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Morte de abelhas comprometerá produção de alimentos após enchentes no RS

A morte de abelhas provocada pelas enchentes no Rio Grande do Sul terá impacto direto na recuperação da produção agrícola das áreas atingidas, sobretudo das culturas que mais dependem de polinização como frutas, verduras e legumes.

“É incomensurável a perda de polinizadores que tivemos na natureza com deslizamentos e enxurradas e o dano na polinização gaúcha com essas chuvas”, lamenta o vice-presidente da Federação Apícola e de Meliponicultura do Rio Grande do Sul (Fargs) e coordenador da Câmara Setorial de Apicultura e Meliponicultura do Estado, Patric Luderitz.

Além das abelhas de criações comerciais, ele destaca que as chuvas também impactaram as abelhas nativas sem ferrão e outros insetos que contribuem para a polinização de culturas importantes no Estado, com destaque para a maçã, cuja dependência das abelhas chega a 90%, segundo estimativas.

“Os polinizadores são extremamente importantes para todos, para a vida e para o Rio Grande do Sul, que é um Estado agrícola, se não tiver polinização, a produção vai descambar”, comenta o apicultor.

De acordo com o presidente da ONG Bee or not to be, Daniel Gonçalves, 70% das culturas agrícolas do planeta dependem, em alguma medida, da presença de polinizadores. “Até mesmo em uma pastagem, para produzir a semente, é necessário que se tenha as abelhas”, comenta o ativista.

No caso específico do Rio Grande do Sul, ele alerta para a chegada do inverno, período em que a disponibilidade de alimento para as abelhas diminui. No caso dos insetos mantidos em criações comerciais, os apicultores costumam oferecer preparados proteicos para manter os enxames, mas no caso de abelhas silvestres o cenário é duplamente complicado pela mortandade e pela escassez de flores.

“A atividade de polinização acontece com enxames que estão fortes e populosos. Como os enxames estarão teoricamente mais fracos, isso faz com que se tenha um trabalho menor de visitação às flores nesse período e, consequentemente, talvez um serviço ecossistêmico de polinização provavelmente menor”, observa Daniel.

No caso das abelhas nativas sem ferrão, ele destaca que elas possuem hábito de nidificar no solo ou em troncos de árvores – o que as torna ainda mais vulneráveis às cheias. “Por outro lado, não foi o Estado todo que sofreu com as cheias, então há ainda muita abelha dentro do Rio Grande do Sul e com o tempo esses enxames vão seguir crescendo”, pondera o presidente da Bee or not to be.

Essa recuperação, explica, deve ocorrer paralelamente ao ressurgimento os ecossistemas atingidos. “Em quanto tempo isso vai acontecer não dá pra prever, mas acreditamos que diferente de um processo de desmatamento, no caso de cheias o reestabelecimento da flora ocorra rapidamente fazendo com que aquele ambiente volte a ficar adequado para as abelhas”, completa Daniel.

Por Cleyton Vilarino — São Paulo


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