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A dor silenciosa das crianças: um chamado urgente para escutar, compreender, amar e NÃO calar

*Nathalia de Paula

Durante sua participação no especial de Dia das Mães do videocast Mil e Uma Tretas no último domingo, a cantora Ivete Sangalo compartilhou uma experiência dolorosa que passou ao ouvir uma declaração sincera de seu filho mais velho quando ele tinha oito anos. Na época, Ivete estava emocionalmente fragilizada com o puerpério, que é um período desafiador tanto física quanto emocionalmente para as mães.

Ela relembrou o momento: “Um dia, ele me disse: ‘Mãe, queria lhe contar uma coisa’. Eu tinha acabado de dar à luz e ainda estava me recuperando dos pontos e tudo mais… E ele falou: ‘Eu amo mais o meu pai do que você’. Eu respondi: ‘Entendo, meu filho. Tudo bem’. Eu estava tentando ser uma daquelas mães super compreensivas que leem livros sobre maternidade, sabe?

No entanto, Ivete também relatou o sofrimento que essa declaração lhe causou e mencionou a orientação que recebeu de sua terapeuta. A terapeuta disse para ela: “Não deixe seu filho dizer isso para você. Ele pode até sentir, mas expressar isso dessa maneira, não!

Seguindo a abordagem da Educação Parental e da Disciplina Positiva, é maravilhoso quando uma criança tem a liberdade de expressar seus sentimentos aos pais, pois isso demonstra uma conexão, segurança e confiança na relação. Marcelo, o filho de Ivete, procurou a mãe para compartilhar seus sentimentos, sem a intenção de magoá-la, algo que muitas pessoas não compreendem por não entenderem as fases do desenvolvimento cerebral infantil.

Essa criança também estava passando por um momento de vulnerabilidade devido à chegada das irmãs. Certamente sua rotina com a mãe havia mudado, e a expressão “eu gosto mais do papai do que de você” refletia a falta que a mãe fazia naquele momento, enquanto o pai se tornava seu maior apoio e companheiro por causa das recém-nascidas.

A ideia de reprimir ou pedir que uma criança guarde seus sentimentos para si e não os expresse aos pais ou a outros adultos é como tirar suas asas, que nós mesmos ajudamos a cultivar. Portanto, é extremamente importante que os pais tenham equilíbrio emocional ao educar seus filhos.

Como adultos da relação, cabe a nós lidarmos com as emoções que as palavras das crianças despertam em nós, pois essas emoções podem refletir nossos próprios traumas de infância, como rejeição ou negligência sofrida no passado. O que poderia ter sido feito em vez de impedir a criança de expressar seus sentimentos, como sugeriu a terapeuta?

Dentro da abordagem integrativa da Educação Parental, mãe e filho poderiam ter sido compreendidos e acolhidos em suas necessidades, sendo olhados de forma integral. A dor de Ivete poderia ter sido um momento para conversar com o filho sobre suas necessidades que não estavam sendo atendidas por ela. Poderiam ter falado sobre a chegada das irmãs, o quanto a mudança na rotina da família estava sendo desgastante para ela também, o quanto ela sentia falta dos momentos a sós com o filho e das atividades que costumavam fazer juntos.

Assim, tanto Ivete entenderia o contexto por trás das palavras do filho, quanto Marcelo teria suas necessidades de acolhimento atendidas, seus sentimentos validados e a segurança de que o amor e a atenção da mãe não seriam afetados pela chegada das irmãs. Agir impulsivamente, motivada pelo medo e pelo sentimento de rejeição, conforme sugerido por sua terapeuta, fez com que a mãe agisse de forma irracional, baseada em crenças limitantes e com um olhar acusatório, em vez de responder ao pedido de ajuda de uma criança ferida que está tendo dificuldades em lidar com as mudanças e com a falta da presença da mãe.

Por esse motivo, sempre enfatizamos a importância de que os pais, principalmente as mães, estejam emocionalmente bem para lidar com as demandas que nascem com a maternidade e que continuarão a aparecer ao longo da vida de seus filhos. O autocuidado, o autoconhecimento e o autocontrole são ferramentas poderosas na educação e devem ser cultivados. Mesmo assim, haverá momentos difíceis em que não teremos todas as respostas, momentos em que nos magoaremos com certas atitudes, mas, por meio de nossa consciência, podemos respirar e buscar dentro de nós as respostas para os desafios da maternidade.

Sobre Nathalia de Paula

Nathalia de Paula é psicanalista clínica e educadora parental especializada em terapia emocional de famílias e terapia integrativa do sono infantil. Além disso, ela é co-fundadora e gestora do Lumina Instituto Educacional desde 2017, uma escola de ensino regular com educação infantil e fundamental.  Para mais informações, acesse @nathaliadepaula.parental @nasuapsique

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