Acidentes Notícias

Acidente aéreo em Vinhedo (SP): tragédia é investigada e os especialistas falam sobre causas

Fonte: Olhar Digital

Aeronave saiu de Cascavel (PR) em direção a Guarulhos (SP), mas caiu em Vinhedo (SP); havia 61 pessoas a bordo e nenhuma sobreviveu

O avião era um de modelo ATR-72, que deixou o Paraná às 11h58 e deveria pousar em Guarulhos (SP) às 13h45. Imagens de radar mostram que o trajeto da aeronave seguia normal, até uma mudança abrupta e seu sumiço bem em cima de seu local de queda.

A queda teria sido por volta das 13h22, pois, segundo a Força Aérea Brasileira (FAB), o voo, de prefixo 2Z2283, da Voepass, estava normal até 13h20, mas, das 13h21 em diante, a aeronave parou de responder às chamadas da torre de controle de São Paulo (SP), além de não ter reportado estar sob condições meteorológicas adversas, nem declarado emergência. “A perda do contato ocorreu às 13h22”, disse a FAB.

Vários vídeos que circulam na internet mostram o avião em queda livre e dos destroços, além de que diversas testemunhas relatam que o avião estava com um barulho anormal quando começou sua queda brusca.

Segundo nota da companhia aérea, o avião tinha condições de voar e não possuía restrições. O Cenipa, responsável pela investigação, disse, em coletiva de imprensa, ser prematuro apontar as causas do acidente.

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) corroborou as informações da Voepass e disse que não só o avião estava em condições regulares para voar, com certificados de matrícula e aeronavegabilidade em ordem, bem como as documentações dos tripulantes estavam em dia.

No início da noite, a FAB e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), informaram que as caixas-pretas da aeronave foram recuperadas. Elas serão enviadas para Brasília (DF), onde serão analisadas e devem ajudar a entender as causas do acidente.

Freitas, que esteve no local, ao lado do governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), entre outras autoridades, informou que montou um gabinete de crise na casa de um morador do condomínio para acompanhar a tragédia e que, em breve, os corpos serão removidos do local.

Eles serão levados para o Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo (SP) e, após o trabalho de identificação, serão liberados para traslado para Cascavel (PR). O IML de São Paulo tem “setores que vão atender melhor o caso do que o IML de Campinas”, tais como serviços de antropologia e odontologia lega, informou o secretário de segurança pública de São Paulo, Guilherme Derrite.

Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e Polícia Militar estão trabalhando no local. A Perícia já esteve no local e especula-se que os trabalhos seguirão madrugada adentro.

13h25 Rua Edueta, 2500 – Vinhedo. Queda de aeronave, 07 equipes empenhadas, até o momento apenas essas informações…#193S— Corpo de Bombeiros PMESP (@BombeirosPMESP) August 9, 2024

Notas de órgãos e instituições sobre o acidente aéreo

A seguir, confira a íntegra das notas enviadas à imprensa de FAB, Voepass, Aeroporto Regional de Cascavel (PR) e Ministério de Portos e Aeroportos:

FAB

A Força Aérea Brasileira (FAB) informa que, por meio do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), foi acionada para atuar na ocorrência da queda da aeronave da Passaredo, de matrícula PTB 2283, registrada na tarde desta sexta-feira (09/08), em Vinhedo (SP).

Investigadores do CENIPA e do Quarto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA IV), órgão regional do Centro, localizados em São Paulo, já estão a caminho para realizar a Ação Inicial da ocorrência.FAB, em nota

Voepass

A VOEPASS Linhas Aéreas informa a ocorrência de um acidente envolvendo o voo 2283- avião PS – VPB, nesta terça-feira, dia 09 de agosto, na região de Vinhedo/SP.

A aeronave decolou de Cascavel/PR com destino ao Aeroporto de Guarulhos, com 57 passageiros e 4 tripulantes a bordo.A VOEPASS acionou todos os meios para apoiar os envolvidos. Não há ainda confirmação de como ocorreu o acidente e nem da situação atual das pessoas que estavam a bordo.

A Companhia está prestando, pelo telefone 0800 9419712, disponível 24h, informações a todos os seus passageiros, familiares e colaboradores.A VOEPASS Linhas Aéreas informa que a aeronave PS-VPB, ATR-72, do voo 2283, decolou de CAC sem nenhuma restrição operacional, com todos os seus sistemas aptos para a realização do voo.Voepass, em nota

Aeroporto de Cascavel (PR)

A gestão do Aeroporto Regional de Cascavel informa que aguarda informações da companhia aérea Passaredo que, no momento, é o único órgão que detém informações oficiais.

Uma operação padrão de emergência regida pela equipe do Aeroporto está em curso para entrar em contato com as famílias de possíveis vítimas.

A aeronave que saiu do Aeroporto Regional de Cascavel com destino a Guarulhos, caiu na cidade de Vinhedo, São Paulo, na tarde desta sexta-feira (9).Aeroporto Regional de Cascavel (PR), em nota

Ministério de Portos e Aeroportos

O Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) lamenta profundamente o acidente envolvendo a aeronave com passageiros, ocorrida em Vinhedo-SP, no início da tarde desta sexta-feira (9), e manifesta solidariedade aos familiares e amigos das vítimas.

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) está acompanhando a prestação do atendimento aos familiares pela empresa aérea, bem como adota as providências necessárias para averiguação da situação regulamentar da aeronave e dos tripulantes, no âmbito de suas atribuições.

O Governo Federal acompanha ainda os desdobramentos das investigações oficiais sob competência do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).Ministério de Portos e Aeroportos, em nota

  • Às, 11h52, o avião demonstrou uma primeira falha, quando teve queda brusca em sua velocidade: de 529 km/h, caiu para 398 km/h em apenas 30 segundos. A pane se repetiu às 13h20. Especialistas informam que isso pode siginificar problema no fluxo combustível;
  • A aeronave estava a 5.242 m de altura, altitude que pode provocar a formação de gelo nas aeronaves, que possuem sistema para degelo;
  • Ele despencou quase quatro mil metros em apenas dois minutos. O avião estava a 17 mil pés de altitude e a quatro mil às 13h22, momento no qual a ferramenta de rastreamento do voo perdeu o sinal de GPS da aeronave;
  • Como os vídeos mostram, o avião caiu em uma “parafuso chato”;
  • Ao cair no chão, ele explodiu, matando todos a bordo;
  • O processo de resfriamento dos destroços terminou no início da noite desta sexta-feira (9), permitindo o início do trabalho de perícia e resgate dos corpos.

Quais podem ter sido as causas?

Em entrevista coletiva realizada na noite desta sexta-feira (9), o CEO da Voepass, Eduardo Busch, não descartou a hipótese de acúmulo de gelo nas asas, mas garantiu que o avião “estava 100% operacional no momento da decolagem”.

Ele também não descarta a chance de ter havido pane no ar, mas afirmou que apontar as causas da queda, no momento, é “mera especulação”.

Já o diretor de operações da Voepass, Marcel Moura, informou que a aeronave passou por manutenção em Ribeirão Preto (SP) na noite de quinta-feira (8) e que nenhum problema foi encontrado.

O ATR tem características de voo, tem sensibilidade um pouco maior à situação de gelo. Então, a hipótese [de congelamento] não é descartada, como também nenhuma hipótese é descarta neste momento. O Cenipa já está em ação.Marcel Moura, diretor de operações da Voepass, em coletiva de imprensa

Olhar Digital entrevistou Roberto Peterka, especialista em segurança de voo. Ele explicou os passos iniciais da investigação: “vai se estudar o piloto, como é que foi o treinamento, como é que ele era, o aspecto físico, aspecto psicológico, a máquina em si, o que funcionava, o que não funcionava, e a ideia geral é de que realmente teve um possível estol [quando o avião perde sustentação e afunda]”, disse.

“Havia um alerta de que nesse nível que ele estava voando, naquela região, haveria condições severas com possível formação de gelo”, continuou.

Gerardo Portela, engenheiro especialista em risco e segurança, complementa: “Precisa ter certa velocidade para ela ficar em pé, em equilíbrio que a gente chama de dinâmico. Se ela parar totalmente ou se a velocidade ficar muito baixa, ela pode cair”, explicou.

A aeronave é a mesma coisa, ela possui uma aerodinâmica que já define qual é essa velocidade que ela precisa manter para não perder a sustentação de motor, lembrando que essa aeronave era uma aeronave bimotor, ou seja, se um motor falhar é possível manter o voo com uma só turbo hélice e isso é de projeto feito justamente para conferir uma maior confiabilidade ao equipamento.Gerardo Portela, engenheiro especialista em risco e segurança, em entrevista ao Olhar Digital

Portela aponta outra hipótese que possa ter comprometido a aeronave: o plano de voo. “Uma outra possibilidade é um plano de voo que não tenha considerado as condições climáticas dentro da realidade que a aeronave enfrentou durante o voo. Ou esse plano foi mal elaborado, não considerou os parâmetros climáticos, ou não foi atualizado ao longo do voo, porque essas condições podem se modificar”, explanou.

Quando o piloto encara condição adversa que supera a capacidade daquela aeronave, ele tem que se desviar, fazer o desvio da aeronave dessa tormenta, dessa tempestade e em alguns casos até fazer um pouso de emergência no aeroporto que ele sempre tem no seu plano de voo como possibilidade de pouso de emergência.

Além disso pode ter havido falha qualquer de operação, ou, mesmo, de fatores humanos, como a consciência situacional do piloto e do copiloto falharem no sentido de não perceberem a situação da aeronave em relação ao horizonte, em relação à altitude, em relação às condições climáticas e alguma manobra errada ser feita.Gerardo Portela, engenheiro especialista em risco e segurança, em entrevista ao Olhar Digital

“Além disso, é possível que algum equipamento da aeronave tenha falhado. Existem vários equipamentos importantes obviamente numa aeronave, sistemas hidráulicos, sistemas de aviônica que é a eletrônica do avião que precisam estar íntegros durante o voo, porque, na falha deles, isso pode causar sim um descontrole e, até mesmo, um estol”, prosseguiu.

Mapa de radar do avião no instante em que caiu
Mapa mostra trajetória do avião até o momento em que muda bruscamente a rota e cai (Imagem: Reprodução/FlightRadar)

Peterka disse que a forma como o avião caiu é chamado de parafuso chato, que difere do parafuso normal:

Parafuso normal é de cabeça para baixo rolando, girando, vocês podem ver em acrobacias aéreas, e o parafuso chato é o avião girando, mas com ele na horizontal, e é difícil tirar o avião dessa posição, então, aparentemente, pode ser um dos fatores que contribuíram. Roberto Peterka, especialista em segurança de voo, em entrevista ao Olhar Digital

O especialista informou ainda que o acúmulo de gelo na asa pode se desolcar onde batem as moléculas de ar, passando por cima ou por baixo da asa, não dando sustentação e criando uma “sombra” na parte de trás da asa, onde ficam os controles do avião. Há um alerta na cabine para formação de gelo nas asas, segundo Peterka.

Por isso é que esse avião, por estar certificado para voar, devia ter equipamento que elimina esse gelo acumulado. À medida que vai acumulando, ele, ou liga o equipamento elétrico que faz um aquecimento em todo o bordo de ataque, ou existe um outro sistema pneumático que vai correndo por dentro da asa e vai quebrando o gelo, para a asa voltar a ser um aerofólio, como ele é projetado, visando dar sustentação. Roberto Peterka, especialista em segurança de voo, em entrevista ao Olhar Digital

Peterka também disse que, na altitude na qual o avião estava antes de cair, a temperatura externa costuma ser de cerca de -50 ºC. Além disso, informou que é difícil estimar o tempo que a investigação vai durar.

Quanto tempo é difícil dizer, porque são muitas variáveis. Os psicólogos vão ter que levantar os perfis psicológicos dos pilotos e vai ter que fazer uma análise das questões fisiológicas dos últimos exames que eles fizeram. A leitura da caixa preta, por exemplo, pode ser que não tenha aqui no Brasil, tendo que ser levado para a França, para o fabricante, é acompanhado pelo pessoal do Cenipa. Lógico e, se for o caso, acompanhado por uma autoridade policial e fazer a degravação lá na França. Roberto Peterka, especialista em segurança de voo, em entrevista ao Olhar Digital

Portela comentou sobre a segurança do ATR-7250, indicando que esse modelo é seguro para voar.

O ATR 7250 já é considerado uma aeronave, como toda aeronave homologada, confiável, segura, desde que operada dentro de um rigoroso programa de manutenção e com as boas práticas de pilotagem e direciamento de voo. Isso inclui plano de voo adequado às limitações que toda aeronave possui e a manutenção, estando em dia, além dos equipamentos da aeronave e uma pilotagem correta e adequada, uma boa gestão de voo. Gerardo Portela, engenheiro especialista em risco e segurança, em entrevista ao Olhar Digital

“É verdade que de perda de vidas humanas, mas são por meio dos próprios acidentes que a gente consegue fazer o aprendizado das investigações e gerar as recomendações após o acidente. Essas sim é que são as únicas coisas que nós podemos aproveitar de uma tragédia como essa. É aprender para que não se repita novamente a mesma tragédia”, finalizou Portela.

Gráfico mostrando constância do voo
Gráfico mostra constância do voo; percebe-se a queda brusca de velocidade em três oportunidades e a queda (Imagem: Reprodução/FlightAware)

Descubra mais sobre Jornal Alfredo Wagner Online

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.