Monitoro alguns grupos nas principais redes e a sensação é a mesma em todas: o esgoto bolsonarista não sabe o que fazer. Hoje cedo, ao entrar em uma aba onde reúno “Brazil Right-Wing Influencers” no Facebook achei que as páginas tinham sido hackeadas: a imensa maioria falava bem da vacina e criticava Bolsonaro por sua inércia e ignorância. Os memes sobre as habilidades logísticas do ministro-general que ocupa a Saúde tomaram conta das redes dos apoiadores do presidente junto com outros tantos que retratam Doria como vencedor. Eduardo Pazuello parece apenas um homem de atitudes panacas.
A pesquisa do índice XP/Ipespe, divulgada nesta segunda — feita, portanto, antes da aprovação da CoronaVac no domingo — já acusa a maior taxa de rejeição ao governo desde agosto de 2020. Esse caldo está em fervura há algumas semanas e o fim do auxílio emergencial vai aumentar ainda mais a temperatura. De 35% em dezembro, a taxa de entrevistados que consideram o governo ruim ou péssimo saltou para 40% – e o índice dos que avaliam o governo como bom ou ótimo caiu de 38% para 32%. Entre evangélicos, um dos grupos mais importantes de sustentação do governo, a aprovação caiu de 53%, em dezembro, para 40%. A reprovação subiu de 26% para 36%.
Sentindo os sintomas da rejeição, depois de quase um ano de campanha desbragada contra a vacina e contra todas as medidas que poderiam reduzir as mortes, restou ao ex-capitão deixar de lado a falácia do “tratamento precoce” e agarrar-se a duas estratégias. A primeira delas é usar o general Pazuello como escudo.
Nas primeiras horas depois da aprovação da vacina, Bolsonaro sumiu. O general botou a cara em coletivas, eventos e entrevistas. Sempre subserviente, fazendo promessas que são desmentidas horas depois e sem nenhum constrangimento ao contar mentiras novíssimas e mostrar seu enorme despreparo para lidar com a maior crise sanitária em um século. A resiliência de Pazuello é chocante: ele está disposto a entregar tudo que sobrou de sua dignidade pra defender o governo. Quando sair do ministério, não restará a ele nenhuma credibilidade, nada de que possa se orgulhar. Será sempre reconhecido na rua como o homem que sabia que faltava oxigênio em Manaus, mas não fez nada.
Passará para a história como o ministro que é incapaz de organizar a entrega de pouco mais de 4 milhões de vacinas para os estados em um país de mais de 200 milhões de habitantes ou, o mais básico, incapaz de negociar compra de insumos com indianos e chineses. Sua melhor desculpa é que “o fuso horário da Índia é complicado”. Um adolescente mentindo para a mãe faria melhor.
A outra estratégia de Bolsonaro é risível. Depois de meses arrotando bobagens como “vaChina”, “calça apertada”, “não vou tomar, e ponto final”, “virar jacaré”, não há mais o que fazer. O jeito é tentar dizer que o governo federal apoiou a produção da vacina. É mentira. Tarde demais para colar. O Mito não só desacreditou a vacina como operou nos bastidores para atrapalhar o processo. Quer pagar de pai do filho alheio. É basicamente uma tentativa de sequestro.
É cedo para dizer que Jair Bolsonaro está nas últimas, mas é fato que seu governo está enfraquecido como nunca. Há algo de concreto acontecendo e as próximas semanas são muito importantes. Além do fim do auxílio e dos próximos passos da vacinação, temos a eleição da presidência da Câmara, fundamental para a sobrevivência do governo. Há uma crescente demanda por impeachment. Vivemos um excelente momento pra ir pra cima do “mito”: é hora de expor para os brasileiros a verdade sobre o seu governo, denunciar sua relação com o centrão, bater sem dó nas narrativas alucinadas de Carluxo e nas mentiras elaboradas pelos militares.
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