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Escrita terapêutica: versos de Graziela Barduco para aliviar dores da alma

Em um mergulho na literatura feminista, paulista encontrou cura na escritoterapia e agora traz poemas de esperança a mulheres que sofrem e se sentem solitárias

Falar sobre esperança se tornou uma necessidade para Graziela Barduco após um período difícil da vida, acompanhado pela depressão. Por meio da escritoterapia, ela encontrou leveza e cura para as próprias dores. Atualmente, escreve versos de coragem para acolher mulheres com a alma ferida.

No lançamento Sutil Leveza, Graziela presenteia as leitoras com uma coletânea de 96 poemas feministas. Nos versos da nova obra, ela acolhe ao abordar temas e sentimentos fortes como abandono, tristeza, injustiças e revolta, mas também esperança e o encontro com o “eu feminino”.

Confira a entrevista completa sobre o lançamento e a atuação de Graziela Barduco em contribuição à leitura feminista brasileira.

1. Graziela, você tem trabalhos no teatro e literatura voltados ao público infantil, o que te motivou a escrever o livro “Sutil Leveza”, de poesias adultas?

G. B.: Com relação à poesia que carrego comigo, grande parte de meus escritos brotou-me de momentos muito difíceis, de puro desespero e profunda depressão, acredito que, mesmo de forma intuitiva, com o intento de trabalhar a possibilidade de cura que a arte carrega intrínseca a sua essência. Dia a dia acabo por encontrar, através da escrita, uma ferramenta poderosa de alívio da dor, do estresse, do medo e do pânico, bem como uma peça chave para o desafogo de toda a angústia que, vez ou outra, insiste em me assolar.

2. Qual é a principal mensagem que o seu livro traz às leitoras? E de que forma você acha que os versos podem influenciar ou inspirar a vida delas?

G. B.: Acredito que sou um tanto insistente em compartilhar aquilo que sinto tanto por autopreservação, quanto para encorajar o (a) leitor (a) a fazer o mesmo. Compartilhar minhas dores e angústias é um gesto de libertação, bem como uma tentativa de nutrir uma identificação com quem passa por esses mesmos problemas, de modo a criar uma rede de apoio e fortalecimento. Lembrar que o outro não está só é de suma importância e, muitas vezes, pode fazer toda a diferença, gerar uma cumplicidade com quem está lendo, além de também alimentar cada vez mais o sentimento de acolhida e empatia.

3. Em alguns poemas, você traz nomes femininos conhecidos, como Cora Coralina e Conceição Evaristo. São mulheres influentes e inspiradoras, mas por que você escolheu especialmente elas para este diálogo sincero sobre a vida?

G. B.: São duas escritoras que marcaram muito a minha história com a escrita. Cora Coralina, com sua escrita doce e palavras que são como um carinho na alma; e Conceição Evaristo, com a escrita empoderada de uma mulher intensamente guerreira. Ambas com suas genialidades condecoradas em fases mais maduras de suas vidas. Assim como tantas outras mulheres que só conseguem seus gritos de liberdade depois de muita luta, às vezes um tanto tardiamente (se eu não me engano, Conceição Evaristo começou a publicar aos 44 anos e Cora Coralina aos 76 anos de idade), e ambas sem perder a garra e o brilho no olhar.

4. Outra mulher que você dialoga é Mariana Ferrer, vítima de estupro em 2018. Por que decidiu dedicar versos a ela? De que forma o caso dela impactou na sua vida?

G. B.: Eu acredito que o caso de Mariana indignou e indigna a todas nós porque mais uma vez o estuprador sai impune e a vítima tem sua vida destruída, sem nenhuma reparação. Muito pelo contrário, haja vista o que a própria justiça fez com a moça, com aquelas humilhações absurdas às quais ela foi submetida naquele julgamento inadequado. Desta forma, é difícil aceitar ficar calada diante de algo assim.

Eu faço parte de um coletivo de mulheres cordelistas chamado Teodoras do Cordel e há um tempo decidimos fazer uma obra coletiva com o título “Justiça Violada” para mostrar nossa solidariedade à Mariana. E a partir disso resolvi incluir em meu livro os meus versos que compõem esse nosso livreto coletivo justamente pela temática do mesmo e, mais uma vez, em solidariedade a Mariana, afinal de contas o caso dela não pode e não deve cair no esquecimento.

5. Você é bastante ativa nas causas feministas. Pode contar um pouco da sua atuação e participação como escritora?

G. B.: Meu segundo livro de poesias, o “Lutei Contra 100 Leões – Todos os 100 Eram Jumentos”, brotou-me em um momento em que me via um tanto sufocada por comentários e críticas negativas com relação ao que vinha produzindo. Porém, aos pouquinhos fui observando que tais apontamentos, em sua grande maioria, vinham de homens e alguns deles até mesmo me desencorajando a continuar em meu caminho de escrita que vinha se desenhando.

Eu cheguei a ficar um tempo travada, o que me fez muito mal, já que a escrita me serve principalmente como válvula de escape das mazelas da vida, de modo que não conseguir escrever é um suplício gigantesco sendo aplicado na minha alma. Foi então que surgiu o poema intitulado “Lutei Contra 100 Leões – Todos os 100 Eram Jumentos”, como forma de resposta a tudo isso que eu vinha sentindo. A partir dele, surgiu a ideia de encabeçar o livro (homônimo ao poema), para que eu entendesse, de uma vez por todas (sim, eu precisei me convencer disso), que ninguém, mas ninguém mesmo, vai conseguir me parar.

6. Você tem outros projetos literários em mente para o futuro? Se sim, já pode adiantar alguma novidade?

G. B.: Em setembro de 2022 lancei uma segunda edição do meu primeiro folheto de cordel, o “Cordel para Gi”, que me surgiu enquanto uma homenagem a uma amiga muito querida que partiu precocemente. Este cordel foi uma espécie de desabafo/desafogo inerente ao meu processo de luto.

Gi partiu de forma brusca, vítima da depressão, que surge sempre muito silenciosa e, quando chega ao ponto que chegou para ela, faz um estrago que não tem volta. E é neste lançamento que estou trabalhando no momento, juntamente ao “Sutil Leveza: o que na alma pesou, em verso se libertou”, lançado no início de agosto.

Para saber mais sobre o livro “Sutil Leveza”, clique aqui!

Gabriela Bubniak
Assessora de imprensa


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