Destino de praias badaladas e cidades com arquitetura enxaimel, Santa Catarina ainda guarda segredos. O apresentador Pedro de Bem visita um deles neste episódio da série “Cozinha por Aí“.
Localizado a 110 quilômetros de Florianópolis, o município de Alfredo Wagner é o endereço da Gruta do Poço Certo. A atração é uma fenda na rocha que abriga um altar.
Nessa espécie de capela com vista para a serra, as paredes são rochas e a trilha sonora é a cachoeira. Acessada por uma caminhada de 250 metros em terreno de terra batida, a queda d’água tem 42 metros de altura. O trajeto é tranquilo:
“Meu avô que tem 82 anos sobe e desce bem tranquilão“, avisa Leonardo Althoff, 29 anos, um dos administradores do atrativo rústico, mas bem sinalizado e com apoio de corrimãos nos trechos mais úmidos.
Como o pé da cachoeira não é tão convidativo — em razão de acesso em área escorregadia e em mata fechada e a inexistência de poço para banho —, os turistas costumam se concentrar nesse rasgo da rocha que parece “engolir” esse espaço de contemplação da natureza — e de oração, com 12 bancos de madeira e um oratório ao fundo.
Casamento na gruta
A beleza da capela com vista para a cachoeira fisga os apaixonados que desejam se casar. Depois de um passeio de bicicleta até a gruta, os noivos alfredenses Deisi Buratto e Rubens Dias decidiram que o Poço Certo era a locação exata para a sua união.
“Naquele dia, decidimos que queríamos casar lá. Tudo colaborou para esse sonho se realizar“, conta Deisi em depoimento para Nossa.
A cerimônia para quinze convidados aconteceu em janeiro de 2020 do jeito que o casal sempre gostou, em meio à natureza.
A experiência foi incrível e não teria lugar mais perfeito para oficializar nossa união. A simplicidade do momento fez com que tudo ficasse ainda mais especial.
Fotógrafa de Florianópolis, Jaíne Néris é uma das profissionais que registrou no Poço Certo as chamadas elopement weddings, cerimônias intimistas com poucos ou nenhum convidados realizadas em paisagens de tirar o fôlego.
Embora conhecesse Alfredo Wagner e passasse por perto de carro, ela nunca tinha ouvido falar da gruta. “Por mais que as fotos de lá sejam lindas, é chocante quando você vê o local pessoalmente. A gruta é enorme e a cachoeira faz o cenário parecer filme“.
A fotógrafa, que não esquece da incrível incidência de sol ao final da tarde, garante que o atrativo não decepciona nem em dias nublados. “A luz fica ainda mais bonita. É suave e homogênea. Não tem como não se encantar“, garante.
Propriedade privada
A história da igreja
Os responsáveis por montar a capela são os integrantes da família Althoff. Eles saíram da Alemanha no final do século 19 com destino à Santa Catarina. E uma das cidades escolhidas foi Alfredo Wagner.
Na parte baixa do terreno em que hoje funciona o atrativo, aqueles imigrantes plantavam fumo e milho, cuja colheita era armazenada dentro da própria gruta e trocada por sal e querosene em Florianópolis.
Diante das dificuldades de transporte no terreno íngreme e cheio de curvas, porém, a família decidiu levar a plantação para uma área plana que facilitasse a agricultura.
“Eles mesmos fizeram a trilha até a gruta, mas como era difícil trabalhar lá embaixo, passaram toda a plantação para o alto“, conta Leonardo, membro da quinta geração dos Althoff.
Religiosos — e a quase 20 quilômetros da igreja mais próxima —, eles aproveitaram o espaço desocupado para fazer seu próprio espaço de oração em 1952. Até hoje, a família usa o local para rezar o terço aos domingos.
“Nós arrancamos muita unha lá. Naquele tempo foi tudo na marreta para fazer um chão maior para caber mais gente na gruta” diz Odílio Althoff, de 82 anos.
Assim como explica seu neto Leonardo, o nome do atrativo foi inspirado no Poço Certo, bairro rural a três quilômetros de Lomba Alta. Odílio conta também que o nome tem origem em um poço que ficava na parte posterior da propriedade, onde caíam os animais caçados na região.
Além da cachoeira
Na área em que hoje fica o estacionamento e o acesso à atração principal foi instalado um quiosque com venda de produtos coloniais como mel silvestre, bolachas caseiras e cerca de 15 tipos de geleia.
Porém, antes de começar a descida, vale passar pelo deque de madeira com vista para a cachoeira e a Serra do Costão do Frade, onde o visitante pode usar um daqueles balanços instagramáveis que viraram febre no Brasil.
Recentemente, o Poço Certo ganhou também um restaurante que funciona de sexta a domingo e serve petiscos e pratos feitos pela matriarca da família. Um exemplo é a polenta com galinha caipira.
Com a alta procura por áreas isoladas durante a pandemia, os administradores passaram a cobrar uma taxa de entrada para controlar o número de visitantes à cachoeira.
Nos últimos anos, o Poço Certo chegou a servir de cenário para algumas raras descidas de rapel, porém Leonardo conta que a prática é esporádica e que a família prefere ter uma melhor estrutura antes de investir em novos negócios.
Por enquanto, esse alfredense divide seu tempo entre o plantio de cebolas, principal fonte econômica da cidade, e os cuidados com a atração turística no quintal de casa.
“É um lugar simples e muito bonito. Não tem nem explicação” afirma Leonardo.
Estrada Geral Lomba Alta, s/n (seguir placas sentido Poço Certo). 8h30/18h. Ingresso: R$10 (crianças até 13 anos não pagam). Tel.: (48) 9 9126-1447
Eduardo Vessoni – Colaboração para Nossa
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