Começa amanhã (sexta, dia 8) a 7ª Miscelânea de Dança, projeto legitimado pelo Edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura – Artes 2020, proposto por Rodolfo Lorandi e Maria Claudia Reginato para reunir artistas, professores, alunos, residentes, agentes-multiplicadores, bailarinos e pesquisadores interessados em problematizar os modelos tradicionais de dança, temáticas provocadoras, a transversalidade de questões e paradigmas contemporâneos. Neurodiversidade em Movimento é a proposta aglutinadora desta edição. A programação é vasta e intensa durante manhã, tarde e noite, com quatro mesas-redondas, 11 oficinas e quatro apresentações de obras artísticas, uma das quais exibida nesta sexta às 22h: “Nós”, da Companhia de Dança Lápis de Seda, de Florianópolis (SC). As outras três atrações são duas performances de Marina Silvério (BA), “Catadora de Lixo” (2021) e “Balé de Lixo” (2018) e “Corpo Cadeira”, da Movidos Dança, de Natal (RN).
Os encontros, totalmente on-line, ocorrem entre 8 e 11 de outubro de 2021. Pesquisadores do universo da dança e da neurodiversidade de nove Estados brasileiros estão representados: AM, BA, CE, MG, PR, RJ, RN, SC e SP. O acesso se dá pelas plataformas Zoom Metting, Youtube, Instagram e Whatsapp. O conteúdo é compartilhado pelas redes sociais. Informações e inscrições em: @mais que dancar e @miscelaneaemdanca. As inscrições ficam abertas, interessados podem participar de uma única ação se assim desejarem. Os certificados serão concedidos só para quem comprove 75% de participação.
“De caráter transdiverso-multiplicativo-multiarte-vivencial-teórico-prático, de formação-difusão, gratuito e livre, as atividades abrangem uma residência (vivências, oficinas, mesas-redondas, performances, debates, apresentações) e uma exposição virtual que reunirá todos os materiais apresentados ou produzidos nos encontros”, diz Lorandi, que busca como público-alvo pessoas de todas as idades, práticas e perfis, identidades, diversidades, neurodiversidades, professores formais e informais, da rede pública e privada.
Os residentes virtuais participam de todas as atividades, em um ou mais dias, na condição de alunos, proponentes, palestrantes ou convidados. Bem democrático, os participantes ofertam, propõem, apresentam uma atividade artística e/ou pedagógica, no intuito de compartilhar suas práticas, obras, provocações, estudos, modos, sentidos e relações profissionais. As proposições têm o compromisso de composição, aproximação, instrução, problematização, provocações, de formação e diálogo, ensino e debate.
A residência, explica Maria Claudia Reginato, pressupõe uma morada temporária, de modo virtual, com intuito de dividir, durante um tempo-espaço imersivo de prática, debate e estudo, práticas, pesquisas e pensamentos. Já a exposição consiste na reunião dos conteúdos propostos durante a residência, através de materiais e formatos diversos.
O encontro de quatro dias prevê uma organização que se dá entre uma equipe técnica sediada em Florianópolis, quatro mediadores-provocadores e 11 artistas-professores-propositores que oferecem oficinas de formação distintas e centradas no tema. Dois tradutores em Libras integram a equipe técnica: Giliard Kelm (SC) e Stephanie Caroline (SC).
Neurodiversidade em Movimento
A proposta do tema da 7ª Miscelânea em Dança está baseada em estudos e experiências de pesquisadores como a artista-ativista-autista Amanda Melissa Baggs (2007-20), e a canadense Erin Manning cujos estudos abrangem arte, teoria política e filosofia. Baggs, ao falar de neurodiversidade e dança, alia-se a tudo aquilo que, como modo de existir no mundo, escapa aos padrões, regras, normas, códigos, linguagens dominantes e opressoras que desconsideram outras formas de viver e impõem uma lógica neurotípica e violenta, como se existisse apenas uma matriz do que é ser normal, humano, inteligente. Fora isso, estipula categorias sobre raça, gênero, nação, credo, corpo, arte, dança, sexualidade.
Manning aponta que neurodiversidade pressupõe pensar em outras lógicas de se viver uma vida que escapa às formas existentes. Ela se preocupa em recusar um neuro-reducionismo, busca escapar da ideia de que fazer sozinho seria a melhor definição de o que é, alcança e pode um corpo humano.
Atuação coletiva
Uma das marcas da Miscelânea em Dança é a crença em alianças e no valor da atuação coletiva. Os interessados apresentam e compartilham pesquisas e experiências. Desde 2010, o projeto usa o coletivo como pretexto para travessias possíveis do pensamento, do corpo e do movimento. A neurodiversidade propõe pensar em outras lógicas possíveis, incorporando o que tem sido excluído, deixado de lado, na riqueza da vida em movimento. Miscelânea têm um compromisso em propor a partir das relações ainda sendo tecidas; em 2018/2019, propôs pensar transversalmente a partir da colaboração e do decidir-juntos.
Nesta edição entende-se que não existe proposição que não está enraizada na riqueza da ecologia das práticas cotidianas. Uma oferta, como escreve o filósofo francês Jacques Rancière. “Quais as proposições que apontam raízes relacionais para as noções de diferença em um mundo pensado ecologicamente, relacional e afetivamente, contra toda e qualquer lógica típica opressora?”, indaga Rodolfo Lorandi.
E segue numa pequena coleção de perguntas: “Como propor algo que não tenha, necessariamente, nada a perguntar nem a responder de antemão? Como escreve a filósofa e historiadora belga Isabelle Stangers, como propor antes de julgar, categorizar, pré-definir, pré-valorar o que pode um corpo? Ou uma dança? Como propor a partir das proposições que já se movem nos solos movediços e fugídios da relação em miscelânea”?
Para Lorandi, falar em neurodiversidade e ecologia é abarcar também a diferença, aquela produzida no seu lugar de direito, em movimento contínuo. “Diferenças jamais reduzidas ao humano, neurotípico, branco, europeu, colonizador, patriarcal, machista, racista, homem da cidade grande, da arte culta, da vida lógica, racional, bela, das ideias.”
Histórico da Miscelânea em Dança
Projeto artístico-cultural, voltado aos artistas, professores, bailarinos e pesquisadores de dança é criado em 2010 por Maria Claudia Reginato e Rodolfo Lorandi. Com um viés contemporâneo, com diferentes ações os dois proponentes buscam questionar os padrões tradicionais nas danças de salão. A transversalidade e temáticas provocativas são uma marca registrada desses encontros que financiados pelo setor de cultura do Sesc Florianópolis entre 2010 e 2013. Miscelânea propõe congressos, mostras de dança e vivências.
Aos poucos, o projeto se ampliou, alcançou outros universos e novas ressonâncias, abriu-se ao campo da dança como um todo e conquistou a chancela do Edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura – Artes 2017, 2019 e 2020.
Em 2018, Miscelânea em Residência – Experimento em Multiarte e Economia Solidária trouxe a atenção para o que se compõe o encontro entre as pessoas em ‘estado de arte’, ou seja, a partir do entrecruzamento com cada pessoa, local, dia, contexto, momento, experiência, e na busca por ‘artificiar o cotidiano’ como forma de experimento artístico, cultural, social e econômico.
Em 2020, já na pandemia da covid-19, Dança na Escola SC propôs a primeira residência artística totalmente on-line, envolveu professores e artistas de SC e do Brasil, em torno da dança e da escola.
Em 2021 e ainda na pandemia, ocorre a sétima proposição de Miscelânea em Dança, chamada “Neurodiversidades em Movimento”’, propondo uma residência-exposição totalmente on-line. Ela reúne artistas, provocadores, residentes e propositores de Santa Catarina e Brasil em torno do tema: toda vida é uma vida neurodiversa.
SERVIÇO
O quê: Miscelânea em Dança
Quando: 8 a 11 de outubro de 2021
Onde: Acesso: Zoom Metting, Youtube, Instagram e Whatsapp (48) 99607-0967 ou https://chat.whatsapp.com/CPl2q2wqwApAPrVFdRMBQB. Pelo Youtube e Instagram: @maisquedancar e @miscelaneaemdanca. Ou: https://linktr.ee/miscelaneaemdanca
Quanto: Gratuito
SERVIÇO DAS APRESENTAÇÔES
“Nós” – Dia 8.10.2021, 22h (dez minutos)
“Catadora de Lixo” e Balé de Lixo” – Dia 10.10.2021, 9h30 às 11h (15 minutos de exibição)
“Corpo Cadeira” – Dia 11.10.2021 – 17h (dez minutos)
EQUIPE TÉCNICA
Direção, produção e arte gráfica: Rodolfo Lorandi (SC) e Maria Claudia Reginato (SC)
Apresentações: 1. “Nós”, da Companhia de Dança Lápis de Seda (SC) 2. Catadora de Lixo e Balé de Lixo (Marina Silvério) 3. Corpo Cadeira, da Movidos Dança (RN)
Mediadores-provocadores das mesas-redondas: Ana Luiza Ciscato (SC), Bianca Scliar (SC), Jocélia Freire (RJ) e João Paulo Lima, (CE)
Temas das mesas-redondas: 1. Arte, Saúde e Bem-estar: Caminhos para Incluir (Ana Luiza Ciscato) 2. “Nunca quis ser uma ‘dama’ de excelência!, Sempre sonhei com a transformação dos ambientes; amefricanizar e afrocentralizar o ensino das danças de salão, por uma perspectiva feminista decolonial é o que me move hoje. (Jocélia Freire) 3. Na dança algo nos escapa e ao mesmo tempo nos anima: uma espécie de segredo que nos retém e que compõe com as forças primárias de existência de modo simultaneamente particular e comum. Como mover em escuta? (Bianca Scliar) 4. Não Há Dança, sem Defeito (João Paulo Lima)
Artistas-professores-proponentes: Bia Mattar (SC), Bruna Ferracioli (SC), Camila Magalhães (MG), Demmy Ribeiro (AM), Fernanda Nicolini (RJ), Lucas Santana (SC), Marcela Brasil (BA), Marina Silvério (BA), Movidos Dança (Ariadna Medeiros/RN), Oberdan Piantino (PR) e Vinícius Huggy (SC)
Proposições: 1. Composição Cantada e Poéticas de Resistência (Bruna Ferracioli) 2. O Sopro (QI) e o Movimento (Bia Mattar) 3. Como Criar para Si uma Flor – O Esquizo e o Cosmo (Vinícius Huggy) 4. Receptáculos: Movimentos Atencionais (Oberdan Piantino) 5. Espelho, Espelho Meu (Fernanda Nicolini) 6. Catadora de Lixo e Balé de Lixo (Marina Silvério) 7. Técnica Silvestre (Marcela Brasil) 8. Reflexões sobre o Afeto no Ensino de Arte Remoto (Camila Magalhães) 9. Miniterremotos (Demmy Ribeiro) 10. Ritmos do Corpo: Top Dance Possíveis (Lucas Santana) 11. Exposição e Debate: Corpo e Cadeira
Intérpretes Libras: Giliard Kelm (SC) e Stephanie Caroline (SC)
Assessoria de imprensa: Néri Pedroso (SC)
Apoio: Edital Elisabete Anderle de Apoio à Cultura ∕ Artes – Edição 2020, Fundação Catarinense de Cultura (FCC), Governo do Estado de Santa Catarina, Projeto Mais que Dançar e PARternidade, Grão Cia. de Dança, Movidos Dança, Cia. Lápis de Seda, Coletivo Par, Associação Catarinense para a Integração do Cego (Acic), Grupo Dois em Um, Ong. Autonomia, Associação de Profissionais da Dança de Santa Catarina (Aprodança), licenciatura em dança da Universidade Regional de Blumenau (Furb), Centro de Artes (Ceart) e Centro de Educação a Distância, da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc)
Contatos: Ass. imprensa: NProduções Néri Pedroso (jorn.)
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