Hoje lidamos com um problema mais assustador que a gripe espanhola ocorrida no início do século XX. Tendo acompanhado o Professor Plínio Corrêa de Oliveira por alguns anos, conheci o cuidado com que tratava qualquer gripe. São Paulo sempre foi um epicentro de surtos gripais. E como era lá que o Professor morava, ele tinha um cuidado muito grande.
Quando criança ele enfrentou a gripe espanhola que dizimou milhares de pessoas em São Paulo nos anos de 1918/1919, registrando em suas memórias este período dramático. O texto você lê logo abaixo.
Quando havia surtos mais violentos de gripe na Capital Paulista, o Professor Plínio procurava se proteger e também proteger seus familiares e amigos, através de um isolamento temporário. Se era ele que estava com gripe, procurava evitar ao máximo o contato com outras pessoas, evitando apertos de mão, etc.
Na época não havia o uso de máscaras, entretanto, o Professor Plínio tinha o hábito de usar um lenço com algumas gotas de água de colónia alemã, com o qual protegia a si e aos demais circunstantes de eventuais contágios. O uso de lenço umedecido para a higienização das mãos era constante. Contendo álcool, este recurso fazia as vezes do atual álcool-gel.
Sendo diabético e com um regime alimentar muito rígido, o Professor Plínio Corrêa de Oliveira buscava os cuidados necessários para manter sua saúde equilibrada evitando contatos desnecessários nestes momentos mais agressivos dos surtos gripais.
Como teria ele reagido à pandemia em 2021. Falecido em 1995, hoje o saudoso Professor Plínio não está mais entre nós, porém seus ensinamentos estão vivos em minha alma e posso dizer que sua reação neste momento de pandemia seria exatamente a mesma da profilaxia que utilizava para os surtos de gripe em São Paulo:
- Isolamento
- Uso de máscaras
- higienização das mãos
- Evitar contatos pessoais
Eis um resumo do que é hoje recomendado como verdadeiro tratamento precoce para evitar o contágio pelo Coronavírus.
Lamento que tantos de seus seguidores, hoje espalhados pelos 4 cantos do mundo, tenham esquecido estes ensinamentos com tanta facilidade e rapidez!
O Professor Plínio Corrêa de Oliveira teria recomendado neste momento de pandemia, com certeza: Fique em casa, use máscara e evite contatos pessoais!
Memórias de Plínio Corrêa de Oliveira
Depois da Primeira Guerra Mundial difundiu-se pelo mundo inteiro uma epidemia chamada “gripe espanhola” – talvez por ter sua origem na Espanha – que chegou ao Brasil com enorme poder de contágio, causando mortes às torrentes. Foi um flagelo terrível.
Eu mesmo vi os caminhões levando pilhas enormes de corpos, em ataúdes improvisados feitos com tábuas brancas de caixotes, amarrados com cordas para não caírem e sem panos pretos nem outros ornamentos, pois morria tanta gente em São Paulo que o serviço funerário não era capaz de enterrar normalmente todos os falecidos. Eram cavadas imensas covas nos cemitérios da Consolação e do Araçá – os únicos da cidade – e nelas eram depositados os caixões aos montes. E esses veículos iam depressa, para evitar o empestamento do ambiente.
Às vezes, a epidemia se manifestava por um forte resfriado, que logo se transformava numa gripe inusual e violentíssima, a qual por sua vez degenerava em pneumonia com pleurisia. O resultado dessas doenças infecciosas, sobrevindas com muita força, era a morte.
Em outras ocasiões, entretanto, o ataque começava de outra maneira, enquanto a pessoa estava andando ou trabalhando, o que aliás aconteceu com meu pai. Ele se dirigia do seu escritório ao fórum, quando sentiu uma ligeira tontura e percebeu ser esse o ósculo de morte da gripe. Tomou um táxi e voltou para casa correndo; mas, no fim do dia, estava inteiramente normal, e sua vida se conservou por muitíssimos anos. A gripe apenas batera nele com a “ponta da asa”, sem levá-lo, o que foi considerado um caso raro; pois a outros, depois desse primeiro assalto, ela ceifava terrivelmente. O atingido não dava importância àquilo e continuava a trabalhar, mas depois desmaiava; e, às vezes, era jogado na cova sem estar morto ainda, pois o serviço funerário não tinha tempo para esperar! Talvez ainda acordasse e, impossibilitado de sair, morria asfixiado no meio dos cadáveres.
O Rio de Janeiro foi um centro de contágio maior do que São Paulo. Havia numerosas casas de dois ou três andares, com lojas no andar térreo e quartos alugados em cima, onde morava muita gente. Nesses locais morreram pessoas em quantidade e os cadáveres eram postos na rua; mas os vizinhos ou parentes sempre tomavam o cuidado de deixar uma vela acesa junto a cada um, pois eram tempos em que existia certo respeito pela morte e pela grandeza terrível que a cerca. Depois iam tratar dos que na casa ainda estavam vivos, enquanto os carros de lixo passavam pelas ruas e o morto era recolhido como estivesse, levado para o cemitério e enterrado, sem ninguém fazer a cerimônia de depositá-lo num caixão.
Para as crianças, os médicos davam recomendação de utilizar um quadradinho de cânfora furado, amarrado num barbante e pendurado ao pescoço como se fosse uma jóia, o dia inteiro; pois essa matéria era tida como bactericida e defesa contra os micróbios da gripe. Nós achávamos divertido andar pelas ruas com aquilo e brincávamos de cheirar a cânfora; mas esta tem o efeito de diminuir a vitalidade das pessoas e, então, a meninada estava sempre quieta, sem vontade de conversar, de correr ou de fazer qualquer coisa e inalando aquela substância, até que passou o perigo da epidemia, ao cabo de alguns meses. Assim foi a gripe espanhola.
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