para que a opinião pública seja mantida em um estado de permanente hipertensão. E esses motivos são tantos e tão graves que Alexis Carrel, no seu famoso livro “L’Homme, cet inconnu”, não hesita em apontar a loucura e as diversas formas de degenerescência nervosa como um dos grandes perigos que ameaçam o mundo contemporâneo. Se já é perigosa a simples hipertensão provocada pela vida moderna e pelas crises contemporâneas, o sensacionalismo da imprensa, do cinema e do rádio eleva esse mal ao auge, pela impiedosa exploração que faz das misérias alheias.
Se, ao menos, o sensacionalismo fosse sempre verídico, isto é, se explorasse apenas, nos acontecimentos noticiados, os detalhes trágicos realmente existentes, ainda teria uma certa aparência – aparência, dizemos, e só aparência – de respeitabilidade. Infelizmente, porém, tal não se dá. Às vezes, a imprensa exagera detalhes secundários e até insignificantes de certos fatos, para causar sensação entre os leitores. Em outras ocasiões, chega mesmo, e isto não é raro, a inventar detalhes que absolutamente não são verídicos. O que, em outros termos, implica em dizer que, raramente, os jornalistas que exploram o sensacionalismo violam um dos seus mais graves e imprescritíveis deveres, que consiste em dizer sempre a verdade, e só a verdade.
Não podemos alongar excessivamente as proporções deste artigo. Senão demonstraríamos ponto por ponto aquilo de que todo homem sensato já está persuadido, e que é unanimemente aceito por todos os sociólogos e criminologistas: o sensacionalismo é um dos importantes fatores da dissolução dos costumes e das moléstias nervosas de nossos contemporâneos. Particularmente as fotografias de vítimas de desastres e de crimes concorrem para tornar banal aos olhos do público de pouca cultura, o aspecto da dor e do crime. O que, ainda segundo a opinião de todos os criminalistas, constitui um passo importantíssimo para a criminalidade. Note-se bem, não é apenas o sensacionalismo em torno dos crimes, mas ainda o que se faz em torno dos desastres, que é altamente nocivo e constitui um estímulo indireto à prática dos crimes. A este respeito, não há, entre os cientistas, a menor voz discordante.
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