Principal concorrente do WhatsApp, o Telegram já está instalado em mais de 60% dos smartphones brasileiros e aposta em políticas de uso mais frouxas para atrair usuários.
Apesar do tabu relacionado à indústria pornográfica, não dá para negar que o consumo de pornografia não para de crescer.
E o principal motivo para esse crescimento é a facilidade de acesso proporcionada pela internet. Hoje, além das plataformas consideradas mainstream no mercado adulto, como o PornHub e o RedTube, os usuários utilizam as redes sociais para acessar esse tipo de conteúdo.
Dentre essas redes, plataformas de mensagens, principalmente o WhatsApp e o Telegram, têm sido cada vez mais utilizadas com essa finalidade.
No caso do Telegram, o crescimento expressivo é resultado não só de questões comportamentais, mas também das diretrizes de uso da própria plataforma.
Nesse cenário, o principal concorrente do WhatsApp se consolidou no mercado de consumo de material adulto. E tudo indica que sua influência só deve aumentar.
Consumo de pornografia cresceu durante a pandemia
De acordo com a pesquisa “Brasil é o país do sexo!”, 64,1% dos brasileiros admitiram consumir pornografia durante a pandemia. Nesse período, as práticas de masturbação associadas ao consumo de materiais pornográficos, especialmente vídeos, cresceu tanto entre homens quanto entre as mulheres.
Segundo o estudo, plataformas como Xvideos, PornHub e RedTube ainda são as preferidas dos brasileiros para acessar esse tipo de conteúdo. Embora a tecnologia tenha ajudado pessoas de todas as idades a acessarem esses materiais, os jovens e adolescentes são os que mais têm consumido esse conteúdo online.
Outra pesquisa realizada pelo próprio PornHub, considerado um dos maiores sites de pornografia do mundo, também revelou o aumento expressivo no número de acessos desde o início da pandemia de Covid-19.
De acordo com o estudo, no Brasil esse aumento foi maior que 10%. Em dias de pico de acesso, o número de acessos era maior que 28%. Porém, em países nos quais as políticas de isolamento social foram mais severas, como França e Itália, esse aumento chegou a 50%.
Todos esses estudos são unânimes ao apontar que o estresse gerado pelo isolamento e a dificuldade de encontrar parceiros sexuais pode ter motivado o aumento desse consumo, já que o sexo também pode ser utilizado como uma forma de aliviar a ansiedade gerada durante a pandemia.
Nesse período, além das principais plataformas de conteúdo adulto, as redes sociais também foram decisivas para facilitar o acesso à pornografia. Foi assim que o Telegram, por exemplo, conseguiu se consolidar nesse mercado.
Telegram reinventa o modo de consumir pornografia
Considerado o principal concorrente do WhatsApp, o Telegram faz parte daquele grupo de redes sociais que acumula milhões de usuários e diversas funcionalidades.
Uma das características mais marcantes desse aplicativo é a possibilidade de personalização dos canais de distribuição, que permite ao usuário organizar publicações e restringir interações, por exemplo. Os usuários ainda podem esconder sua verdadeira identidade, permitindo que informações como nome, foto e número de telefone permaneçam ocultos.
O aplicativo também se destaca por permitir o compartilhamento de conteúdo com um número elevado de pessoas. Alguns grupos podem alcançar até 200 mil pessoas, por exemplo.
Mas essas não são as únicas características do Telegram que o tornam uma plataforma ideal para a disseminação de conteúdo pornográfico. Outro diferencial do aplicativo é a liberdade de compartilhamento fornecida ao usuário, já que a plataforma não usa regras rígidas de moderação de conteúdo.
Graças a essas características, o Telegram deixou de ser apenas um app com grandes grupos de amigos, conhecidos e colegas de trabalho. Agora, vários usuários também utilizam a plataforma para compartilhar e consumir conteúdos inusitados, como a pornografia.
De acordo com o SEMrush, uma das plataformas de marketing de conteúdo mais famosas do mercado, vários termos de pesquisa relacionados a conteúdo pornográfico já são relacionados ao Telegram.
Isso sinaliza que o aplicativo se consolidou no mercado adulto e é cada vez mais utilizado para consumir pornografia online.
Outros fatores influenciam nesse cenário
Além das características do próprio aplicativo de mensagem, outros fatores podem estar impulsionando o uso do Telegram para consumo de conteúdo adulto.
Com 66% da população ativa nas redes sociais, o Brasil é o terceiro país do mundo em relação ao uso de aplicativos como WhatsApp, Facebook e Instagram. Por isso, é natural que as pessoas busquem consumir mais conteúdo nessas redes que já utilizam no seu dia a dia.
Como esses aplicativos, especialmente WhatsApp e Instagram, têm um controle mais rígido em relação ao que é publicado em suas plataformas, as pessoas começaram a buscar alternativas para se comunicar.
Nesse contexto, o Telegram se mostrou uma alternativa segura, simples, funcional e menos rígida para conversar e compartilhar materiais sobre qualquer assunto, inclusive sobre sexo. Por isso, o aplicativo apresenta um crescimento impressionante no Brasil.
Segundo a pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box, publicada em fevereiro de 2022, a plataforma de mensagens já está instalada em 60% dos smartphones do país. Esse número é quase três vezes maior do que o registrado em janeiro de 2019, quando esse registro era de apenas 19%.
Esses dados demonstram que o aplicativo de mensagem deve continuar crescendo junto com o aumento do consumo de pornografia e as polêmicas da plataforma.
As polêmicas do Telegram
Apesar de ser acusado de falta de transparência e de negligenciar a moderação do conteúdo, o Telegram deve continuar permitindo o compartilhamento de conteúdo adulto em sua plataforma. Inicialmente, isso pode parecer contraditório.
Afinal, para se cadastrar no aplicativo, o usuário é obrigado a concordar com termos de uso e serviços da plataforma, que proíbem a publicação de conteúdo pornográfico.
Porém, na prática, a plataforma continua sendo utilizada com essa finalidade, já que suas políticas de moderação de conteúdo refletem as crenças de Pavel Durol, fundador e CEO do aplicativo.
Durol é considerado um grande defensor da liberdade total e irrestrita expressão e de compartilhamento de conteúdo. Em função disso, as regras de moderação do Telegram são consideradas bem mais leves em comparação a outras plataformas, como o WhatsApp e o Instagram.
Por esse motivo, quase nenhum assunto é bloqueado ou proibido no aplicativo. Por um lado, essa medida beneficia aqueles que querem consumir conteúdo pornográfico e conversar sobre sexo de um modo mais simples, seguro e sem censura.
Por outro lado, a falta de moderação também tem gerado problemas, como o aumento de grupos que incentivam a pedofilia e estimulam a pornografia infantil, por exemplo.
Nesses casos, além de denunciar os grupos e canais que compartilham esse tipo de conteúdo no próprio Instagram, as pessoas devem denunciar esses crimes à Justiça. Afinal, o Ministério Público tem trabalhado para investigar os criminosos e impedir a divulgação desse tipo de material.
Esses problemas são importantes para lembrar que, assim como qualquer outra rede social, o Telegram pode ser ou não uma boa ferramenta de conteúdo a depender da forma como é utilizada pelo usuário.
Por isso, é melhor aproveitar suas funcionalidades para ter acesso a conteúdo adulto de qualidade – tudo dentro da lei.
Carolina Peres
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