Psicóloga alerta para a necessidade dos pais conversarem com os filhos
Nos últimos anos houve um aumento preocupante nos ataques às escolas em diferentes partes do mundo. Esses eventos trágicos não apenas causam perdas irreparáveis de vidas, mas também têm um impacto profundo na saúde mental de crianças e adolescentes que vivenciam ou testemunham tais tragédias. A cobertura jornalística desses ataques desempenha um papel significativo na disseminação da informação, mas também levanta questões sobre os efeitos negativos que podem ter na saúde mental dos jovens.
Na última segunda-feira (19) dois adolescentes que eram namorados foram mortos por um atirador no Colégio Estadual Professora Helena Kolody, no Paraná. Foi confirmado que o autor dos disparos era um ex- aluno de 21 anos, e também ex-namorado de uma das vítimas, Karoline Verri Alves, de 16 anos. Este foi o 25º ataque em escolas no país nos últimos 22 anos. Aliás, só em 2022, 5 cidades diferentes foram cenário de episódios do tipo.
Uma pesquisa, realizada no início de 2021 na região metropolitana de São Paulo pelo Comitê Paulista pela Prevenção de Homicídios na Adolescência, constatou que oito em cada dez jovens de 12 a 19 anos já presenciaram ao menos um episódio de violência em escolas. O levantamento ainda identificou que cerca de seis mil adolescentes, 36%, relataram sintomas de ansiedade ou depressão.
“O efeito emocional dessas tragédias tende a ser maior também a depender do quão mais próximos os adolescentes estão do caso em si. Mas tem outros fatores que são importantes, como o quanto de experiências anteriores eles já sofreram por conta de violência. Se eles vivem em uma família que já é violenta, ou numa comunidade violenta, o impacto costuma ser maior”, explica a psicóloga Talita Padovan.
“No caso de crianças, os pesadelos podem ser provocados pela exposição a fatores estressores no ambiente familiar ou escolar, como bullying, negligência e brigas constantes entre os pais. Então, além do tratamento psicológico para as crianças e adolescentes, é de suma importância que os pais se disponham a passar por orientações parentais para aprender a lidar com seus filhos, gerando assim a proteção e a segurança necessárias para evitar grandes problemas no futuro.”, continua Talita.
Os ataques nas escolas podem causar graves consequências para a saúde mental de crianças e adolescentes. Esses incidentes violentos podem gerar uma série de problemas psicológicos, como transtorno de estresse pós-traumático, ansiedade, depressão, distúrbio de insônia e transtorno do pesadelo. Após um ataque, os adolescentes podem experimentar medo constante, hipervigilância, pesadelos recorrentes e evitamento de situações que os lembram do evento traumático. Eles podem sentir-se inseguros e ter confiança diminuída em si mesmos e nos outros. Além disso, o incidente pode causar problemas de concentração e desempenho acadêmico.
Segundo a psicóloga Talita, alguns sinais em crianças e adolescentes podem indicar um sofrimento mental além do usual, entre eles uma consistente piora no desempenho acadêmico, dificuldade de concentração e incapacidade de regular o humor e o sono. A psicóloga alerta para, por exemplo, a mudança de comportamento de uma pessoa repentinamente, passando a ficar mais reativa, apresentando oscilações no humor, com queixas muitas vezes até físicas.
“Uma das funções dos pais é dar o espaço para os jovens falarem sobre o assunto. Frequentemente os pais pensam que assuntos difíceis não devem ser abordados, para ‘poupar os jovens’, só que eles já estão pensando sobre isso e podem não estar sentindo que tem um espaço para falar sobre. Os pais têm de ser capazes de abrir o diálogo e mostrar que, embora impactados pela situação, não quer dizer que é algo que vai acontecer o tempo inteiro. O discurso não pode partir de um lugar de ‘o mundo não tem jeito’, de um lugar catastrófico”, orienta a especialista.
Em vista disso, é importante que os pais estejam mais atentos aos seus filhos e busquem apoio e acompanhamento especializado, podendo incluir terapia individual e aconselhamento psicológico. “Nós profissionais de saúde mental podemos ajudar os jovens a processar suas emoções, desenvolver estratégias de enfrentamento saudáveis e reconstruir sua sensação de segurança”, conclui a psicóloga.
Lucas Munford
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