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Argentina: de que liberalismo está se falando?

Argemiro Luís Brum

A eleição presidencial da Argentina, com a vitória de Javier Milei, fez o lugar comum popular se agitar novamente, com a ilusão de que os vizinhos terão uma economia liberal a partir do novo governo. Ledo engano! Milei é tanto um liberal quanto Lula é um comunista. Por falta de conhecimento de causa, as pessoas aceitam qualquer coisa neste mundo de fake news.

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O liberalismo econômico é uma doutrina surgida no século XVIII e seu principal representante é o escocês Adam Smith (1723-1790). Ele defende a não-intervenção do Estado na economia, a livre-concorrência, o câmbio-livre e a propriedade privada. A livre concorrência engloba a liberdade para o comércio produzir, fixar preço e controlar a qualidade da produção. O próprio mercado, com sua lei de oferta e procura, ajustaria a demanda e o valor das mercadorias, sem necessidade de interferência estatal.

O câmbio livre, por sua vez, tem como objetivo a queda das tarifas alfandegárias as quais levam ao protecionismo. Portanto, está certo Guy Sorman, do qual Milei foi aluno eventual, ao declarar que “Milei como referência de liberalismo é terrível (…) pois ele usa o liberalismo apenas como um slogan, com palavras, mas não acho que realmente entenda o significado do termo” (ZH,27/11/23, p.14), assim como a grande maioria que apoia tais personagens (veja Trump, Bolsonaro, Putin etc). Dolarizar a economia e eliminar o Banco Central não fazem parte da cartilha liberal.

Tampouco privatizar a qualquer custo as empresas estatais. E muito menos “comprar briga” com seus principais aliados comerciais. Na prática, assim como o ocorrido no Brasil e outros países, estamos diante de um populismo inconsequente, visando ganhar as eleições sobre o descrédito da sociedade em relação ao que existe. Na prática, ninguém sabe como esta história argentina terminará, mas tecnicamente dolarizar a economia e eliminar o banco central do país não é o caminho. A Argentina precisa, como outros países, eliminar o déficit público, ajustando o fiscal. Para tanto, uma âncora fiscal bem construída, e obviamente cumprida, pode ser um caminho. Assim, ou Milei se transforma efetivamente em um liberal, caminhando para o centro do espectro político-econômico, ou não governará, correndo o risco de afundar ainda mais a economia argentina, podendo sofrer um impeachment logo adiante.


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